À maneira dos “lobos”

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Portugal estreou-se no Campeonato do Mundo 2023 e há, claramente, duas formas diferentes de falar sobre esse jogo. De um lado temos a forma tradicional portuguesa (muito ouvida durante a semana), que diz que o jogo ficou 28-8, mas (há sempre um “mas”), que se o Samuel Marques tivesse convertido as duas penalidades e o ensaio já eram mais oito pontos para Portugal. E que se não tivesse havido aquele último ensaio praticamente na bola de jogo, então os galeses tinham ficado por 21 pontos, contra os tais 16 de Portugal.

Por isso, o jogo praticamente ficou 21-16, o que seria um resultado excelente. Por isso, o Mundial está feito. E, quem sabe, até pode dar uma escolta de F-16 à chegada a Lisboa ou uma recepção num qualquer palácio governamental.

Do outro, temos a forma dos “lobos”, personificada na excelente entrevista no final do capitão Tomás Appleton (um dos grandes momentos do jogo), a antítese da forma “pequenina” e cheia de vitórias morais com que alguns portugueses têm tendência para abordar estes momentos.
Tomás Appleton, que esteve os 80 minutos em campo a um bom nível, diga-se, naquele que foi um dos melhores jogos da história do râguebi nacional, disse que “estava orgulhoso, especialmente do percurso até ali e do ambiente do jogo, não tanto do resultado”. Depois começou a preparar o futuro, dizendo que “a performance da equipa não tinha estado bem no nível que queriam” e “que tinham bastantes coisas a corrigir” para voltarem (ainda) mais fortes.

E esta forma é a única que permite melhorar. Que permite abordar francamente os erros (e não discutir culpados) e avançar. E, passo a passo, construir uma equipa ainda mais competitiva. E é essa evolução, essa ambição pela excelência, essa busca pela superação que os deixa mais perto de “inspirar as novas gerações a vir para o râguebi”. E, acrescento eu, inspirar um país com um exemplo de que, aconteça o que acontecer, não há desculpas. Há trabalho.

E é com esta ambição e profissionalismo que acredito que tenha sido encarado o jogo de hoje com a Geórgia. Muito diferente de Gales, toda a equipa sabe que será uma batalha ainda maior. Porque a Geórgia quer (precisa??) de mostrar que é de um nível superior a Portugal, e irá encarar o jogo como se de uma final se tratasse.

E, hoje em dia, a Geórgia é muito mais do que o râguebi físico de oito homens que era há alguns anos. Sem perder a sua enorme fisicalidade, assente em excelentes fases estáticas, a Geórgia de hoje é uma equipa que consegue criar dificuldades também pelas linhas atrasadas com dois poderosos centros (Sharikadaze e Kveseladze) que exploram, muitas vezes bem, os seus pontas rápidos e físicos.

Por isso, hoje, teremos, possivelmente, o jogo mais difícil do Campeonato do Mundo. Será uma batalha em que cada jogador precisa de ser a melhor versão de si mesma e um exemplo de coragem para o homem ao seu lado. Mas serão 80 minutos em que podemos alcançar o que nunca alcançámos até agora – a primeira vitória num Mundial.
E é o facto de não ter medo de verbalizar essa ambição que nos deve inspirar nesta selecção. É difícil, mas não impossível.

Sejamos nós, portugueses, capazes de ter a ambição e frontalidade desta equipa e de os apoiarmos em mais esta batalha rumo à excelência!

Força Portugal!

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