FC Porto voltou a fazer do “chuveirinho” uma arte
Tal como frente a Arouca, Rio Ave e Farense, o FC Porto mostrou que os minutos finais ainda são jogo, com um triunfo já depois dos 90’. Já lá vão sete pontos conquistados nos “fora de horas”.
Boa entrada em campo, fragilidades do adversário aparentemente bem identificadas, boa exploração dessas fragilidades, dinâmica, oportunidades de golo e golo. Foi isto que começou por ser o desempenho do FC Porto, neste sábado, no triunfo (2-1) frente ao Gil Vicente.
Mas tudo mudou depois desse quarto de hora inicial. O Gil Vicente corrigiu as suas lacunas e tornou o jogo portista mais previsível e fácil de anular, aproveitando um erro de David Carmo para empatar o jogo.
O FC Porto colocou-se a jeito para um deslize, mas voltou a conseguir um golo na parte final da partida, já em período de tempo adicional – e esse golo dá ao resultado alguma justiça, mesmo que o Gil tenha tido ocasiões de golo interessantes. E o FC Porto continua a mostrar que o "chuveirinho", em fase de menor clarividência técnica, não tem de ser uma arte menor, com mais um golo numa bola aérea nos minutos finais.
Bem estudado
Um olhar para dados estatísticos da I Liga permitia perceber que o Gil Vicente é das equipas que mais cruzamentos permitem aos adversários e das que menos bolas recuperam no terço ofensivo. Daqui poderia prever-se que o FC Porto, teria muita largura para explorar.
Esta ideia ficou ainda mais clara ao ver-se que o Gil não adoptaria uma linha de cinco a defender, “oferecendo” de forma clara a largura no seu 4x3x3, preferindo ter o bloco defensivo muito estanque na zona central, de alas e laterais bem fechados.
E o FC Porto parecia ter essas indicações bem sabidas. Logo aos 2’ houve apelo à largura com cruzamento de lateral a lateral, aos 3’ houve nova jogada da direita à esquerda, com remate de Wendell, e aos 6’ houve Galeno a alargar o jogo na largura, com remate do lado oposto de Franco para defesa de Andrew.
A receita estava a ser clara e a forma como apareceu o 1-0 não surpreendeu. Houve jogada de um lado ao outro, de Galeno a João Mário. Não deu para o lateral entrar em progressão ou cruzamento? Sem problema. A equipa rodou rapidamente a bola para o lado contrário, dando novamente a bola a Galeno – passe de Wendell entre o ala e o lateral, ambos muito por dentro. Galeno cruzou para Taremi, que assistiu Jaime de calcanhar.
O FC Porto estava a rodar a bola de um lado ao outro e o Gil, que “oferecia” esse jogo, não estava confortável.
Até que a opção pareceu ser um recuo das linhas, com os alas claramente mais perto dos laterais, para assegurarem a cobertura aos laterais do FC Porto. E isso “empenou” o futebol dos portistas.
O Gil estava menos exposto e a posse de bola do FC Porto, quase sempre estéril, permitia até alguma audácia dos minhotos em momentos de maior lentidão dos centrais dos “dragões”. Lentidão ou falta de engenho técnico.
Aos 37’, com o FC Porto de extremos e laterais bem abertos, David Carmo não leu essa disposição da equipa e arriscou um passe interior, que saiu mal medido. Erro técnico somado a equipa aberta deu, naturalmente, recuperação e transição para um Gil Vicente que precisa de pouco para marcar: é, de longe, a equipa da I Liga que mais supera o seu valor de golos esperados. Foi Martim Neto a fazer o passe final e Depu a finalizar.
Os gilistas ainda tiveram mais uma boa oportunidade, numa fase em que o entusiasmo com o golo fazia a equipa levar mais gente para o ataque – Neto, médio-centro, juntou-se a Félix no corredor, para um dois contra um perante João Mário, que nada pôde fazer para evitar um bom cruzamento e um cabeceamento para fora de Depu.
Oportunidades para todos
Aos 53’, o Conceição aproveitou o aparente problema físico de Varela para “afundar” mais o Gil, ao colocar um avançado ao lado de Taremi que seduzisse o adversário a baixar mais as linhas. Foi, aliás, dessa forma que o FC Porto já somou pontos em três partidas nesta temporada, com golos obtidos com o adversário remetido à sua área.
Essa maior presença ofensiva deixou Jaime, Taremi e Eustáquio perto do golo em três lances confusos e criados precisamente pela força dos números – mais jogadores na área, maior probabilidade de bolas “perdidas” sobrarem para atacantes portistas.
Não se pense, ainda assim, que o FC Porto adoptou um “chuveirinho” com mais de meia hora por jogar. A equipa continuou a tentar fazer rodar a bola de um lado ao outro, mas o espaço que havia nos corredores nos primeiros 15/20 minutos já tinha deixado de haver, pela maior colaboração dos extremos do Gil.
Só no último quarto de hora houve claro “assalto” à área do Gil, com a equipa minhota cada vez mais recuada e com uma linha de cinco a defender e outra de quatro logo à frente.
O FC Porto já tinha Gonçalo Borges e Francisco Conceição em campo, sinal de que era preciso talento para desbloquear uma defesa bem fechada – e foi com jogada do primeiro e finalização do segundo que o FC Porto esteve perto do golo, segundos depois de o Gil, numa rara transição na segunda parte, também ter testado Diogo Costa.
Aos 90+1', numa bola aérea, Eustáquio fez o 2-1, de cabeça, após um livre. Algo que não surpreende, não só pela força portista nestes momentos do jogo como pela fragilidade do Gil no jogo aéreo - segundo o Who Scored, é a equipa mais fraca da I Liga nesse domínio.