No aniversário do P3, os testemunhos de quem cresceu com ele

É o nosso 12.º aniversário e fomos ouvir quem também fez do P3 aquilo que é: da política à ciência, passando pela fotografia, estas são as personalidades que cresceram connosco.

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O P3 está de parabéns: são já 12 anos de histórias, de causas, de megafones. Para celebrar, escolhemos algumas personalidades que passaram pelas nossas páginas ao longo destes anos. Da política à ciência, passando pela fotografia (muita fotografia!), estas pessoas também fizeram o P3 e quiseram deixar-nos os seus testemunhos. E como não podias ficar de fora, também queremos ouvir as tuas histórias. Obrigado por estares desse lado — e que venham mais 12 anos!

Mariana Mortágua, política

Não terá sido a primeira notícia que li no P3, mas ficou-me na memória: há quase dez anos, quando nos tentavam convencer de que a austeridade era inevitável e a culpa da crise era dos nossos avós, publicava-se neste espaço a história de três artistas precários que, aos trinta e poucos anos, viviam com menos de 500 euros por mês. Foi isto que o P3 nos trouxe: mesmo quando a política mediática se prende em pequenas intrigas e grandes truques, aqui encontramos sempre o rosto das gerações precárias, dos jovens emigrados, daqueles para quem o salário não paga a casa. Mas encontramos mais: a cultura que desafia o conservadorismo de sentido único, as identidades insubmissas, a voz de quem não aceita uma vida sempre adiada. Têm sido bonitos estes 12 anos do P3. Que venham mais.

Mário Cruz, fotógrafo e director do espaço Narrativa

O P3 é, para mim, uma plataforma interessante que se destaca pela visibilidade que dá a diferentes áreas da cultura. Em relação à fotografia, é particularmente importante porque não existe outro site ou órgão em Portugal que publique, de forma tão regular, trabalhos de fotografia – muitos dos quais de autores emergentes que nunca veríamos caso não tivessem tido espaço no P3. É extremamente raro, no panorama geral dos media, o destaque individualizado que o P3 dá a cada autor, assim como a frequência com que artigos exclusivamente centrados na fotografia são publicados. Isso é algo a que dou bastante valor.

Relativamente à Narrativa, projecto que dirijo em Lisboa, eu acho que a ligação com o P3 é extremamente positiva. Diria até que é natural, porque partilhamos interesses mútuos. Tanto a narrativa como o P3 pretendem partilhar a fotografia como forma de expressão e comunicação e, nesse sentido, para mim tem sido extraordinário ver tantos autores que passam pela Narrativa a serem publicados pelo P3. As sucessivas exposições que também passam pela galeria da Narrativa acabam por sair beneficiadas pelo poder de comunicação que o P3 conquistou ao longo do seu percurso.

Nuno Maulide, cientista

Quando o meu perfil foi destacado no P3, senti gratidão pela oportunidade de ser apresentado como parte de uma comunidade talentosa aos leitores de um jornal de referência em Portugal. Esta exposição abriu portas para novas colaborações e estou grato por ter tido a oportunidade de contribuir para uma plataforma que celebra histórias inspiradoras e carreiras interessantes entre portugueses.

Gui Christ, fotógrafo

O meu trabalho é documentar, com recurso à fotografia, a realidade da América Latina, sobretudo das periferias culturais e sociais, e o meu principal foco está no Brasil. Com o P3 estabeleci uma relação de parceria, de reciprocidade e troca, difícil de encontrar, nos dias hoje, no jornalismo. Graças a essa parceria, pudemos dar voz a temas que muitas vezes não interessam tanto aos brasileiros que moram no Brasil. Acontece que, quando esses temas chegam à imprensa internacional, ocorre um fenómeno de eco que faz com que se tornem interessantes no Brasil. É uma questão cultural.

A propósito disso, posso contar uma história relacionada com uma reportagem da minha autoria e do jornalista Ed Wilson Araújo que foi publicada, em primeira mão, no P3, em 2022. Devido ao impacto ambiental de uma acção levada a cabo pela empresa EDP Energias do Brasil S.A. na Amazónia maranhense, 434 pescadores da região viram decrescer a quantidade de peixe disponível na região e viram, assim, ameaçada a sua subsistência. O problema afecta-os até hoje, já não conseguem lá pescar. Mas a notícia publicada no P3, parte de um jornal português, chegou até à região, colocou pressão política e gerou resultados.

Na sequência da notícia, os políticos locais valorizaram o tema e mobilizaram-se para ajudar a comunidade, criando um programa de apoio à aquacultura. Hoje, as pessoas estão a receber ajudas de custo do governo para poderem produzir o peixe que já não existe na natureza. O P3 teve um papel importante também na obtenção da bolsa que tornou possível a realização do projecto, ao tornar oficial o seu apoio institucional junto do Pulitzer Center. Sem esse apoio não teria sido possível. Além disso, as fotografias foram premiadas pelo LATAM Picture of the Year, o prémio de fotojornalismo mais relevante da América Latina e expostas nos Estados Unidos.

Nelson Nunes, escritor

Escrever crónicas semanais não é uma tarefa que se aceite de ânimo leve. Primeiro, há a necessidade de ter um tema semana sim, semana sim. Depois, há a disciplina de estar ao computador àquela hora, com aquela deadline. Além disso, há o sentido de responsabilidade para com a verdade, fugindo ao máximo da injustiça que as palavras precipitadas podem causar.

Ultrapassada a exigência deste artesanato, tudo é bênção. Logo a começar pelo facto de haver quem nos leia. Depois, porque a prática melhora o resultado final. E sei que a minha escrita e o meu percurso enquanto escritor só foram possíveis graças ao traquejo que fui ganhando ao longo de anos a escrever para o P3. Mas, mais importante ainda, o que o P3 me deu foram os milhares de leitores, ao longo de dez anos. E não há nada que dê mais alento a um escritor do que haver quem o leia.

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Mag Rodrigues, fotógrafa

Foi no P3 que o meu primeiro projecto fotográfico foi publicado — Subsolo: profissões invisíveis de um hospital. Estávamos em 2018. Senti uma alegria imensa ao descobrir que a plataforma acreditou neste trabalho. A partir daí, criou-se uma bonita parceria — o P3 esteve sempre disponível para continuar a publicar imagens de trabalhos que se seguiram. Está atento e receptivo ao que acontece no mundo. Obrigada e feliz aniversário, P3!

David Sobral, cientista

O P3 tem trazido, e continua a trazer, novos e diferentes olhares que rejuvenescem a forma colectiva de vermos o mundo, o país e a nossa sociedade. Que nos iluminam problemas, que propõem soluções. Foi um privilégio imenso ter descobertas minhas explicadas no P3 de uma forma clara e para todos, e, mais ainda, ter tido espaço para opiniões e reflexões.

Cláudia Lucas Chéu, escritora, cronista, dramaturga e argumentista

Há mais de quatro anos que escrevo semanalmente contos para o P3. A exigência da prática semanal neste cânone literário tem sido bastante importante para o desenvolvimento do meu trabalho. Parabéns, P3, por mais um aniversário. Desejo uma longa existência ao P3 que tanto tem oferecido aos seus leitores e leitoras.

Joan Alvado, fotógrafo

Eu publiquei o meu trabalho no P3 em três ocasiões: em 2018, A Escola de Pastores, em 2020, The Last Man on Earth e, em 2023, The Cave. Na sequência da publicação do segundo projecto, o estúdio de arquitectura FAHR 021.3, do Porto, que tinha visto o artigo, convidou-me para fazer uma residência no Alto Minho. O estúdio decidiu, em conjunto com o Município de Arcos de Valdevez, que eu era a pessoa certa para documentar o território, que era o artista que queriam ter em residência. O projecto Os Baptismos da Meia-Noite, que faz o retrato místico daquela região, nasce, em parte, a partir dessa residência, que decorreu entre Outubro e Dezembro de 2021. O projecto já se materializou em fotolivro e já foi exposto em inúmeros lugares — e publicar no P3 foi o motor da cadeia de acontecimentos que tornou isso possível.

Rui Pedro Paiva, jornalista

Setembro de 2018. Primeiros dias de estágio. Uma manifestação de estudantes durante a noite em frente à reitoria devido ao preço da habitação. Não se sabia bem o que ia dar, mas lá fui. Sem compromisso. Acabei por ficar horas e horas a ouvir queixas, a apanhar testemunhos e a recolher relatos. Até de madrugada. De manhã, a excitação superou o sono. Afinal, tinha uma história para contar. Havia gente a reclamar uma voz. A reportagem acabou por ser uma das mais lidas do P3 naquele ano. Iniciar a profissão sem amarras e preconceitos determinou o resto. Para mim, o P3 sempre foi isso. O espaço da liberdade. Do rasgo e da criatividade. Do inconformismo. De tratar todos por tu. Parabéns, P3!

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