Américo Aguiar confirmado bispo de Setúbal

Vaticano divulgou a escolha a poucos dias de o ainda bispo auxiliar de Lisboa ser nomeado cardeal. A posse do novo bispo está prevista para o final de Outubro.

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Américo Aguiar completa 50 anos de idade em Dezembro Rui Gaudêncio (arquivo)
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A diocese de Setúbal aguardava pela nomeação de um novo bispo desde o final de Janeiro do ano passado e a demora de 600 dias na nomeação do substituto de D. José Ornelas começava a deixar muita gente exasperada, mas poucos esperariam que o escolhido para o lugar fosse Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

A escolha foi formalizada esta quinta-feira de manhã pela Santa Sé, a poucos dias de Américo Aguiar ser elevado a cardeal, num consistório que está marcado para o dia 30 de Setembro em Roma e após o qual Aguiar passará a ser o quarto cardeal português com direito a voto num futuro conclave - os restantes são D. Manuel Clemente, D. António Marto e D. José Tolentino Mendonça.

Na primeira reacção que fez chegar às redacções, o ainda bispo auxiliar de Lisboa disse ter aprendido a “não fazer muitos planos”. E, evitando fazer promessas, predispôs-se a honrar a memória de D. Manuel Martins, o primeiro bispo da diocese de Setúbal (entre 1975 e 1998), como ele nascido em Leça do Balio, no concelho de Matosinhos, prometendo copiar-lhe o “caminho de entrega, de fidelidade, de capacidade de levar o anúncio do Evangelho, acreditando de corpo e alma que a justiça e a paz são fruto da acção de Deus”.

Dizendo ter aprendido durante a preparação da JMJ 2023 que “nada se consegue de forma isolada ou solitária”, o bispo que está à beira de completar 50 anos de idade e que chegou a ser apontado como um dos possíveis sucessores de D. Manuel Clemente no Patriarcado de Lisboa (num cargo para onde foi, entretanto, nomeado D. Rui Valério) diz que chega a Setúbal “de coração aberto” e convencido de que “é possível construir um mundo mais justo, mais fraterno, mais transparente”.

Recuperando algumas das mensagens que o Papa Francisco deixou em Portugal durante a JMJ, entre 1 e 6 de Agosto, nomeadamente a defesa de uma Igreja para “todos, todos, todos”, D. Américo Aguiar não explicou se continuará no cargo de presidente do Conselho de Gerência do Grupo Renascença Multimédia, um dos muitos cargos que ocupa: é provedor do doente no Hospital de São João, no Porto, e capelão nacional na Liga dos Bombeiros Portugueses, além de ter sido presidente da Irmandade dos Clérigos entre 2011 e 2020.

Nascido em 12 de Dezembro de 1973, Américo Manuel Alves Aguiar entrou no Seminário Maior do Porto em 1995, isto é, com 22 anos de idade, já depois de se ter licenciado em Teologia com um mestrado em Ciências da Comunicação. Para trás deixou uma curta actividade como deputado municipal pelo PS em Matosinhos, onde terá chegado pela mão de Narciso Miranda. Depois de ter sido ordenado padre, em 2001, chegou a ser pároco de Campanhã, uma das freguesias mais carenciadas da cidade do Porto, antes de ter sido escolhido como chefe do gabinete de informação da Diocese do Porto, onde esteve entre 2002 e 2015, durante os episcopados de D. Armindo Lopes Coelho, D. Manuel Clemente e D. António Francisco dos Santos.

No Patriarcado de Lisboa, para onde foi chamado pelo cardeal-patriarca emérito D. Manuel Clemente, dirigiu o jornal diocesano e o departamento de comunicação do patriarcado. Acabou por ser nomeado bispo em Março de 2019.

Apesar da sua formação na área da comunicação, D. Américo Aguiar enreda-se frequentemente em polémicas como quando, na qualidade de responsável máximo da comissão diocesana de protecção dos menores e adultos vulneráveis do Patriarcado de Lisboa defendeu, em declarações ao PÚBLICO em Outubro de 2021, que uma eventual investigação aos abusos sexuais de menores não se poderia circunscrever à Igreja Católica em Portugal, dada a “transversalidade” do crime em questão.

Mais recentemente, no final de Janeiro deste ano, procurou demarcar-se do escândalo desencadeado pelo avultado custo do altar-palco concebido para receber o Papa no Parque Trancão-Tejo, alegando que desconhecia que o mesmo tinha um custo estimado de cinco milhões de euros e dizendo-se mesmo "magoado" com os valores em cima da mesa.

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