Banco de Inglaterra mantém taxa nos 5,25%, após quase dois anos de subida
Após uma sequência de 14 aumentos desde Dezembro de 2021, a autoridade monetária optou por uma pausa, na sequência de uma votação dividida, e que segue o exemplo da Reserva Federal dos EUA.
O Banco de Inglaterra decidiu esta quinta-feira manter a taxa de juro nos 5,25%, interrompendo o mais agressivo ciclo de subida em cerca de 30 anos. É a primeira pausa após 14 subidas consecutivas durante quase dois anos, uma sequência que conduziu o valor de referência de 0,1% para o valor actual, que assim se manterá pelo menos até à reunião de Novembro. Há sinais de impacto negativo na economia e no emprego que levam a temer uma recessão, tendo o banco revisto em baixa a previsão de crescimento do PIB trimestral de 0,4% (previsão de Agosto) para 0,1%.
A votação final no órgão que decide a política monetária foi bastante dividida, terminando com um 5-4 a favor de uma pausa. Na véspera, a Reserva Federal dos EUA também decidira no mesmo sentido, mantendo a taxa de referência no intervalo 5,25%-5,5%.
Segundo o comunicado oficial do Banco de Inglaterra, quatro membros da comissão de política monetária queriam um novo aumento de 0,25 pontos percentuais, para 5,5%. Mas numa altura em que crescem os receios de uma recessão, outros cinco votaram a favor da manutenção da taxa nos 5,25%, que fora fixada no início de Agosto, com o governador do banco, Andrew Bailey, a desempatar a votação a favor da pausa, quando o resultado estava em 4-4.
Foi a primeira vez desde Dezembro de 2021 que a autoridade monetária do Reino Unido decidiu não subir a taxa de juro. Tal sucede apenas 24 horas depois de uma surpreendente mas ligeira descida da inflação. Os analistas esperavam uma subida em Agosto, face aos 6,8% apurados para Julho, mas, contrariamente, o aumento dos preços desacelerou, com a inflação a descer para 6,7%, de acordo com o resultado divulgado na quarta-feira.
As autoridades inglesas não estão, porém, convencidas, de que os preços vão baixar ou de que a subida dos preços desacelere nos tempos mais próximos, mantendo em aberto a possibilidade de retomar o ciclo de subida da taxa de juro, caso a inflação volte a afastar-se do valor-objectivo, que ronda os 2%.
Porém, para já, uma maioria de membros da comissão de política monetária preferiram uma pausa, tendo em conta expectativas económicas mais sombrias da evolução do PIB no terceiro trimestre, que está prestes a terminar.
“Há sinais crescentes de algum impacto da política monetária restritiva no mercado de trabalho e na evolução da economia em termos gerais”, lê-se no comunicado.
“Os sinais de fraqueza mais claros continuam a vir do sector da habitação, com o investimento e os indicadores de preço da habitação em queda, a par de um baixo nível de transacções. Os indicadores recentes de consumo mostraram menos sinais de estarem a suavizar, com a confiança dos consumidores a recuperar em Agosto e os salários reais a crescer. Mas os indicadores empresariais relativos a custos e investimento têm estado a baixar nos últimos meses, com um número crescente de empresas a manifestar preocupações com as taxas de juro. Também o índice de produção industrial tem estado a cair de forma acentuada em tempos mais recentes, reflectindo em parte a evolução mundial”, resume a entidade.
Neste quadro, em vez de continuar a subida da taxa, a opção da maioria foi a de esperar para ver. A ideia é deixar que esta política monetária restritiva continue a produzir os seus efeitos, adiando um eventual agravamento, caso a realidade demonstre que subir a taxa de 0,1% para 5,25% em menos de dois anos ainda não é suficiente para combater a subida dos preços.
O banco acredita que a inflação poderá cair, numa trajectória influenciada por subidas menos acentuadas nos produtos energéticos, e isto apesar da actual pressão sobre o preço do petróleo, que tem estado a subir. No entanto, também acrescenta, em jeito de alerta, que a inflação nos serviços deverá permanecer alta. Para já, aguarda-se pelos dados da evolução. E, se for necessário, retoma-se a subida.
“Será necessária uma política mais restritiva, se houver provas de uma pressão inflacionária mais persistente”, lê-se no comunicado final, sublinhando que esta opção de política monetária se prolongará de forma “suficientemente restritiva e por um período suficientemente longo” que permita trazer a inflação para os 2%.
“Não há espaço para comodismo. Temos de assegurar que a inflação regressa ao normal e continuaremos a tomar as decisões necessárias para que isso aconteça”, frisou Bailey, numa declaração citada pela agência Reuters.
Na semana anterior, o Banco Central Europeu decidiu prosseguir com o ciclo de aumento da taxa de juro, tendo, porém, sinalizado que pode em breve haver uma pausa na área do euro.
Na reunião de Setembro, o Banco de Inglaterra também decidiu acelerar o ritmo de redução dos títulos de dívida pública que comprou, de forma maciça, nos últimos 15 anos. O objectivo é baixar o stock em 100 mil milhões de libras nos próximos 12 meses, o que significaria uma redução superior em 25% face ao ritmo do ano passado, quando cortou 80 mil milhões de libras nesse mesmo stock.
A concretizar-se, o banco baixará estes activos, através de uma combinação de venda de títulos em mercado e conversão de títulos que estão prestes a vencer, para 658 mil milhões de libras.