Forças separatistas aceitam cessar-fogo e desarmamento em Karabakh

Ao segundo dia de bombardeamentos do Azerbaijão no enclave, separatistas arménios cedem em toda a linha. Negociações para uma solução definitiva agendadas para quinta-feira.

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Bombardeamentos do Azerbaijão começaram na terça-feira EPA/SARGSYAN/OC MEDIA HANDOUT
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O Azerbaijão avisou que não iria recuar ou pôr um travão àquilo que dizia ser uma “operação antiterrorismo” na região separatista de Nagorno-Karabakh e, pelo segundo dia consecutivo, bombardeou o enclave. Em resposta, as forças militares da autoproclamada república de Artsaque, pró-Arménia, anunciaram nesta quarta-feira a sua dissolução e a aceitação da “proposta do comando do contingente de manutenção de paz russo para um cessar-fogo”.

Além da “cessação das hostilidades a partir das 13h do dia 20 de Setembro de 2023”, refere um comunicado dos separatistas, citado pelo Guardian, as forças separatistas concordam “com a retirada dos destacamentos e dos soldados das Forças Armadas arménias da zona de mobilização do contingente de manutenção de paz russo; com a dissolução e o total desarmamento das unidades do Exército de Defesa de Nagorno-Karabakh; e com a retirada de material de guerra pesado e de armas do território”.

Os representantes das autoridades do enclave e do Governo azerbaijano vão reunir-se em Ievlakh, no Azerbaijão, para negociarem uma solução definitiva para os confrontos dos últimos dois dias. Resta saber se também irão comprometer-se com uma solução constitucional duradoura para o território.

Este desfecho aparenta ser uma capitulação extraordinária das forças separatistas de Nagorno-Karabakh às exigências de Bacu, que, num comunicado divulgado nesta quarta-feira de manhã, tinha insistido em que só iria parar os ataques quando “as formações militares arménias” içassem “uma bandeira branca” e dissolvessem o “regime ilegal” do enclave.

Segundo as autoridades de Karabakh, pelo menos 27 pessoas morreram, incluindo dois civis, e há mais de 200 feridos. Bacu garantiu, porém, que apenas estava a atacar “alvos militares legítimos”.

O Governo arménio sempre disse que não tinha soldados seus envolvidos nos combates, e Nikol Pashinyan, primeiro-ministro da Arménia, acusou o Azerbaijão de estar a levar a cabo uma “limpeza étnica” no território.

“Trata-se de uma grande guerra. O Azerbaijão deu início a uma ofensiva total”, denunciou Ruben Vardanyan, antigo líder da região separatista, em declarações à Reuters. “Eles [azerbaijanos] estão basicamente a dizer-nos que temos de sair, que não podemos ficar, ou então que aceitemos que isto faz parte do Azerbaijão. É uma típica operação de limpeza étnica.”

Karabakh é reconhecido internacionalmente como parte integrante do território do Azerbaijão. Mas uma área considerável do enclave montanhoso é governada por forças separatistas que contestam a soberania azerbaijana e que dizem zelar pela protecção de cerca de 120 mil cidadãos de ascendência arménia que lá residem.

O conflito começou no início dos anos 1990, após a desintegração da União Soviética, e teve o último capítulo de confronto armado em 2020, quando o Azerbaijão, apoiado pela Turquia, reconquistou algum território, antes de as partes concordarem com um cessar-fogo, mediado e monitorizado pela Federação Russa – cujos soldados participam, agora, na evacuação das localidades mais próximas da linha dos ataques.

O Kremlin, que confirmou o acordo de cessar-fogo, foi, precisamente, um dos primeiros governos estrangeiros a apelar ao fim dos ataques azerbaijanos iniciados na terça-feira. Num comunicado publicado no Telegram, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo pediu às “partes em conflito para pararem imediatamente o derramamento de sangue, pararem as hostilidades e pararem de fazer vítimas civis”.

Já Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano, informou que conversou com o Presidente azerbaijano, Ilham Aliyev, e que o “instou a cessar imediatamente as acções militares em Nagorno-Karabakh”.

“É fundamental que o Azerbaijão acalme a situação para promover uma resolução pacífica para o conflito”, escreveu o chefe da diplomacia dos Estados Unidos no X (antigo Twitter).

Na mesma linha, num comunicado divulgado pelo seu porta-voz, Stéphane Dujarric, António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, pediu, “com toda a veemência, o fim imediato dos combates” e o “cumprimento mais rigoroso do cessar-fogo de 2020 e dos princípios do direito internacional humanitário”.

Também a União Europeia, através do alto representante para a Política Externa e Segurança, Josep Borrell, pediu o “regresso do diálogo entre Bacu e os arménios do Karabakh”.

“Esta escalada militar não pode ser usada como pretexto para forçar o êxodo da população local”, sublinhou, num comunicado, acrescentando que Bruxelas tem disponibilidade total para “facilitar o diálogo”.

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