A espécie de aliança Governo-Ventura está bem e recomenda-se

Mesmo com o Governo rodeado de crises, não haverá alternativa enquanto não existir uma liderança do PSD que consiga acabar com o fenómeno Ventura, que até já quer ser líder do grande partido

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Quem ganhou com a moção de censura do Chega? Muitos já tinham previsto o que, de facto, aconteceu: António Costa passeou-se na sala das sessões parlamentares (desta vez, sem demonstrar excessiva simpatia a André Ventura, antes pelo contrário) e divertiu-se, sem exagerar no tom festivo, à conta de uma direita fracturada.

Mesmo com o Governo rodeado de crises por todos os lados, não haverá alternativa enquanto não existir uma liderança do PSD que consiga acabar com o fenómeno Ventura que, na tarde desta terça-feira, até dizia já querer ser líder, em simultâneo, do PSD e do Chega: “Às vezes penso que devia liderar o PSD e o Chega ao mesmo tempo”.

Tudo isto contra “a direita piegas” já que ele, Ventura, está pronto para se automutilar no caso de, por alguma razão, que ninguém está assim de repente a ver, fosse obrigado a governar com o PS. “Cortaria as duas mãos se alguma vez governasse com o PS. E cortaria muitas outras partes do corpo”. Deixou à imaginação dos deputados e do país quais eram as partes disponíveis para corte.

Enquanto o líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, se regozijava com o facto de o debate comprovar que “não há alternativa ao PS”, António Costa apontou, a responder a Ventura, uma das origens da crise da direita, que não a única. “O senhor deputado consegue ilustrar que o dr. Paulo Portas tem razão quando diz que o desaparecimento do CDS/PP desta Assembleia da República não trouxe mais ideias ao país, só trouxe mais gritaria ao país”, disse Costa, numa rara citação abonatória de um adversário político.

Na realidade, todos estavam de acordo que o Chega tinha ido ali para fazer uma espécie de milagre das rosas e transformar uma censura numa bênção. João Cotrim de Figueiredo – de quem Costa manifestou sentir “saudades” e provavelmente o eleitorado da Iniciativa Liberal também – assumiu que o partido iria votar a favor (ao contrário do PSD, que se absteve) disse que a censura do Chega era “infantil” e “um favor ao primeiro-ministro” e que Ventura oscila entre a “fanfarronice” e o papel de “Calimero”.

Mas também a IL tinha uma flechazinha dirigida ao PSD, que se abstém na censura, mas não esclarece o que fará com o Chega se formarem Governo. “A Iniciativa Liberal é a formação mais clara na sua política – queremos um governo novo e queremos o Chega longe desse Governo”.

Foi o debate em que António Costa admitiu que poderia ser privatizada a “totalidade” da TAP. A ser assim, o primeiro-ministro faz a tal “cambalhota” de que o acusou o bloquista Pedro Filipe Soares. Em 2015, quando eram todos muito amigos, reverteram a privatização levada a cabo pelo Governo de Passos Coelho.

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