Artista dinamarquês pegou no dinheiro que devia ter exposto e fugiu. Agora tem de o devolver

O dinheiro foi emprestado para uma obra sobre os salários na Dinamarca — mas o artista fugiu com ele. Agora foi condenado por um tribunal a devolver a maior parte da quantia (menos honorários).

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O artista enviou duas telas em branco, que o museu decidiu apresentar na mesma REUTERS

Era para ser uma obra de arte sobre os salários na Dinamarca, mas Jens Haaning, artista plástico, tinha outros planos em mente. Depois de ter recebido 70 mil euros em notas, que deveria ter usado para concluir a obra, fugiu com o dinheiro e entregou ao museu duas telas em branco. A obra — à qual chamou Take the Money and Run (ou "pega no dinheiro e foge", em português) — valeu-lhe uma condenação: vai ter de devolver a maior parte do dinheiro ao museu.

Um tribunal de Copenhaga divulgou, em comunicado, que decidiu que o artista tinha de pagar ao museu 492.549 coroas (cerca de 66.000 euros), o valor devido, deduzidos os honorários do artista e as custas do processo.

O caso remonta a 2021, quando o museu Kunsten de Aalborg, no oeste da Dinamarca, concordou em emprestar uma grande quantia em dinheiro a Jens Haaning, para que este pudesse reconstruir uma das suas antigas obras, onde apresentava um ano de salário na Dinamarca e na Áustria em notas dinamarquesas e euros. Os quase 70 mil euros deveriam ter sido coladas numa tela. Mas em vez disso, o museu recebeu duas telas em branco.

Haaning queria protestar desta forma pelas suas condições de trabalho, mas o museu, que incluiu duas obras na exposição, considerou que o artista tinha violado o acordo e deu-lhe um prazo para devolver o dinheiro — até ao encerramento da exposição (que aconteceu em Janeiro de 2022) — antes de recorrer aos tribunais.

O tribunal acabou a decidir a favor do museu, citando o contrato celebrado entre as duas partes, onde se lê que o valor devia ser devolvido no final da exposição. Para se alterarem estas condições, era necessária uma autorização escrita assinada por ambas as partes.

O director do museu, Lasse Andersson, explicou que decidiu apresentar as duas obras como parte da sua exposição sobre obra moderna, mas frisou que sempre foi intenção recorrer ao tribunal caso Haaning, 58 anos, não devolvesse o dinheiro.

Pelo seu trabalho, Haaning recebeu 10.000 coroas (cerca de 1340 euros), mais um bónus de exposição. O artista processou o Estado por violação dos seus direitos de autor, mas o tribunal não lhe deu razão.

Questionado pela televisão TV2 Nord, o artista considerou que o museu obteve "muito, muito mais" do que o dinheiro que investiu, nomeadamente graças à cobertura mediática do caso.

Haaning sustentou que apenas recriar as obras lhe custaram 25 mil coroas (mais de 3 mil euros) do seu próprio bolso e foi daí que surgiu a ideia de enviar as telas em branco. "Convido outras pessoas com condições de trabalho tão miseráveis como as minhas a fazerem o mesmo. Se têm um mau emprego, não lhes dão dinheiro e pedem que usem o seu para trabalhar, tiram-no do caixa e vão-se embora", defendeu o artista na altura.

Jens Haaning é um artista consagrado que já expôs em museus e galerias de Istambul, Viena, Dacar, Amesterdão, Estocolmo, Nova Iorque e Barcelona.