Uma vitória desperdiçada?
Na abertura do seu Mundial, Portugal fez um bom resultado - derrota por diferença menor (20 pontos) do que o então posicionamento de ambas as equipas no ranking mundial propõe (24 pontos) - contra o País de Gales que, apesar de uns últimos resultados pouco de acordo com o seu historial, pertence, desde sempre, ao melhor cinco europeu, e continua a ser uma selecção formada por jogadores habituados a um nível competitivo onde a intensidade faz regra e a adaptação à rapidez de movimentos obriga ao desenvolvimento de gestos técnicos eficazes.
E estes jogadores galeseses, apesar de se mostrarem, como é natural porque como equipa não se conhecem fora dos treinos, um colectivo falho de boas soluções, possuem no entanto uma experiência muito superior à dos jogadores que formam a equipa portuguesa — enquanto todos os jogadores galeses jogam nas divisões mais elevadas, os portugueses são limitados a um campeonato nacional sem nível competitivo capaz (16 jogadores) e os que jogam em França — tirando Madjer e Samuel Marques que já jogaram no Top 14 - jogam na 2.ª (11), 3.ª (2), 4.ª (1) e até na 5.ª (1) divisões francesas. O que significa que não são peças do mesmo mundo.
O resultado, a atitude e a exibição dos “lobos” terá assim - essa estória de que iríamos ganhar aos galeses não tinha, como não tem, qualquer sustentação e não passa de uma fabulação sobre uma realidade inexistente - que ser positivamente considerada. Mostramos, apesar das diversas inconsistências, saber jogar - o ensaio de Nicolas Martins depois de uma captação olímpica e um passe magistral a uma mão com desvio enganoso do olhar de Rafael Simões, é de enorme categoria numa manobra muito bem combinada (vai ser “roubada” por outras equipas…).
Mas não nos podemos colocar em patamares que estão muito longe da nossa realidade. Porque o nosso mundo - o que torna a prestação dos jogadores portugueses ainda mais valiosa - está noutro lugar. E para o perceber basta ver onde jogam, domingo a domingo.
Tudo correu bem?! Fora do faz-de-conta das aparências, não! Muita coisa está ainda longe de estar afinada e no seu devido lugar, faltando ainda muita construção e alterações conceptuais.
Mas há melhorias: menos colisão e mais manobra, mas ainda sem a capacidade de penetração desejável - apenas 53 ultrapassagens da linha-de-vantagem contra 90 dos adversários e, por isso a diferença entre os 373 metros de transporte da bola contra os 636 dos galeses -, porque falta à equipa a coesão do apoio.
E se melhorámos muito nos alinhamentos com 12 conquistas em 13 lançamentos e 2 “roubos”, já a formação-ordenada, pese a entrega e esforço de Francisco Fernandes, Mike Tadjer e Anthony Alves, tem ainda muito que melhorar e o “Força 8” que anda por aí ao dependuro tem de ser retomado — preparando os necessários substitutos. Naturalmente que fizemos mais placagens (156) do que os galeses (112), mas fomos menos eficazes: 76% contra 78%.
E tudo isto justifica o resultado final, que espelha a realidade da diferença das duas equipas: quatro ensaios a um.
Para podermos competir a este nível ainda nos falta muito. A começar por um campeonato interno suficientemente competitivo que possa habituar os jogadores a um nível elevado que lhes proporcione experiência em equipas estrangeiras de primeira categoria. Então sim, estaremos em pé de igualdade e poderemos exigir resultados contra as grandes equipas. Até lá…