Jornais Escolares
No jornalismo escolar, a verdade importa — e há uma nova plataforma para o mostrar
PÚBLICO na Escola apresentou esta quinta-feira a TRUE, uma plataforma de criação de jornais digitais, na conferência “O jornalismo escolar hoje”.
Quando Ari Ferreira decidiu juntar-se ao grupo que está agora a criar um jornal na sua escola tinha um objectivo claro: contar a verdade. E esta verdade não é abstrata; queria contar a verdade sobre o que se passa nesta que é a sua segunda casa e o bairro em que está inserida. Ari começa hoje a estudar no 11.º ano na Escola Básica e Secundária do Cerco do Porto e já está cheio de ideias para o jornal digital que vai nascer na plataforma TRUE, apresentada esta quinta-feira na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, no Porto. “Sempre que dizemos que somos da Escola do Cerco, perguntam se é complicado, se costumam bater-nos e roubar, e nós temos de explicar que essa realidade — que talvez também tenha sido passada pelos media — não é a realidade de todos os dias da escola”, conta. São outras perspectivas que quer levar para o jornal através da fotografia, da notícia e da reportagem.
TRUE é o nome da nova plataforma de criação de jornais escolares digitais desenhada pelo PÚBLICO, a empresa de tecnologias digitais MOG e a Universidade de Aveiro. O mote para a apresentação oficial foi a conferência “O jornalismo escolar hoje”, dinamizada pelo PÚBLICO na Escola, que contou com a presença de professores, alunos e interessados pela área da literacia mediática. Esta ferramenta surge de uma necessidade encontrada no terreno, explica a jornalista e coordenadora do PÚBLICO na Escola Bárbara Simões, e passa agora a estar disponível com acesso totalmente gratuito através do site do projeto de literacia mediática do PÚBLICO.
Com o TRUE, os jovens jornalistas passam a ter acesso a um backoffice semelhante ao de qualquer jornal a sério. Mas com algumas particularidades: um corretor de palavras, acesso aberto aos conteúdos do PÚBLICO com temas semelhantes àqueles sobre os quais estão a escrever, sugestões de notícias relacionadas provenientes de vários órgãos de comunicação social, organizadas pelo nível de credibilidade. Desenvolvida ao longo do ano passado, teve um período de testes com escolas de Arcozelo (Gaia), Porto, Évora e Cacilhas (Almada). Entre os jornais que fizeram parte do teste há alguns que surgiram pela primeira vez e outros que decidiram passar do papel para o digital.
Na conferência “O jornalismo escolar hoje” houve oportunidade para perceber como é que funciona a plataforma, mas também para ouvir os alunos. Ari Ferreira, que ainda está a começar, juntou-se à antiga colega Marta Fernandes, que entretanto começou a estudar Ciências da Comunicação, à já experiente Inês Silva, repórter do Face ao Douro (Agrupamento de Escolas Diogo de Macedo) para falar sobre o tema que deu mote à conferência. Com eles estavam também Maria do Rosário Meireles, professora coordenadora do Face ao Douro, e a Luísa Diz Lopes, coordenadora do jornal Outra Presença (Agrupamento de Escolas Abade de Baçal). Independentemente da idade e da experiência, todos concordaram que o jornal escolar é um acelerador da autonomia e do sentido crítico.
Nos mais de trinta anos de experiência no universo do jornalismo escolar, Luísa Diz Lopes aprendeu que o clube de jornalismo pode ser “o laboratório mais variado” que existe numa escola. E pode ter impacto. Recorda-se, por exemplo, do trabalho de um aluno sobre o que estava mal num parque da região, que valeu à direção da escola uma reprimenda. Era o jornalismo a acontecer. E num jornal escolar, deve haver espaço para arriscar, para ser crítico e não ter medo do erro. Foi com um elogio ao erro que o escritor Rui Zink, convidado para encerrar a conferência, dirigiu algumas palavras a Ari, Marta, Inês e todos os jovens jornalistas que já questionam o mundo à sua volta. “O poema ensina a cair”, dizia Luísa Neto Jorge e lembrou Rui Zink. E o jornal escolar pode — e deve, acredita — ser o espaço para todos ensaiar as quedas da vida adulta sem ter medo do que está para lá do chão.