O bunker e o vermelho

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A World Rugby com a introdução do designado bunker deu um importante passo nas garantias securitárias, no controlo comportamental, na diminuição do tempo de paragem e na justeza da observação do real comportamento do jogador. Portanto com este recurso ganha o jogo, ganham os jogadores, ganha o árbitro e ganham os espectadores, ficando tudo mais claro sobre, na maior parte das vezes, uma sempre difícil situação.

Este novo conceito de bunker consiste em proporcionar um árbitro assistente - Foul Play Match Official (FPRO) - junto do já existente TMO - Television Match Official - que tem a função de analisar as imagens sobre jogo perigoso ou desleal a pedido do árbitro principal, não sendo autorizado a intervir em quaisquer outras situações.

Assim cabe ao FPRO comunicar ao árbitro, árbitros assistentes e TMO a sua decisão sobre a qualificação do cartão amarelo apresentado pelo árbitro - se mantém a qualidade de amarelo com a respectiva penalidade e saída por um período de 10 minutos ou se é elevado a cartão vermelho com saída definitiva do mesmo jogador faltoso.

Portanto, no caso do bunker a decisão, por pedido do árbitro, sobre a qualidade do cartão, pertence, na prática, ao FPRO. No entanto a decisão sobre o cartão inicial - que pode ter sido tomada imediatamente pelo árbitro ou após ter sido chamado à atenção pelo TMO - pertence ao árbitro que pode ou não aceitar a proposta do TMO.

Fundamentalmente o bunker serve para decidir sobre a existência ou não de mitigação para o acto de jogo perigoso ou desleal a que acabámos de assistir. Para esse efeito o FPRO disporá de oito minutos dos dez que vale a punição do cartão amarelo para tomar a decisão auxiliado pelas imagens que entretanto analisará. Estas imagens não serão mostradas nos ecrãs dos estádios e tão pouco serão vistas pelos telespectadores, uma vez que o jogo continua a decorrer.

Hoje em dia a World Rugby está bastante mais atenta às questões que dizem respeito àquilo que consideram como um factor-chave: a integridade física dos jogadores. Preocupando-se fundamentalmente com os choques de cabeça e com as concussões que daí podem resultar. Por isso os contactos de braços, ombros ou cabeça com a cabeça do adversário defensor ou portador da bola são considerados momentos perigosos e qualificados como “jogo desleal”.

No recente Inglaterra-Argentina, e logo aos quatro minutos de jogo, houve um contacto - uma colisão! - de cabeça com cabeça entre um defensor inglês e um portador da bola argentino. O avanço nessa colisão foi atribuído - e bem - ao terceira-linha inglês, Tom Curry, que recebeu um cartão amarelo, vendo o árbitro a indicar que pretendia uma análise mais cuidada da situação. Minutos depois o TMO comunicou ao árbitro que considerava o caso com a gravidade suficiente para exigir a ampliação com atribuição do cartão vermelho. E assim foi, o árbitro comunicou ao capitão de equipa que o jogador tinha sido expulso e que não poderia voltar ao jogo.

Uns tempos depois numa placagem do jogador argentino, Santiago Carreras, uma mesma situação por parte do árbitro: cartão amarelo e sinal para o bunker da pretensão de mais cuidada análise. Feita a análise o TMO comunicou que não seria caso para ampliar a amostragem do cartão inicial. E o jogador argentino, cumpridos os dez minutos do seu castigo, voltou ao jogo.

Este sistema liberta o árbitro da decisão emocional em situações que podem parecer ou ser mesmo piores do que aparentam. Recorrendo ao bunker, ao assistente do TMO que calmamente — porque não tem outra função — procura as imagens que melhor provem a realidade da situação em causa e as mostra ao TMO que, então e sem que o jogo estivesse interrompido e liberto de qualquer tipo de pressão, comunica a sua decisão que o árbitro - que nesta situação delegou a sua autoridade - fará cumprir.

Muito simples e efectivo.

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