Kishida promove mulheres em remodelação para fintar a impopularidade do Governo japonês

Executivo do Japão terá cinco ministras, incluindo Yoko Kamikawa nos Negócios Estrangeiros. Escolha de ministro da Defesa próximo de Taiwan atesta deterioração das relações com a China.

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Kamikawa tem 70 anos e a sua nomeação para a chefia da diplomacia japonesa é vista como uma escolha para estreitar os laços com os EUA Reuters/ISSEI KATO
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Uma semana depois de uma sondagem da emissora pública NHK ter revelado que a sua taxa de aprovação entre os eleitores é de apenas 36%, o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, anunciou esta quarta-feira uma grande remodelação no seu Governo, que iguala o número mais elevado de mulheres em cargos ministeriais e que parece intensificar a deterioração das relações com a República Popular da China.

Num país que surgiu na 138.ª posição (em 146) no ranking de um relatório deste ano do Fórum Económico Mundial sobre igualdade de género na política, a escolha de Yoko Kamikawa para o importante posto de ministra dos Negócios Estrangeiros e a nomeação de cinco mulheres (num total de 19 ministros) para a chefia de ministérios são notícia, mesmo que ainda haja um enorme caminho a percorrer nessa matéria.

Resta, porém, saber se estas promoções terão algum efeito nos índices de popularidade do primeiro-ministro conservador, cujo mandato como líder do Partido Liberal Democrático (LDP) – partido dominante no Japão, que, desde a 1955, só não governou entre 1993 e 1996 e entre 2009 e 2012 – termina no próximo ano.

Numa altura em que crescem os rumores de que a cúpula do LDP está a ponderar voltar a trocar de líder – Kishida substituiu Yoshihide Suga em 2021, que, por sua vez, tinha substituído, em 2020, Shinzo Abe, entretanto falecido –, o chefe do Governo japonês procura virar a página de uma curta governação marcada por vários escândalos, políticos e pessoais, envolvendo diversos membros da sua equipa.

Ex-ministra da Justiça, Kamikawa, de 70 anos, destacou-se pela liderança do processo que culminou com a execução dos membros da seita Aum Shinrikyo (Verdade Suprema) envolvidos no ataque com gás sarin no metro de Tóquio, em 1995, que matou 13 pessoas e feriu mais de cinco mil.

O facto de ter passado pela universidade norte-americana de Harvard, no seu percurso académico, é visto por alguns analistas como um sinal de que o Governo japonês quer continuar a estreitar os laços diplomáticos e económicos com os Estados Unidos.

“Ela tem imensa experiência e acredito que fará contributos significativos para reforçar as relações [do Japão] com os EUA”, diz Yu Uchiyama, professor de Ciência Política na Universidade de Tóquio, citado pela Reuters.

A aparente intenção de aproximação aos EUA e ao Ocidente também parece demonstrada na escolha de Kishida para a pasta da Defesa.

Trata-se de Minoru Kihara, um deputado que tem dedicado grande parte da sua actividade política e parlamentar na promoção e defesa do estreitamento das relações entre Japão e Taiwan, a ilha asiática que é governada de forma autónoma desde 1949 e que a China considera ser uma província chinesa.

“Acredito que [a escolha de Kihara] envia uma mensagem de que o Japão procura estabilidade em Taiwan, em conjunto com os EUA”, considera Takashi Kawakami, especialista em Segurança na Universidade Takushoku.

Kihara, de 59 anos, vai chefiar o ministério responsável pela implementação de uma das decisões securitárias mais relevantes das últimas décadas do Japão “pacifista”, prometida a par da mais recente revisão da política de segurança e defesa: a duplicação do orçamento militar em cinco anos, o maior aumento desde a II Guerra Mundial.

Nessa mesma revisão, a China, assim como a Rússia e a Coreia Norte, foi colocada no topo da lista de “desafios estratégicos” do Japão para as próximas décadas.

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