Neemias Queta foi “deitado fora” na NBA. E agora?

Há uma boa notícia para o basquetebolista português, mas duas não tão boas. O futuro está em aberto, mas Neemias preferirá manter-se na NBA, em vez de regressar já à Europa.

Foto
Neemias Queta em acção pelos Kings Reuters/Stephen R. Sylvanie
Ouça este artigo
00:00
04:05

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

A 29 de Julho de 2021, Neemias Queta foi a 39.ª escolha do draft da NBA, recrutado pelos Sacramento Kings. Cerca de dois anos depois, foi dispensado pelos Kings e pode, agora, encontrar uma nova equipa.

A parte final da última frase sugere um cenário ideal no qual o jogador, o primeiro português na NBA, vai encontrar, nas próximas semanas, uma equipa da Liga norte-americana que o queira e lhe dê mais oportunidades do que um par de minutos na ponta final de jogos já decididos.

Na G League, campeonato de “equipas B” onde mais pôde jogar, teve uma média de 17 pontos, 8.6 ressaltos e dois desarmes – e foi o segundo mais votado para melhor jogador do campeonato. Este é um bom cartão-de-visita, mas há dois problemas para Neemias.

Um, mais geral, é que a NBA utiliza cada vez menos postes convencionais como o português. Os predicados de protector de cesto e de âncora de jogadas de pick and roll já não são as valências mais pedidas aos “gigantones” do "cinco" inicial.

Há, hoje, uma predilecção maior por jogadores mais dinâmicos, versáteis e capazes de defenderem vários tipos de adversário e atacarem com recursos técnicos mais diversificados – nomeadamente o passe e o lançamento longo, algo em que Neemias tentou evoluir, e conseguiu, mas não a um nível para fazer a diferença.

O segundo problema, indirectamente ligado ao primeiro, é que parece haver poucas equipas com espaço para um jogador como Neemias. Uma equipa variada poderá ter o tal poste completo no “cinco” e ter, no banco, um Neemias? Em tese, faria sentido. Mas uma viagem pelos plantéis actuais da NBA permite ver que mesmo esse papel de poste secundário está preenchido em grande parte dos grupos.

O espaço nos Blazers

Portland, até pelos rumores que já surgiram, seria uma equipa interessante quer pela falta de postes clássicos, quer pela fase da equipa, que entrará numa provável reconstrução – e sem ambições de título ou sequer de play-off, os Blazers poderiam dar a Neemias o espaço na rotação que não teve em Sacramento, equipa que lutou por metas bem maiores.

Equipas como Clippers, Hornets, Mavericks, Rockets, Thunder e Wizards (sobretudo estes últimos) poderiam ter algum espaço para o jogador, mas boa parte destas não parece querer, nesta fase, um poste com características deste tipo.

Depois, existem os Warriors. Manter-se na Califórnia, jogando em San Francisco, seria interessante para a estabilidade de Neemias, além que basquetebolisticamente o modelo de Steve Kerr tem-nos habituado ao gosto por um poste mais clássico, como Neemias.

Não é crível, ainda assim, que esse cenário seja real – nem que desse ao português tempo de jogo suficiente numa equipa que quererá, para lutar por títulos, um poste de outra craveira.

Outro rumor que já surgiu foi o do interesse do Partizan, da Sérvia – cenário que a selecção portuguesa, numa visão egoísta, veria com bons olhos, podendo ter o jogador nas janelas internacionais.

Na Euroliga, Neemias seria, provavelmente, um poste de primeiro nível, mesmo com as limitações técnicas que possa ter, pelo que desportivamente esta possibilidade dar-lhe-ia um palco de afirmação e desenvolvimento – e um salário a condizer, que o topo da Euroliga paga bastante bem.

O problema é se o “comboio” da NBA passaria mais alguma vez na “estação” de Neemias Queta – e esse é um risco que o português quererá, se puder, evitar a todo o custo.

As debilidades

Será preciso entender ainda que Neemias fez o suficiente para merecer oportunidades na NBA – como prova o desempenho tremendo na G League –, mas tem debilidades no seu jogo. Uma delas é a facilidade com que ainda comete faltas, quer no desarme de lançamento, quer em trocas defensivas em que é “apanhado”.

É também um jogador de virtudes ofensivas algo limitadas e unidimensionais, o que esfria o interesse de quem queira um “poste total”.

Mas Neemias sempre foi, é e continuará a ser um tremendo ressaltador e alguém que intimida nas zonas próximas do cesto, quer para proteger lançamentos, quer para responder a alley-oops e bloqueios desfeitos em dois contra dois.

E estes predicados, mesmo numa NBA em mudança, continuam a ser importantes em qualquer equipa de basquetebol.

Sugerir correcção
Ler 8 comentários