Dias depois da confirmação do pacote Mais Habitação no Parlamento, o movimento Casa para Viver vai voltar a sair à rua pelo direito à habitação e, desta vez, leva consigo colectivos pela justiça climática. Sob os lemas "Casa para viver" e "Planeta para habitar", há já nove cidades com manifestações marcadas para dia 30 de Setembro e a organização espera que outros pontos do país se juntem até lá.
O mote para a manifestação é, tal como no protesto de Abril que levou milhares de pessoas às ruas, os "preços incomportáveis" das rendas e dos juros, "as pessoas despejadas" ou as "casas vazias que são reabilitadas para turismo", explica ao PÚBLICO Anselmo Cruz, porta-voz da Habita. Mas estando os problemas da habitação e do clima "interligados", o movimento Casa para Viver juntará as suas reivindicações às da plataforma Their Time to Pay, que lançou um apelo para se organizarem marchas pela Europa no dia 30 contra o aumento do custo de vida e a crise climática.
"A raiz dos dois problemas é a mesma: um sistema que tem em vista o lucro e não o bem-estar das pessoas, o mesmo sistema que prefere especular e lucrar em vez de proporcionar o que as pessoas precisam", explica ao PÚBLICO Catarina Bio, jovem de 20 anos da Greve Climática Estudantil, durante uma colagem de cartazes no Cais do Sodré, em Lisboa.
Os activistas sairão à rua apesar de o pacote Mais Habitação ter sido aprovado em Julho e de estar prevista a sua confirmação pelo PS sem alterações no Parlamento no dia 21 deste mês. "Nunca tivemos esperança no Mais Habitação que virou 'mais especulação' e só piorou com o tempo. Todas as medidas necessárias são fora do Mais Habitação e o Governo pode tomá-las em qualquer altura sem depender da Assembleia da República", defende André Escoval, porta-voz do colectivo Porta a Porta.
Na mesma linha, Rita Silva, do movimento Vida Justa, defende que "o Mais Habitação não resolve o problema" porque "o Governo vai anunciado medidas, mas a coisa só piora". A manifestação será, por isso, uma forma de protestar contra um "Governo que tem negociado mais com o sector imobiliário" do que tem ouvido "as pessoas na rua que são milhares", diz.
Face à manifestação de há cinco meses, os "estudantes" aparecem agora "de forma mais vincada" — o manifesto exige a criação de mais alojamento estudantil, por exemplo —, mas as reivindicações do movimento mantêm-se, desde a limitação do alojamento local, à descida das rendas, passando pelo fim dos benefícios fiscais como os vistos gold.
Fora da esfera da habitação, as centenas de colectivos que constituem o Casa para Viver, como a Habita, a Chão das Lutas, o Vida Justa, o Porta a Porta, o Climáximo, a Greve Climática Estudantil ou o Referendo pela Habitação, exigem o controlo dos preços dos sectores essenciais, a gratuitidade dos transportes públicos ou tornar toda a electricidade renovável até 2025.
Os organizadores acreditam que existem todas as "condições para ser uma grande manifestação" porque "as pessoas estão desesperadas", assinala Nuno Ramos Almeida, do Vida Justa. E não querem ficar por aqui.
"O grande desafio é dar continuidade no tempo a um processo de organização social e a uma constância na reivindicação de medidas de habitação mais fortes até que haja vitórias. Até termos resultados há uma responsabilidade de todos os movimentos de não ficarem em casa e não se fecharem", defende Vasco Barata, da associação Chão das Lutas.
Com protestos já confirmados em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Aveiro, Faro, Évora, Guimarães e Barreiro, ainda se poderão somar outras cidades, estando alguns colectivos locais da Nazaré, da Covilhã e das Caldas da Rainha a dar passos para se juntarem.
Até dia 30, o movimento tem uma série de acções planeadas, como uma concentração à porta do próximo Conselho de Ministros, dia 14, contra o aumento da subida de juros do Banco Central Europeu e um debate sobre a ligação entre os problemas da habitação e do clima no dia 15 no espaço Sirigaita, em Lisboa.
E os diferentes colectivos do movimento têm outras mobilizações planeadas. Esta sexta-feira, a Greve Climática Estudantil vai organizar uma marcha pela justiça climática, na qual irá apresentar um calendário de "acções disruptivas" para o próximo semestre e, no dia 21 de Outubro, o Vida Justa volta a exigir o fim do aumento do custo de vida.