Cinco dicas para manteres a saúde mental no regresso à faculdade
Voltar à rotina, seja para entrar na faculdade pela primeira vez ou para continuar os estudos, não tem de ser uma dor de cabeça. O P3 falou com uma psicóloga e reuniu algumas dicas.
Trocar a toalha de praia pelo computador e apontamentos, dizer adeus aos sunsets durante a semana, fazer as malas para mudar de cidade... Estas são algumas das mudanças que chegam com com Setembro (ou com a publicação das listas de colocação no ensino superior). É o fim das férias de Verão e o início de uma nova fase: entrar na faculdade pela primeira vez ou começar mais um ano rumo ao fim do curso.
Estas mudanças podem trazer algum nervosismo. É, aliás, “natural” que isso aconteça, admite Marisa Carvalho, psicóloga e presidente do Conselho de Especialidade de Psicologia da Educação da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), Marisa Carvalho, em conversa com o P3.
A especialista explica que “as transições”, mesmo as esperadas, “implicam sempre alguma adaptação e isso é gerador de ansiedade”. Fazer a matrícula, encontrar uma casa que encaixe no orçamento familiar, mudar de cidade, conhecer pessoas novas, estudar de uma forma diferente. Tudo isto são desafios que marcam a chegada (ou o regresso) ao ensino superior.
“Não é esperado irmos para uma actividade nova, como iniciar um curso superior, como se fôssemos tomar café com um amigo”, sublinha. Contudo, é preciso estar atento: a ansiedade e o nervosismo em excesso podem deixam de ser saudáveis. Se não queres ir aos eventos de acolhimento porque estão demasiadas pessoas ou faltas às aulas para evitar o desconforto, “isto é indicador de que é preciso ajuda”. Aí, o conselho é claro: “Deve-se procurar o serviço de psicologia da universidade”, alerta Marisa Carvalho.
Mas voltar à rotina e à faculdade não tem de ser uma dor de cabeça. Eis cinco dicas para implementares no teu dia-a-dia.
Antecipa e faz planos
É verdade que “há especificidades diferentes para os alunos que entram no ensino superior pela primeira vez”, para quem “está próximo de casa ou não” ou “se para o curso vão colegas que já conhecem ou não”. Contudo, antecipar e planear são as palavras-chave para esta psicóloga.
“Todo o ano lectivo tem os seus desafios, mas o arranque e as primeiras semanas são uma etapa importante para manter a organização e o planeamento”, sublinha. Assim, a semana anterior ao início das aulas é uma boa altura para começar a ver os horários do semestre e começar a ajustar os horários de sono e das refeições aos que vais ter durante o curso, planificar no calendário a fase de exames do primeiro semestre, definir horários de estudo na agenda, escolher os fins-de-semana para visitar os pais e amigos.
Se estas dicas já vierem atrasadas, lembra-te que também é importante começar com calma: “É natural que, na primeira semana, as pessoas se sintam mais cansadas e mais sonolentas, porque, apesar de estarem a vir de férias, estão a retomar a rotina.”
Assim, uma solução para lidar melhor com os dias mais preenchidos pelas actividades académicas pode ser “reservar os primeiros 15 dias para um descanso acrescido” com “actividades mais prazerosas” para tornar a “adaptação mais fácil, mais fluida”.
Além do planeamento para esta fase inicial, pondera também definir objectivos de médio prazo e intermédios. “Se eu definir para mim objectivos e for capaz de os cumprir, ter experiências de sucesso, vou aumentar a minha satisfação com o curso” e, logo, sentir-me melhor e ter menos dores de cabeça (literalmente).
Vai às actividades de acolhimento
A primeira semana é sinónimo de ir às aulas, mas também de participar nas actividades de acolhimento organizadas pelas próprias faculdades. À lista, somam-se ainda a praxe e os eventos organizados pelas associações académicas e grupos de alunos informais — procura nos corredores e halls da faculdade por estas informações ou nas redes sociais das associações académicas.
Na visão da psicóloga, estas actividades podem permitir conhecer professores, orientadores, colegas, membros da Associação de Estudantes (AE) e outras estruturas que “podem servir de facilitadores da adaptação”.
Reforça hábitos saudáveis: sono, alimentação e exercício
Parece cliché, mas pequenos hábitos como dormir o suficiente, ter uma alimentação saudável e fazer algum tipo de exercício físico podem fazer a diferença na energia com que enfrentas esta nova fase. “Tudo o que seja estratégias de autocuidado ajuda” porque “são hábitos saudáveis que contribuem para a redução da ansiedade”, lembra Marisa Carvalho.
Assim, lembra-te das “coisas que habitualmente se recomendam” sobre ter uma alimentação saudável e também sobre a higiene do sono, como “evitar usar ecrãs antes de dormir ou fazer actividades demasiado estimulantes” e, em alternativa, opta por hobbies “mais relaxantes que facilitem o sono”. A psicóloga reforça ainda que “desenvolver alguma actividade física durante o dia pode ser facilitador do sono”.
Além destas recomendações universais, “as restantes estratégias são idiossincráticas”, expõe Marisa Carvalho. Isto significa que “o que para mim me provoca bem-estar e me traz conforto poderá ser diferente do que traz bem-estar a outra pessoa”. Posto isto, é importante que “cada estudante encontre aquilo que pode ser uma estratégia para si”: escrever num diário, estar com os amigos a conversar, fazer um puzzle, ler um livro, praticar ioga, cozinhar para os colegas de casa, fazer meditação, correr dez quilómetros... Sim, tudo isto se enquadra no conceito de hábitos saudáveis.
Quanto tempo de lazer por dia é suficiente para te sentires bem? Também é variável, já que para algumas pessoas “basta tomar um café de cinco minutos a reflectir sobre as coisas positivas do dia” e “outras pessoas precisam de mais tempo diário de autocuidado”. Mais do que a duração do lazer, “é muito importante ser capaz de reservar tempo intencionalmente” para dedicar a coisas “que promovam bem-estar e satisfação”.
Monitoriza como te sentes
Acordar cedo, passar parte da manhã em transportes, ter o dia todo ocupado com aulas, aproveitar a hora de almoço para conhecer os novos colegas, terminar o dia a organizar os apontamentos e a beber um copo com os colegas de casa. Os dias de aulas podem ser preenchidos e isso faz com que não tenhas tempo de parar e reflectir sobre como te sentes. Mas, na perspectiva da psicóloga ouvida pelo P3, é bom “haver uma monitorização e reflexão pessoal” sobre o estado de espírito.
No site da OPP encontras um documento que te permite fazer esta avaliação, guiada por frases como “sinto-me pessimista, sem esperança no futuro” ou “discuto com a minha família ou amigos”. No final encontras uma “chave de leitura” consoante o número de vezes que concordaste com as afirmações e alguns conselhos para procurares ajuda.
Também podes recorrer à família e amigos que tens por perto para perceber como te sentes. Para a psicóloga, a “adaptação à chegada ao ensino superior também é influenciada pela rede de suporte”.
Amigos e família “têm um papel importante no apoio instrumental que dão, mas também no incentivo e nas conversas diárias sobre o que corre bem e mal”. Assim, se estás deslocado aproveita os fins-de-semana em casa dos pais para pôr a conversa em dia e alimenta as amizades de sempre — também é para isso que servem os grupos de Whatsapp. Se não mudaste de cidade, aproveita também a proximidade com os familiares e amigos para perceberes como te sentes.
Procura ajuda
“É normal nem sempre nos sentirmos bem”: reconhecê-lo é o primeiro passo para dar a volta. Mas, se te sentes mais ansioso e achas que precisas de maior apoio, procura ajuda profissional.
Alguma ansiedade e nervosismo são normais no arranque do ano lectivo, mas, “se persistirem, recomenda-se a procura de ajuda” especializada, sublinha Marisa Carvalho.
Em contexto de consulta, é possível avaliar “que factores levam à ansiedade”, definir “o grau de ansiedade” e também perceber se o tratamento pode ser feito com recurso “a uma exposição à situação que cria ansiedade” ou “se é necessário um caminho mais longo”, explica a psicóloga.
Podes procurar os serviços psicológicos da faculdade onde estudas, ligar para a linha de apoio psicológico SOS Estudante ou optar por uma outra de apoio psicológico acessível.