Apuramento para o Euro 2024: Portugal atropelou o Luxemburgo e aprendeu quatro lições

Entre “lições” individuais e colectivas, a goleada histórica frente ao Luxemburgo, a maior de sempre, permitiu tirar algumas ideias para o futuro, num jogo que não teve Cristiano Ronaldo.

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Jogadores de Portugal celebram no Algarve LUSA/LUIS FORRA
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Quando uma equipa como Portugal defronta uma como o Luxemburgo, as ilações a tirar devem ser bem medidas. Porque o Luxemburgo, por muito que tenha evoluído – e evoluiu – continua a ser o que é: o Luxemburgo, uma selecção do pelotão mais frágil que há na Europa.

Nessa medida, o 9-0 conseguido nesta segunda-feira, no Algarve, carece de capacidade nacional para esfriar o entusiasmo. Foi bom? Foi. Mas foi o Luxemburgo. Mas há, ainda assim, algumas lições a tirar deste jogo – pelo menos quatro, relacionadas com o sistema táctico e com Rafael Leão, Cristiano Ronaldo, Gonçalo Ramos e Bruno Fernandes.

O jogo em si teve pouca história, pelo que pode ser “despachado” com as informações factuais: Gonçalo Inácio marcou primeiro, de cabeça, com cruzamento de Bruno Fernandes, Ramos marcou depois, após passe de Bernardo, voltou a marcar mais tarde, com jogada de Leão e Inácio também bisou perto do intervalo, outra vez de cabeça e novamente com “ajuda” de Fernandes. Na segunda parte houve golos de Diogo Jota (que já tinha falhado bastante), de Ricardo Horta (passe de Jota, que ainda bisou), Fernandes e Félix.

Fechada a factualidade, vamos à subjectividade. Nesse domínio, Portugal poderá levar do Algarve as tais quatro lições, numa partida na qual não teve Cristiano Ronaldo.

A primeira, individual e colectiva, tem que ver com a forma de explorar Rafael Leão. O jogador do AC Milan é talvez o jogador mais perigoso do mundo quando tem espaço para arrancar, de frente para o defensor. Nessa medida, Roberto Martínez criou uma solução interessante, que foi não ter o jogador como extremo, onde teria um lateral adversário a “mordê-lo”, mas sim como lateral/ala, podendo arrancar desde trás, para desequilibrar.

Com o Luxemburgo tão recuado, o 3x2x3x2 de Portugal teve toda a lógica e poderá ser replicado contra selecções igualmente fechadas. Neste jogo, Leão fez o que quis. E para continuar a fazer o que quer precisará que a equipa e o desenho táctico continuem a dar-lhe condições para partir de trás e atacar os adversários de frente e embalado. Ter um lateral por dentro, como médio, dando o corredor a Leão foi interessante e, nesse cenário, pode ser quase imparável.

Outra lição, mais individual, é o impacto de Gonçalo Ramos, que continua com índices de eficácia muito elevados e deu razão a quem crê que é, nos dias de hoje, um finalizador tão ou mais temível do que Cristiano Ronaldo – premissa suportada por algumas estatísticas, mas, ainda assim, bastante discutível. Marcar ao Luxemburgo nada diz? Talvez não, até porque Ronaldo provavelmente marcaria também. Mas isso leva-nos à terceira lição possível deste jogo, mais colectiva.

É que Portugal mostrou-se, sem Ronaldo, mais capaz de ter presença na área. Ramos, para o bem e para o mal, não se dá tanto ao jogo como Ronaldo, cujo estatuto o faz querer participar na criação de futebol ofensivo.

Com o capitão, Portugal tem um jogador que dá apoios frontais e pede a bola na ala, “obrigando” os colegas a explorarem-no fora da área e deixando os centrais adversários mais descansados. Sem ele, Portugal tem um jogador de área permanentemente preparado para finalizar o que os outros criam – e são criadores do melhor que há no mundo.

O problema é Ronaldo? É difícil apontar que um jogador desses seja problema. O problema será, porventura, a forma de convencê-lo a ser um verdadeiro ponta-de-lança, que finaliza e deixa a criação para os artistas Bernardo, Bruno, Leão ou Félix. E isso fica ainda mais claro quando a equipa, sem ele, se comporta como comportou e Ramos, no lugar de Ronaldo, se comporta como comportou.

Por fim, outra lição relevante é a forma como Bruno Fernandes pode ser mais decisivo para Portugal. E este jogo permitiu a sugestão de que quanto mais à frente joga mais importante se torna.

Com bola, porque é um jogador muito capaz na finalização (um golo) e na decisão (e fez três assistências). Sem bola, porque é dos médios do mundo mais fortes no momento de pressionar alto, efeito que perde quando joga tão recuado – frente ao Luxemburgo, foi decisivo com algumas recuperações altas, uma delas a redundar no golo do 2-0.

É certo que o Luxemburgo jogou muito recuado e, por isso, Fernandes teve menos papéis defensivos do que noutros jogos. Mas defender mais à frente, tendo um jogador assim, pode ser um caminho.

A terminar, retome-se a lição mais importante de todas: por muito que estas teses possam parecer lógicas no pós-Luxemburgo, o jogo continuou a ser frente a uma selecção muito frágil. E isso importa bastante.

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