Já foi publicada a portaria em falta para garantir voo do novo satélite português
Satélite criado no Instituto Superior Técnico vai voar no novo foguetão europeu no próximo ano. Falta de aprovação de isenção do seguro por três ministros colocava o lançamento do satélite em risco.
No início do próximo ano, poderemos ver um novo satélite português a descolar em direcção ao espaço – será apenas o segundo na história de Portugal. Apesar da aprovação técnica da Agência Espacial Europeia, o novo satélite, o ISTSat-1, corria o risco de não voar devido à falta de aprovação de uma portaria referente ao seguro de responsabilidade civil destas operações espaciais – e que estava em análise desde 2019. Esta segunda-feira, a portaria foi publicada em Diário da República.
Para um satélite ser licenciado pela Anacom (Autoridade Nacional de Comunicações), a entidade responsável por emitir licenças para actividades espaciais, há uma série de requisitos necessários. Uma delas é o “seguro obrigatório de responsabilidade civil”, que pode ser dispensado se o satélite tiver finalidades exclusivamente científicas ou de cariz educativo – como é o caso do ISTSat-1, desenvolvido por cerca de 50 alunos e professores do Instituto Superior Técnico (IST) da Universidade de Lisboa. Mas essa dispensa só poderia ser dada depois da aprovação e publicação da portaria e que estava dependente da assinatura dos três ministérios com responsabilidade neste campo – das Finanças, da Economia e do Mar, e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
“Uma das condições existentes era a resolução das questões legais. Se não tivéssemos essa garantia, nem sequer éramos aceites”, explica Rui Rocha, docente e investigador do IST que coordena o projecto do ISTSat-1, ao PÚBLICO.
Em Março deste ano, a aprovação desta portaria era uma das preocupações da equipa deste novo satélite português. A publicação da portaria relativa aos seguros das actividades espaciais garante que o satélite português não ficará em terra por questões legais. A equipa do ISTSat-1 já tem, inclusive, a documentação praticamente pronta para pedir a licença à Anacom com a maior brevidade possível.
Satélite poderá descolar no início de 2024
Desde o início do ano que o novo satélite português está em época de exames. “Em Março, tínhamos já feito o primeiro teste para simular as vibrações que o satélite irá sofrer durante o lançamento. Mais tarde, testámos o satélite em vácuo, numa câmara térmica, para simular as condições em órbita. Os testes foram bem-sucedidos”, sintetiza agora Rui Rocha. Estes exames são decisivos para garantir que o satélite estará funcional quando for levado pelo foguetão Ariane 6 para a órbita da Terra.
Na última quarta-feira, o ISTSat-1 submeteu-se ao exame final, conhecido como Flight Acceptance Review. É nesta avaliação que é feita uma revisão de todo o processo e se justificam as decisões tomadas na construção deste satélite. As indicações são positivas – “correu bem” –, mas a decisão formal só chegará no final do mês. É quando saberemos se este satélite português garantiu o bilhete para o espaço.
O ISTSat-1 é um dos satélites que ultrapassou as várias fases do concurso Fly Your Satellite, organizado pela ESA e que se destina à construção de satélites por equipas universitárias. Além de Portugal, estão nesta última fase de avaliação projectos de Espanha, Itália e Irlanda.
Os satélites que forem aprovados no exame final da ESA irão integrar o primeiro voo do novo foguetão europeu, o Ariane 6. Inicialmente, a viagem estava marcada para Outubro deste ano, mas os atrasos no desenvolvimento do Ariane 6 atrasaram o calendário. A expectativa é que esse primeiro voo possa descolar ainda no primeiro trimestre de 2024 – mas a ESA ainda não adiantou qualquer data para este lançamento.
A bordo do voo inaugural deste novo foguetão europeu, espera-se que esteja o ISTSat-1. O novo satélite português tem como missão criar um radar mais fidedigno para a aviação na Terra, permitindo uma cobertura maior e com mais precisão do que a actual. Se se confirmar, será o segundo satélite português no espaço, depois do lançamento do PoSat-1, lançado há 30 anos – na altura, no foguetão Ariane 4.