Falta de casas é “uma pandemia” e crise na habitação é “um maná para a especulação”

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, avisou que o Governo vai ter de responder às mobilizações sociais em preparação sobre a habitação.

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Mariana Mortágua, coordenadora do BE, à chegada ao Fórum Socialismo, em Viseu LUSA/NUNO ANDRÉ FERREIRA
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A coordenadora do Bloco de Esquerda afirmou neste sábado que as medidas do Governo para combater a crise na habitação continuam a ser um “maná” para a especulação, que a falta de casas é “uma pandemia” e que o Governo vai ter de responder às mobilizações sociais que se estão a preparar e junto das quais o partido avisou já que vai estar ao lado.

À entrada para os debates da tarde no Fórum Socialismo, iniciativa que decorre em Viseu e que marca a rentrée do BE, Mariana Mortágua assumiu que Setembro tem de ser o mês “de todas as decisões”.

“Não há nada nas medidas que o Governo tem apresentado que resolva a crise da habitação e insistir em medidas erradas é simplesmente dizer que vai continuar o maná que tem sido o imobiliário e a especulação em Portugal. Esse maná é uma agressão à vida diária de quem trabalha e o salário não chega para pagar a renda ou a prestação ao banco”, afirmou, acrescentando que este é um problema que tem de ser resolvido “já”.

Para Mariana Mortágua, as medidas que o Governo apresentou até agora com o pacote Mais Habitação e que regressa dentro de dias ao Parlamento são uma garantia de que a crise em Portugal vai continuar. “Os alunos que vão entrar agora na universidade, quando as residências estiverem construídas em 2025/26, muitos deles já saíram das universidades. É preciso residências estudantis agora. As pessoas que estão à espera de uma casa para constituir família estão à espera de resolver a sua vida agora. Quem está em casa dos seus pais e quer sair de casa tem um problema agora. Quem está a ser despejado está a ter um problema agora. É preciso respostas agora”, sustentou.

A coordenadora comentou ainda as declarações da ministra da Habitação, que neste sábado em Évora reconheceu que era preciso aumentar o parque habitacional público em Portugal, mas que “não há uma bala de prata” para os problemas da habitação.

Para Mariana Mortágua, os dados estatísticos desmentem a ministra. “A população residente tem vindo a diminuir ou a aumentar menos do que o número de casas, todos nós vemos isso nos sítios onde habitamos. Há especulação a mais, turismo muito intensivo que tira casas para a habitação. Há uma predação dos bancos que faz com que as pessoas não consigam pagar os juros, há pessoas que estão a ser despejadas para os prédios serem vendidos para hotéis, para servir a uma economia de turismo massificado”, acusou.

É por esta urgência que para Mariana Mortágua Setembro é o mês de todas as decisões que importam ao país. “A habitação é a maior catástrofe, uma pandemia, que arrasta, que puxa para baixo as nossas vidas”, confrontou, para acrescentar que é neste problema que o Bloco se centra nesta rentrée.

“O Bloco sabe o que pode ser feito para resolver a crise da habitação e mobiliza-se para a resolver juntamente com milhares de pessoas que vão confrontar o Governo com a falta de habitação”, assegurou a coordenadora, que prometeu ainda apresentar soluções no encerramento do Fórum Socialismo, onde estão cerca de 400 participantes, marcado para este domingo.

Valorização dos professores

Mas, para Mariana Mortágua, Setembro é o mês de todas as decisões além da habitação. “Há hospitais que não têm profissionais de saúde para prestar o serviço que precisam. Há alunos que não têm professores porque não há, no sistema público, professores suficientes”, apontou.

A solução para a falta de professores na abertura de mais um ano lectivo passa, na sua opinião, por dar condições a quem trabalha. “Não podemos continuar a exigir que o sistema educativo português seja alimentado por professores com baixos salários e que atravessam o país para dar aulas e sem condições sequer para pagar uma casa. É só quando conseguirmos dar condições a quem trabalha e a quem faz um enorme sacrifício que podemos garantir que não haja mais alunos sem professores como hoje acontece”, concluiu.

O Fórum Socialismo, o primeiro com Mariana Mortágua como coordenadora do Bloco de Esquerda, decorre em Viseu, com dezenas de debates e centenas de participantes, entre eles, fundadores do partido, como Francisco Louçã ou Fernando Rosas. O encerramento é no domingo, dia em que a anterior coordenadora do BE, Catarina Martins, vai falar sobre o Serviço Nacional de Saúde e as parcerias público-privadas.

A abertura, na sexta-feira à noite, foi feita com um debate onde a eurodeputada Marisa Matias também disse que a crise da habitação é o resultado de políticas que “sempre foram mais dedicadas ao favorecimento da especulação e dos especuladores do que ao reforço do Estado social”.

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