Mariana Mortágua diz que portugueses preferem ter casa a assistir a “conflitos palacianos”
“O que importa ao país é como é que se resolve a crise da habitação”, disse a dirigente bloquista, frisando que o conflito entre Presidente da República e primeiro-ministro não resolve nada.
A coordenadora do BE, Mariana Mortágua, afirmou esta segunda-feira que os portugueses prescindem de um "conflito entre o Presidente da República e o primeiro-ministro", alegando que pretendem ver resolvido o problema da habitação no país.
"Todas as pessoas que em Portugal sofrem com o problema da habitação (...) não querem saber do conflito entre o Presidente da República e o primeiro-ministro. (...) O que importa ao país é como é que se resolve a crise da habitação. Como é que baixamos os juros da habitação, que têm comido uma parte do salário das pessoas", afirmou a dirigente bloquista.
Em declarações à margem da concentração de trabalhadores precários à porta do Centro de Produção do Porto da RTP, em Vila Nova de Gaia, a líder do BE deixou também críticas ao governador do Banco de Portugal em torno do Programa "Mais Habitação", que dividiu a opinião dos chefes do Governo e de Estado.
"E bem podemos ter o governador Mário Centeno a dizer que não há problema, quando há um problema: para pagar ao banco, as pessoas deixaram de pôr os filhos na creche ou na escola, deixaram de comprar coisas que precisam, de despesas essenciais para a sua vida (...) e o que é preciso é encontrar uma resposta", acrescentou.
E prosseguiu: "Para nada disto [baixar as rendas e os juros do crédito à habitação e aumentar a oferta de casas públicas] o conflito entre o Presidente da República e o primeiro-ministro dá uma resposta. Devemo-nos focar mais em propostas para solucionar o problema e menos em conflitos palacianos que não dizem nada ao país."
Insistindo que o pacote "Mais Habitação não resolve os problemas da habitação em Portugal", Mariana Mortágua, admitiu surpresa com as recentes declarações de Mário Centeno sobre o aumento das taxas de juro pelo Banco Central Europeu (BCE).
"Vejo com agrado, mas também com surpresa, pois tanto ele como o Banco de Portugal se esforçaram ao longo deste tempo todo, não só para apoiar o aumento das taxas de juro, como em desvalorizar os seus impactos. Bem sabemos qual foi papel o Banco de Portugal neste tempo todo: foi o de produzir estatísticas que tentavam convencer o país e o Governo de que não havia nenhum problema com as taxas de juro nem incumprimento do crédito à habitação", assinalou.
Mantendo o tom crítico, afirmou que "era importante que o governador soubesse que as pessoas, antes de deixar de pagar o crédito à habitação, deixam de pagar qualquer outra coisa", enfatizando que "toda a gente tem terror de perder a sua casa".
Neste contexto, sublinhou, é "necessário que o Banco Central Europeu interrompa imediatamente o aumento das taxas de juro, o desejável é que diminuíssem", mas não só, defendendo que "Portugal pode obrigar os bancos a baixar as taxas de juro e que esse abaixamento seja compensado pelos lucros dos próprios bancos".
"Portugal não pode determinar o que faz o BCE, mas pode determinar o que fazem os bancos em Portugal", concluiu.