Poor Things e mais coisas, algumas selvagens, de Veneza 80
O balanço decisivo a fazer, se tal fosse possível, seria o que resultaria de uma avaliação disso que é estar a ser espectador hoje. É essa a incógnita. Quem melhor o representa?
Acaba por ser um retrato dos espectadores de hoje que o filme-acontecimento da 80.ª edição de Veneza, o título que fez bater o coração de muitos, tenha sido Poor Things. No lugar de antigos terramotos que já foram sentidos nas duas semanas de risco sísmico que é suposto serem os festivais de cinema, e lembrando tremores de terra que no passado se chamaram, por exemplo, Underground, de Emir Kusturica, Wild at Heart, de David Lynch ou Crash, de David Cronenberg, aparece-nos agora a fazer babar alguns espectadores/críticos/jornalistas insuspeitos, mas uma grande maioria de suspeitos, o último filme do grego Yorgos Lanthimos. É o seu momento de reinvenção disneyniana, por via de uma fabulosa equipa de direcção artística que convoca quimeras à la Tim Burton, e o filme em que ele se senta no trono do mainstream. Ou como dizem os de diferentes países de expansão minoritária que querem pertencer à maioria: “Vai ser huge.”
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