Primeiros dias na escola: Um abraço e virar as costas?

Há crianças que vão felizes para a escola; há algumas que têm muita dificuldade em sair de casa, mas nenhuma a entrar na escola; e há crianças que estão bem até ao portão... As variações são grandes.

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Eduardo Moser/sandradesign
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Querida Ana, estou de volta.

Gostei tanto das tuas ideias para tornar mais fácil a adaptação à creche, que agora quero os teus conselhos para os pais das crianças do Jardim de Infância/escola — sobretudo para os que começam este ano.

O primeiro dia, ao contrário do que os pais de primeira viagem pensam, é sempre o melhor — a criança está entusiasmada com a pasta nova, com o já ser crescida e ir para um sítio que lhe foi pintado com as cores mais fantásticas; piores são os que vêm a seguir, em que já passou a novidade.

Sempre fui das mães que prefere largar e virar costas (consolando-me com a certeza de que, passados uns minutos, ficavam bem) do que arrastar o momento da separação, mas provavelmente é pior a longo prazo. Será? Não sei.

O que sei é que sempre olhei com uma admiração enorme para as crianças que entram num sítio novo com total à vontade e se parecem adaptar a situações novas com enorme facilidade. E, com inveja, os pais desses meninos que, para além de não terem de passar pela angústia de deixar um filho aos gritos agarrado às saias, ainda contam com o aplauso de toda a gente. Sim, Ana, partimos sempre do princípio que uma criança que recusa ficar, o faz por ter pais que não souberam cortar a tempo o cordão umbilical, e as mães ainda sofrem mais com o estereótipo.

Nós, avós, confesso, muitas vezes não ajudamos nada, ficando na primeira linha a apontar o dedo e a “mandar bocas”, tal a nossa ânsia de pôr um penso rápido nas angústias dos próprios filhos, e de ver os netos felizes e contentes na escola.

Desculpa, divago. Manda-me os teus conselhos para que haja menos birras em redor deste assunto.


Querida Mãe,

Se me tivesse perguntado isto antes de ter filhos, acabadinha de sair do curso de educadora, teria respondido com muita certeza:

As regras de ouro são sempre:

- Manter as rotinas

- Não chegar atrasado

- Ter algum tempo para despedir com calma

- Nunca fugir sem dizer adeus

- Não arrastar a despedida ou voltar atrás para “mais um beijinho”, prolongando o sofrimento da separação.

Mas, depois de ter filhos, e depois de ter tido filhos com dificuldades sérias em ficar na escola — e tendo contactado com muitos outros pais com essa dificuldade —, percebi que é mesmo preciso ter em conta a criança que temos à frente. Ao contrário do que possa parecer visto de fora, as crianças não são mesmo todas iguais e não fazem todas “manha” para não ir à escola.

Há muitas crianças que vão felizes para a escola; há algumas que têm muita dificuldade em sair de casa, mas nenhuma a entrar na escola; há crianças que estão bem até ao portão, e que querem muito ir à escola, mas na altura da despedida ficam muito aflitas... As variações são grandes. E só os pais e a professora saberão o que pode funcionar melhor em cada caso. E, muitas vezes, é por tentativa e erro. No caso das crianças felizes não é preciso fazer nada, exceto ficarem MUITO gratos, no caso das crianças com maiores dificuldades, eu diria que era importante colocar estas questões:

1. Quais são os momentos difíceis?

2. Quais são as queixas que a criança faz? Não as ignore. Aborde-as com a professora e não espere até serem “coisas graves”, porque há muito que se pode fazer para não deixar o problema crescer.

3. Quando a criança volta, como vem? Entusiasmada? Ou mal chega ao carro descarrega tudo com birras horríveis? Muitas crianças aguentam o dia todo no seu “melhor” e depois desmoronam quando chegam a casa — não é, necessariamente, sinal de que estão mal, às vezes só precisam de fazer essa descarga, mas pode ser um sinal de que está a ser difícil aguentar o dia.

4. O que parece ajudar a manhãs mais calmas?

5. No momento da separação, a criança prefere uma despedida rápida, ou vale a pena esperar por “aquele momento” em que está mais relaxado e deixa ir?

Um dia, uma das minhas filhas disse-me “Mãe, por favor não venhas à escola a meio do dia porque fico com saudades e é muito difícil para mim não querer ir embora quando tu vais.” Por isso, o meu último conselho é: não subestimem que eles querem ir, e ficar, que também querem estar bem. Mas, para isso, precisam de tempo, de calma e de respeito dos dois lados do portão.

Beijinhos!


Com o Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Depois das férias de Verão de 2023, estão de volta com uma nova temporada repleta de birras.

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