Adegas cooperativas do Douro pedem ao Governo que olhe pelos viticultores

Quatro adegas cooperativas do Douro vão pedir uma audiência urgente à ministra da Agricultura para reclamar soluções rápidas para pequenos e médios produtores venderem as suas uvas a um preço justo.

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Avolumam-se as vozes no Douro que reclamam o pagamento de um preço justo aos viticultores da região Tiago Bernardo Lopes

As adegas cooperativas de Mesão Frio, Murça e Vila Real e as Caves Santa Marta, todas no Douro, anunciaram esta segunda-feira que vão pedir uma audiência urgente à ministra da Agricultura para reclamar soluções rápidas que beneficiem pequenos e médios produtores que precisam de vender as uvas a um preço justo e compensatório.

As três cooperativas do distrito de Vila Real e as Caves Santa Marta, de Santa Marta de Penaguião, lançaram "um alerta público" para o que dizem ser a "situação aflitiva em que vivem pequenos e médios agricultores do Douro".

"Olhem para o Douro no seu conjunto. Grandes, médios e pequenos produtores levantam e constroem ano a ano com muito sacrifício a paisagem do Douro Património Mundial, de que todos nos orgulhamos e que tantos turistas atrai. Sejam rápidos a encontrar soluções que não beneficiem apenas a grande produção / comércio. Não queiram que a paisagem fique pintalgada com pequenas, mas muitas manchas de terreno inculto, desmerecendo o Douro", escrevem a uma só voz as quatro adegas num comunicado enviado às redacções mas cuja mensagem tem como destinatário principal o governo.

No mesmo texto, as cooperativas, que representam milhares de viticultores, defendem que os "agricultores do Douro, com custos de produção elevados devido à orografia do terreno têm de vender o seu produto a um preço que seja justo e compensatório do esforço despendido, sem cortes na autorização da produção e elevação do preço do benefício [a quantidade de mosto que pode ser transformada em vinho do Porto]".

As adegas lembram o corte no benefício das 116 mil pipas (550 litros) em 2022 para as 104 mil pipas de vinho do Porto este ano. "Este corte responde aos anseios de grandes produtores / exportadores que têm excesso de vinho do Porto devido a uma alegada quebra nas vendas e não querem que ao mercado continuem a chegar quantidades de vinho que tornam difícil o escoamento do que têm armazenado", acusam. Acrescentando que muitos viticultores "vivem muito dependentes do número de litros que anualmente são autorizados para a produção de mosto generoso".

Uma uva, dois preços

"Para que fique claro para toda a gente, 750 quilos de uvas destinadas à produção de vinho do Porto valem pelo menos três vezes o preço atribuído aos mesmos 750 quilos que são destinados à produção do vinho de consumo", detalham.

Sublinham as quatro adegas durienses que "é cada vez mais difícil aos pequenos e médios produtores lançarem-se anualmente no cultivo da vinha, correndo sérios e fundados riscos de que o preço que vão obter na venda de uvas não cubra os custos de trabalho e de produtos aplicados para tratamento e protecção das videiras".

"Os pequenos produtores continuaram a trabalhar diariamente para produzir com a mesma qualidade ainda que com mais esforço e mais custos e não poderão ser mais penalizados pela redução nas vendas. Esta redução deverá ser combatida com inovação e promoção para melhorar as vendas e não punir quem vive da produção", referem.

A "continuar por este caminho", avisam as cooperativas, "muitos lavradores vão abandonar o cultivo deixando as terras a monte ou optar por outras culturas alterando a paisagem dos socalcos do Douro".

"É indubitável que o Governo e os organismos ligados ao vinho do Douro têm rapidamente de promover o vinho do Porto, interna e externamente, mais e melhor, para vender mais e melhor", defendem, por fim, e a propósito da já tão falada quebra neste negócio — entre Janeiro e Maio, as vendas de vinho do Porto caíram 8,8% em volume de negócios.

O Douro atravessa um período de grande contestação, perante um problema (vários, mas que vão todos dar a um: a injusta remuneração de quem produz uva para vender a quem faz os vinhos) que, tal e qual uma bola de neve, e não sendo de hoje, se foi avolumando até se tornar insustentável.

Há dias, foi a Federação Renovação do Douro / Casa do Douro a reclamar um “preço justo” para a uva que é comprada aos viticultores e a alertar para o facto de haver grandes empresas a excluírem produtores a quem costumavam comprar o fruto.

E em Julho, ainda as vindimas não tinham começado, vários nomes ligados aos "grandes" do Douro assinavam o abaixo-assinado "O Douro merece melhor", onde o assunto era a sustentabilidade socioeconómica dos viticultores, mas também a sobrevivência das empresas e o "futuro dos seus vinhos nos mercados internacionais”. Entre os subscritores do texto, estão nomes com responsabilidades no tema do preço pago pela uva, como na altura chamou a atenção o jornalista Pedro Garcias na sua crónica semanal neste jornal.

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