María Teresa Campos (1941-2023), ícone da TV espanhola e “rainha das manhãs”

A apresentadora e jornalista, uma das mais célebres figuras da rádio e tv espanholas, ao longo de meio século, estava internada na sequência de uma infecção respiratória. Tinha 82 anos.

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María Teresa foi também protagonista de um dos primeiros contratos milionários que surgiram com o nascimento das estações privadas de televisão Oscar Gonzalez/NurPhoto via Getty Images
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Primeiro, foi a sua voz que conquistou Espanha. Depois é que o país ficou a conhecer bem o seu rosto. A partir daí, a fama foi sempre em crescendo. Com um estilo comunicativo muito próprio e uma elegância natural, María Teresa Campos passou da rádio a apresentadora na TV, acabando por tornar-se a representante maior de um formato que transformaria as manhãs televisivas. A apresentadora morreu na madrugada desta terça-feira, aos 82 anos.

María Teresa Campos​ começou como jornalista na rádio, mas acabaria por granjear fama no pequeno ecrã, onde se iniciou, em 1982, no programa de entrevistas Esta noche, apresentado pela actriz Carmen Maura. Foi o trampolim de que precisava para apresentar os seus próprios programas, como Estudio Direto com Marisa Abad. Mas foi com Por la mañana (TVE), a partir de 1986, que María Teresa Campos integrou o leque das denominadas “chicas Hermida” — onde pontuavam figuras como Consuelo Berlanga, Inés Ballester ou Míriam Diaz Aroca, que conquistaram o sucesso com a bênção do reconhecido jornalista Jesús Hermida.

Por la mañana foi o primeiro programa de um formato que chegaria aos dias de hoje, e que ocupava o tempo das manhãs com conversas, entrevistas e debates de actualidade. María Teresa reformulava, assim, um novo género televisivo, do qual se viria a tornar “rainha”, como celebram os media espanhóis nos vários obituários que lhe dedicaram nesta terça-feira.

É que, depois desta primeira experiência, foi ela a escolhida para substituir o seu mentor, Hermida, para apresentar o programa da tarde A mi manera, em 1990. E não só fez jus à herança do jornalista, como o ultrapassou nas audiências, à medida que mostrava ser capaz de criar empatia com o público que passava os dias em casa.

María Teresa foi também protagonista de um dos primeiros contratos milionários que surgiram com o nascimento das estações privadas de televisão. Em 1996 assinou pelo Telecinco, onde permaneceu, com o programa Día a día, até 2004. Por esta altura, mais do que um formato de entretenimento, María Teresa já tinha criado um género ao estilo dos mais dinâmicos talk shows, em que não faltavam mesas redondas, momentos de debate, comentários sobre a actualidade.

Em 2004, segue para a Antena 3, onde viria a apresentar o programa Cada día, em mais um negócio milionário (três milhões de euros por ano, seria revelado anos depois). Mas a aposta do canal em María Teresa Campos não viria a dar os frutos ambicionados: a sua saída viria a dar-se em 2006, um ano antes do fim do contrato.

Por essa altura, a jornalista regressou à rádio, com Protagonistas na Punto Radio, e à Telecinco, para apresentar especiais biográficos de personalidades espanholas, que se viria a transformar no programa das tardes de fim-de-semana ¡Qué tiempo tan feliz, transmitido até 2017.

Jornalista, apresentadora, estrela das revistas cor-de-rosa

María Teresa Campos nasceu em Tetouan, Marrocos, quando a cidade era capital do protectorado de Espanha no país africano, mas mudou-se para Málaga quando tinha apenas um ano.

Tendo estudado Filosofia e Letras, casou-se com o jornalista José María Borrego, em 1964, de quem teve duas filhas, Teresa Lourdes ("Terelu") e Carmen Rosa, que trabalharam com María Teresa nos seus programas, a primeira como editora, apresentadora e colaboradora; e a segunda como editora e directora-adjunta. Um romance que começou quando ambos eram muito jovens e se cruzaram como jornalistas na rádio, e que viria a terminar de forma trágica.

Após a mudança da apresentadora para Madrid para prosseguir a sua carreira televisiva, a relação terá sofrido um forte revés, já que Borrego manteve-se a residir em Málaga. Em 1984, o marido da apresentadora suicidou-se com um tiro na cabeça.

Depois de um luto difícil, a apresentadora encontrou um novo companheiro, o arquitecto basco Félix Arechavaleta, que, chegou a sublinhar a jornalista, "foi como um pai" para as suas duas filhas. A relação terminou em 2001, e depois disso somaram-se romances passageiros, sempre muito noticiados, como é tradição em Espanha, nas revistas cor-de-rosa: com Felipe Maestro, gerente do Palácio de Congressos e Exposições de Sevilha; com o jornalista José María Hijarrubia; com o químico Santiago García; ou com o advogado argentino Gustavo Manilow.

Até que, em 2014, é vista pela primeira vez com o humorista chileno Edmundo “Bigote” Arrocet, com quem viria a ficar durante cinco anos, período ao longo do qual foi muitas vezes capa de revista — mais ainda quando aceitou conduzir o programa Las Campos (Telecinco, 2016-2018), um formato ao estilo Keeping Up with the Kardashians, que seguia o dia-a-dia de María Teresa e das filhas.

Desde há alguns meses, a saúde deste ícone da TV espanhola tinha-se deteriorado, o que a levou a reduzir a vida social ao mínimo. No domingo, María Teresa foi levada de urgência para o hospital, com uma infecção respiratória aguda. A sua morte foi confirmada pelo hospital, a pedido das suas filhas, na madrugada desta terça-feira.

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