Rui Costa: “Mercado foi muito positivo e deixa o Benfica em posição privilegiada”

Presidente do clube voltou a falar das contratações, dos empréstimos, das vendas e do caso que marcou a última jornada, no Dragão.

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Rui Costa, presidente do Benfica LUSA/MIGUEL A. LOPES
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Com pontualidade britânica, Rui Costa dirigiu-se, às 19h04 (hora simbólica do ano - 1904 - de fundação do clube), em directo na BTV, ao universo benfiquista para, uma vez mais, cumprir a promessa eleitoral de prestar contas e dar explicações aos associados no final de cada janela de mercado de transferências e que, este Verão, confirmou aposta forte em aquisições de vulto, sustentadas por mais um importante encaixe financeiro.

O presidente do Benfica assumiu, a dado momento, que o clube está "completamente apetrechado e com muitas mais soluções do que no ano passado", dizendo-se plenamente satisfeito, ainda que tivesse lamentado algumas saídas, como a de Grimaldo, em que o clube fez tudo para manter o jogador, mas esbarrou no desejo de mudança.

O investimento foi de 69 milhões de euros, com a maior fatia a ir para a aquisição do médio Orkun Kokçu (ex-Feyenoord) - o mais caro de sempre -, a cifrar-se nos 25 milhões (mais cinco milhões em variáveis), logo seguido de Arthur Cabral (ex-Fiorentina), na ordem dos 20 milhões de euros (mais cinco milhões de variáveis), e ainda do guarda-redes ucraniano ex-Shakhtar Donetsk Anatolyi Trubin (10 milhões de euros mais um milhão), sem esquecer David Jurásek (14 milhões).

Um valor alto que o clube conseguiu cobrir com a venda (empréstimo com obrigação de compra) de Gonçalo Ramos para o PSG, que resultou num encaixe de 65 milhões de euros que poderá chegar aos 80 milhões, dependendo das variáveis incluídas no contrato.

Assim, Rui Costa entende que a abordagem do clube ao mercado, "na linha do ano anterior", se salda por "muito positiva", deixando o Benfica "em posição privilegiada" para conquistar os objectivos num ano importante, de mudança no acesso à Liga dos Campeões, em que não há margem de erro.

"Saída do Gonçalo causou sofrimento"

Caso a caso, Rui Costa foi analisando todas as movimentações, atacando o caso de Di María, para explicar que não houve excessos na vinda do argentino a custo zero. "Falou-se em esbanjar dinheiro e em desinvestir no caso da venda do Gonçalo Ramos, mas tudo isso depende da forma como as pessoas querem olhar para as situações. Gastámos o que podíamos gastar e vendemos o que foi possível vender. Sempre com a preocupação de reforçar a equipa na vertente desportiva", disse Rui Costa, explicando que a venda de Enzo Fernández já não pode ser confundida com o exercício actual de investimento no plantel.

"A saída do Gonçalo Ramos causou sofrimento nos adeptos, mas não menos a quem tem de fazer a venda. Também me custa perder um avançado como o Gonçalo. Mas que fique claro que não há clube em Portugal que possa manter-se sem vender. No Benfica, uma venda teria que ser feita. E isso permitiu-nos manter outros jogadores. Impedimos a saída do Neres, do Morato, do Florentino, do Musa... o António teve propostas. Isso é fundamental. De contrário teríamos que vender quatro ou cinco jogadores para conseguir o mesmo valor. Isso permite-nos chegar até fim da época sem ter que vender mais ninguém", sustentou.

Sobre o timing da saída do avançado, antes da Supertaça, Rui Costa desdramatizou. "O Gonçalo não tinha condições para continuar mais dez dias e disputar um jogo quando estava em jogo um contrato com o PSG".

Arábia não é ameaça

Antes de especificar cada transacção, Rui Costa considerou que o ataque da Liga saudita ao mercado europeu ainda não constitui um risco para Portugal, preferindo esperar por mais uma janela de mercado para tirar ilações.

E Otamendi até era um dos alvos mais fáceis para o futebol árabe. Uma renovação que dava como perdida, mas que acabou por revelar-se mais simples. "Encarnou o nosso clube e é o grande líder da equipa. Uma mais-valia enorme".

Mais fácil, só mesmo a renovação de João Neves: "Só queria saber quando e por quantos anos renovava. É mais um jogador da formação a afirmar-se plenamente", sublinhou.

Sobre as entradas, Rui Costa assegura que não podia estar mais realizado: "Estou muito satisfeito e optimista. Foi fácil chegar aos alvos depois de escolher o perfil dos jogadores que acompanhávamos há mais de um ano e que serão mais-valias", elegendo Kokçu, jogador do ano nos Países Baixos, como prioritário.

Arthur Cabral estava identificado desde os tempos do Basileia, quando Roger Schmidt tentou levá-lo para o PSV. Assim, são grandes as esperanças, mesmo que haja jogadores que precisem de mais algum tempo... Como será o caso de David Jurásek, contratado para substituir Grimaldo e que agora beneficiará da experiência de Bernat para dissipar essa pressão.

Rui Costa explicou a vinda de Trubin e a saída de Vlachodimos, começando pelo ucraniano, que garantiu não estar "nos planos iniciais por ser inalcançável". "Um guarda-redes referenciado pela Europa toda" e que o Benfica conseguiu antecipando-se, ao investir um ano antes do fim do contrato com o Shakhtar.

Di María não furou o tecto salarial

As explicações sobre o negócio Di María mereceram um segundo capítulo para reforçar "o prazer imenso que tem em representar o Benfica". Rui Costa revelou um segredo, dizendo que o argentino "fechou contrato um mês antes de se apresentar na Luz", depois de ter estado perto de regressar a Lisboa no ano anterior, antes de a Juventus lhe ter proposto um "salário incomportável" para as "águias".

Salário que, insiste Rui Costa, não ultrapassa o tecto estipulado pelo clube: "Não ultrapassou o tecto salarial, nem teve prémio de assinatura. Veio apenas pelo salário que lhe podíamos pagar", reforçou, lembrando que o estatuto de "Angelito" o leva a tocar o referido tecto.

Em matéria de paixão, também o empréstimo de Gonçalo Guedes implicou sacrifício financeiro do jogador, que teve papel "influente dentro e fora do campo na conquista do título e está a recuperar de operação contraída frente ao Sporting, onde aguentou 15 minutos em campo com o joelho lesionado".

Rui Costa vê, assim, profundidade e opções no plantel de Roger Schmidt, de "dimensão enorme em termos qualitativos, com 25 jogadores capazes de defender o clube em todas as competições".

Mesmo na lateral direita, que após a saída de Gilberto, deixou Bah sem concorrência directa. Rui Costa entende, porém, que o regressado João Victor e o ambivalente Aursnes podem compensar essa lacuna.

Fim de ciclo de Vlachodimos

Perto do final, Rui Costa não ignorou a saída de Vlachodimos e deixou um alerta ao futebol português na sequência do episódio que marcou a última jornada, no Dragão.

"Não vamos varrer para debaixo do tapete. Foi público, e o Vlachodimos merece-nos o maior respeito. Depois do que aconteceu, era preciso criar uma solução. Estaremos sempre gratos ao que fez nos últimos cinco anos, mas acabou o ciclo. O Benfica continuará no coração dele e ele no dos benfiquistas".

Depois de explicar as cedências de Schjelderup e Lucas Veríssimo, por razões distintas, de abordar a estratégia adoptada em termos salariais, concentrando um bolo maior para o núcleo da equipa em detrimento da libertação de verbas de jogadores "periféricos", Rui Costa terminou dizendo-se "preocupado" com o sucedido no Dragão.

"Se queremos falar de direitos televisivos e de bons espectáculos, teremos de mudar muita coisa. O que se passou no Dragão não foi a melhor forma de vender o campeonato. No Benfica, procuraremos fazer o que nos compete para que haja justiça e clareza no futebol português".

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