Sem a bênção do PSOE, Yolanda Díaz foi a Bruxelas tentar convencer Puidgemont

Socialistas espanhóis demarcam-se de encontro do qual foram informados como “facto consumado”. Direita critica viagem da líder do Sumar. “O Governo reuniu-se com um fugitivo da justiça”, disse Feijóo.

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Carles Puidgemont e Yolanda Díaz antes da reunião em Bruxelas EPA/OLIVIER MATTHYS
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À procura de uma solução que mantenha a esquerda no Governo em Espanha após as eleições inconclusivas de 23 de Julho, a líder do Sumar e segunda vice-presidente do executivo em exercício, Yolanda Díaz, reuniu-se esta segunda-feira em Bruxelas com o antigo presidente catalão e eurodeputado Carles Puigdemont, num encontro em que acordaram “explorar todas as soluções democráticas para desbloquear o conflito político” na Catalunha.

O encontro, o primeiro entre um ministro do Governo e Puigdemont desde que este se refugiou na Bélgica no final de Outubro de 2017, na sequência da tentativa falhada de secessão da Catalunha, foi descrito quer pelo Sumar quer pelo Junts, o partido de que Puidgemont é fundador, como “frutuoso” e serviu, segundo afirmaram num comunicado conjunto após a reunião, que teve lugar no Parlamento Europeu, para abrir caminho a uma “relação normalizada e estável entre as duas formações políticas”.

O apoio ou a abstenção do Junts e de outros partidos separatistas ou regionalistas que apoiaram Sánchez no passado será crucial para ganhar o direito de formar governo, caso a direita, liderada pelo PP, não consiga reunir os apoios suficientes a tempo do debate de investidura, marcado para os dias 26 e 27 de Setembro.

Os socialistas demarcaram-se da viagem de Díaz a Bruxelas, da qual só foram informados como “facto consumado” no final da tarde de domingo, segundo fontes socialistas citadas pela Europa Press. “Nada foi acordado, o PSOE está a seguir o seu próprio caminho”, acrescentaram as mesmas fontes.

Apesar de não ter sido “sancionado” pelo PSOE, o encontro entre Díaz e Puidgemont surge numa altura em que o Governo em exercício mantém conversações com os partidos pró-independência sobre uma potencial lei de amnistia para os crimes relacionados com o referendo ilegal à independência catalã, realizado a 1 de Outubro de 2017. Tanto o Junts como a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) já apresentaram a amnistia como uma das condições para apoiar a investidura de Pedro Sánchez à frente do futuro executivo espanhol.

Ao mesmo tempo que a líder do Sumar se reunia com Puidgemont, o líder do PSOE e chefe de Governo em exercício mencionava, numa conferência no Ateneu de Madrid, a possibilidade de aprovar uma amnistia ou, em alternativa, algum tipo de alívio da pena para os acusados, garantindo que, seja qual for a solução, esta será “totalmente constitucional”.

“Não podemos repetir os erros do passado. É tempo de fazer política, de virar a página, de aprender com esses erros e de olhar para um futuro de coexistência”, disse Sánchez, acrescentando: “Queremos deixar para trás um passado de trincheiras. Estamos empenhados no diálogo e na harmonia, que é a melhor solução para esta crise. Uma solução que será totalmente constitucional. Este é o momento da ousadia, da política, de continuar a progredir na convivência”.

No comunicado conjunto divulgado após o encontro entre Díaz e Puidgemont, tanto Sumar como Junts afirmaram partilhar a “profunda convicção” de que a política deve ser conduzida “através do diálogo e dos princípios democráticos”, prometendo “explorar todas as soluções democráticas para desbloquear o conflito político”, porque "a democracia consiste no diálogo entre posições diferentes”.

“Amnistia contrária à Constituição”

Ainda a reunião em Bruxelas não tinha terminado e já os partidos de direita criticavam a viagem de Yolanda Díaz. O líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, acusou o Governo de Pedro Sánchez de tentar “negociar uma amnistia contrária à Constituição e aos referendos de autodeterminação”.

“Hoje, o Governo reuniu-se com um fugitivo da justiça em Bruxelas”, disse Feijóo, acrescentando: “Os interesses de Pedro Sánchez não podem condicionar a política do nosso país”.

Já a secretária geral do PP, Cuca Gamarra, expressou as suas dúvidas sobre a demarcação do PSOE e, consequentemente, do Governo, da iniciativa da líder do Sumar. “Yolanda Díaz é vice-presidente a tempo parcial? Deixem-se de brincadeiras com os espanhóis: o que estão dispostos a fazer para se manterem no poder?”, escreveu no Twitter (agora X).

O presidente do Vox, Santiago Abascal, considerou por sua vez que a vice-presidente do executivo em funções, ao deslocar-se a Bruxelas para se encontrar com Carles Puigdemont, “está a entregar o governo a um verdadeiro criminoso".

Numa conferência de imprensa realizada na sede do partido, Abascal afirmou que o facto de uma vice-presidente do governo se sentar com um “fugitivo da justiça é extremamente grave”, algo que não acontece “em nenhum país sério onde a legalidade e a dignidade dos cidadãos são respeitadas”.

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