Autoeuropa suspende produção durante nove semanas, trabalhadores ficam em layoff

Fábrica de Palmela anunciou nesta quinta-feira que, no pior dos cenários, a produção de carros vai parar entre 11 de Setembro e 12 de Novembro, devido à falta de peças.

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Produção do T-Roc em Palmela estará suspensa entre 11 de Setembro e 12 de Novembro por falta de peças Daniel Rocha
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A Autoeuropa, em Palmela, vai suspender a produção de automóveis entre os dias 11 de Setembro e 12 de Novembro, devido à falta de peças provenientes de um fornecedor esloveno afectado pelas cheias de Agosto. A administração da fábrica da Volkswagen anunciou que neste período os trabalhadores ficarão em layoff, sem revelar quantas das cinco mil pessoas que ali trabalham serão afectadas.

No comunicado enviado nesta quinta-feira aos trabalhadores, a administração da Autoeuropa informa que os trabalhadores serão colocados em layoff durante a paragem de nove semanas e nos dias 9 e 10 de Setembro a fábrica irá recorrer a down days (mecanismo que permite parar a produção sem que a fábrica tenha de pagar um dia normal de salário, uma vez que é abatido ao 15.º mês já atribuído anualmente aos trabalhadores) parciais, “de acordo com as necessidades de produção de cada uma das áreas”.

A administração garante que está a trabalhar com a Comissão de Trabalhadores (CT) “na melhor solução de minimização do impacto da suspensão da produção para todos os colaboradores”.

Rogério Nogueira, coordenador da CT, adiantou ao PÚBLICO que já estão marcadas reuniões nos dias 4 e 5 de Setembro, “para discutir as condições financeiras do layoff”, alertando que é preciso garantir que a situação não tenha um impacto negativo no rendimento dos trabalhadores e lembrando que, no passado, a empresa cobriu o corte salarial.

“A empresa tem todas as condições para garantir esses rendimentos, valorizando desta forma o esforço feito por todos”, lê-se no comunicado que a CT enviou esta tarde aos trabalhadores.

De acordo com a lei em vigor, durante o período de layoff, os trabalhadores recebem, pelo menos, dois terços do salário ilíquido (sem descontos) ou o valor equivalente ao salário mínimo (760 euros), até ao limite de 2280 euros (três vezes o valor do salário mínimo). O empregador é responsável pelo pagamento, mas a Segurança Social comparticipa 70% deste valor.

A empresa lembra que a suspensão da produção se deve à falta de componentes essenciais à produção do modelo T-Roc, uma situação criada pelas cheias que, no início de Agosto, afectaram a Eslovénia e um dos principais fornecedores da fábrica portuguesa.

A paragem de nove semanas será o pior cenário e o grupo Volkswagen, dono da unidade fabril em Palmela, garante que “está empenhado no restabelecimento da produção nas fábricas afectadas com a maior brevidade possível” e “está a avaliar fontes de abastecimento alternativas”.

“A direcção da fábrica está a acompanhar a evolução da situação com o apoio das equipas de logística, de compras e aprovisionamento do grupo Volkswagen no sentido de reduzir o período de paragem de produção, assim como o impacto na Volkswagen Autoeuropa”, refere ainda a empresa.

Apesar de a produção do T-Roc ficar suspensa, outras áreas da Autoeuropa continuarão ao laborar. A área de prensas e a unidade de cunhos e cortantes, refere o comunicado, “mantêm as operações de acordo com as necessidades operacionais identificadas no levantamento oficial realizado e obrigatório num cenário de layoff”.

Também as áreas indirectas mantêm as suas actividades regulares e projectos.

Neste momento, ainda não se sabe quantos dos cinco mil trabalhadores serão abrangidos pelo layoff e quantos continuarão a trabalhar normalmente. Rogério Nogueira espera que nas reuniões da próxima semana a empresa divulgue estes dados.

A situação que se vive na fábrica da Volkswagen também poderá afectar as empresas de Palmela que fornecem peças e componentes à Autoeuropa.

“O impacto será bastante significativo em muitos dos fornecedores”, disse à Lusa esta semana o coordenador das Comissões de Trabalhadores do Parque Industrial da Autoeuropa, Daniel Bernardino, alertando que os “trabalhadores temporários e os contratados poderão vir a ser os mais afectados pela paragem de produção na fábrica de automóveis”.

O dirigente sublinhou que as empresas que não têm flexibilidade vão enfrentar uma situação mais complicada, notando que mesmo as que podem recorrer a mecanismos como os down days terão dificuldades, porque os dias de não-produção não são em número suficiente para fazer face a tantos dias de paragem.

A Autoeuropa produziu, no ano passado, um total de 231.100 automóveis, cerca de 71% dos veículos produzidos em Portugal em 2022.

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