Quase 13 mil soldados da ONU em retirada “sem precedentes” do Mali, diz Guterres
Guterres disse que a logística de movimentação de tropas e equipamento é ainda mais limitada pela presença de “grupos armados terroristas”.
A retirada de quase 13.000 soldados da Missão de Estabilização Multidimensional Integrada das Nações Unidas no Mali (Minusma) é uma operação “sem precedentes”, sublinhou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Numa carta de 13 páginas, distribuída aos membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas na segunda-feira, Guterres disse que “o cronograma, o âmbito e a complexidade da retirada da missão não têm precedentes”.
O “vasto terreno do país sem litoral, o ambiente operacional hostil em certas regiões e os seus climas tornam a retirada da missão dentro de um prazo de seis meses extremamente difícil”, admitiu o português.
O documento foi distribuído numa reunião do Conselho de Segurança da ONU dedicada ao progresso da retirada da Minusma, que deverá estar concluída até 31 de Dezembro, uma exigência do Governo do Mali.
Guterres disse que a logística de movimentação de tropas e equipamento é ainda mais limitada pela presença de “grupos armados terroristas” e pela recente tomada do poder por parte de uma junta militar no vizinho Níger.
O líder da missão, El-Ghassim Wane, disse na reunião que a retirada registou "progressos significativos" e está no "bom caminho", mas admitiu que a segunda fase poderá ser “extremamente difícil", devido aos mesmos factores mencionados por Guterres.
A título de exemplo, Wane descreveu a experiência do encerramento do campo de Ber, no qual o último comboio de ‘capacetes azuis’, equipamentos e materiais levou 51 horas para percorrer um percurso de 57 quilómetros para chegar à cidade de Timbuktu.
"Isso deveu-se à natureza do terreno, que é desfavorável – situação agravada pela estação chuvosa – e insegurança. Este comboio foi atacado duas vezes por elementos extremistas não identificados, ferindo quatro ‘capacetes azuis’ e danificando três veículos antes de chegar a Timbuktu", disse.
Desde 2012, o Mali enfrenta uma profunda crise de segurança que começou no norte e se espalhou para o centro do país, bem como para os vizinhos Burkina Faso e Níger.
A Minusma, que está há 10 anos no país africano, começou a abandonar as suas posições depois de em Junho o Governo transitório maliano, liderado por uma junta militar, pedir a sua retirada "imediata", solicitação que foi aprovada posteriormente pelo Conselho de Segurança da ONU.