Caso Rubiales: a culpa do machismo é tanto das mães como dos pais

A educação é uma das maiores formas de combate ao machismo e ao patriarcado, defendem as feministas Elisabete Brasil e Liliana Rodrigues. O exemplo deve partir tanto da mãe, como do pai.

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Rubiales foi suspenso pela FIFA depois de se ter recusado a demitir-se Reuters/HANDOUT
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Depois de uma semana de controvérsia à volta de Luis Rubiales, a mãe do presidente suspenso da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) fechou-se numa igreja, em greve de fome. Está a protestar contra “a perseguição desumana e sangrenta”, diz, defendendo o filho, que, acredita, beijou com consentimento a jogadora Jenni Hermoso. A atitude de Ángeles Béjar é uma chamada de atenção para a importância da educação para a igualdade, que deve ser feita pelo exemplo, apelam as feministas Elisabete Brasil e Liliana Rodrigues.

Rubiales continua a defender-se e a minimizar a gravidade da polémica, garantido que o beijo foi consentido durante os festejos da conquista do Mundial pela selecção feminina espanhola. Apesar de ter pedido desculpa a Jenni Hermoso e da pressão que se faz sentir em Espanha, recusou demitir-se e a FIFA decidiu suspendê-lo. Todavia, a mãe considera que existiu “consentimento de ambas as partes” e descarta a narrativa de “abuso sexual”, pedindo a Hermoso que venha a terreiro dizer a verdade.

Nem a mãe, nem o filho compreendem a dimensão da polémica, começa por assinalar Elisabete Brasil, coordenadora de estrutura de atendimento a vítimas de violência doméstica na associação Feministas em Movimento. “Nesta história, o próprio não consegue perceber a gravidade da atitude, que enquadra de forma corajosa. Ele é que é o coitado”, observa.

O mesmo se aplica a Ángeles Béjar, que tem o julgamento toldado pela proximidade e até pelas suas crenças: “A própria mãe não tem consciência. Protegemos as nossas crias, mas educar para a igualdade é uma forma de proteger os filhos.” O dirigente e a mãe foram educados no patriarcado e, como tal, não têm capacidade de olhar para a situação “com outra lente”.

A culpa dos filhos serem machistas é das mães? A culpa para o alienamento de Rubiales é em parte a forma como a mãe o educou, mas não só, salvaguarda Elisabete Brasil. “É claro que também há mulheres machistas. Aquilo que faz com que o machismo se vá perpetuando é não ser identificado e a reprodução constante de desigualdade entre homens e mulheres.”

A responsabilidade é, assim, tanto da figural parental feminina, como masculina, apesar de os holofotes se virarem muitas vezes para as mães, uma vez que “a educação continua muito a cargo das mulheres na sociedade patriarcal”. É que, “quando o pai está a tratar a mãe de forma desigual, está a legitimar. Mas a mulher, quando aceita, também está a dizer que é normal ser assim”, diz a especialista.

Continua a existir “uma desigualdade naturalizada e invisível”, declara. A presidente da União de Mulheres, Alternativa e Resposta (UMAR), Liliana Rodrigues, concorda: “Somos educados para que rapazes e raparigas se comportem de formas diferentes.” E concretiza: “É legitimado que os rapazes possam ter comportamentos mais sexualizados. São considerados garanhões. Se forem as mulheres, são vadias.”

Como tal, “é a partir da educação que conseguimos combater as estruturas sexistas”, insiste a investigadora da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Como essa educação para a igualdade, tanto nos meninos, como nas meninas, nem sempre se faz correctamente em casa, é fundamental o trabalho da escola, defende. “A sociedade sexista deve ser combatida na infância, desde antes do 1.º ciclo.”

O consentimento também é fundamental e é preciso ser ensinado. “Quem agride não ama. Quem violenta não gosta”, reforça Liliana Rodrigues, apelando a que o mesmo ensinamento se estenda a contextos como o futebol. “É preciso ter estruturas no desporto de educação para a diversidade.”

Luis Rubiales: o último machista?

A polémica de Rubiales mostra que ainda é preciso continuar a trabalhar para essa educação de que fala a dirigente da UMAR. “Enquanto existirem femicídios, muita coisa tem de ser mudada”, defende. Ainda assim, mostra alguma esperança nas novas gerações, que se têm “posicionado no combate destas violências”.

Elisabete Brasil da Feministas em Movimento preocupa-se, todavia, com os exemplos que se continuam a perpetuar nas redes sociais e que fazem com que a geração de Luis Rubiales não seja a última de machistas. Influencers que defendem a superioridade do sexo masculino, como é o caso de Andrew Tate, contribuem para “um retrocesso nos direitos das mulheres”. E reforça a preocupação: “Hoje, a camada mais jovem liga mais às redes sociais do que a um jornal. É essencial que não se espalhem mensagens sexistas.”

Assim, a luta pela igualdade continua a ser tão importante como nunca, repete. “O caminho do patriarcado conduz a múltiplas violências e subalternidades. Não é o caminho dos direitos humanos. É importante que os defendamos e estejamos sempre alerta”, deixa à laia de apelo.

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