Deputada conservadora britânica demite-se com forte ataque a Rishi Sunak

Nadine Dorries, aliada de Boris Johnson, afasta-se dois meses e meio depois de ter anunciado a intenção, deixando ao partido uma eleição para o seu círculo que pode não ser muito fácil.

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Nadine Dorries deixou uma crítica feroz ao chefe de Governo, Rishi Sunak, na sua carta de demissão HENRY NICHOLLS/Reuters
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A deputada conservadora Nadie Dorries demitiu-se com uma longa carta atacando ferozmente o primeiro-ministro, Rishi Sunak, e deixando o Partido Conservador a ter de enfrentar uma eleição suplementar (by-election) que pode trazer más notícias para os tories.

A eleição no círculo de Mid-Bedfordshire irá realizar-se provavelmente no Outono e, por isso, perto da conferência do Partido Conservador, diz o jornalista de Política da BBC Iain Watson. Se Dorries se tivesse demitido em Junho, quando anunciou que o iria fazer, a eleição suplementar teria ocorrido antes da interrupção do Parlamento para férias de Verão, e junto com outras três by-elections do mês passado.

Como demorou a concretizar a saída, Dorries deixa Sunak numa posição que o pode deixar mais pressionado por esta votação.

Mid-Bedfordshire traria uma vitória segura para os tories, já que a vantagem de Nadie Dorries era de mais de 24 mil votos, no entanto, o partido ainda está a recuperar da perda para o Partido Trabalhista de Selby and Ainsty, no North Yorkshire, na região Nordeste de Inglaterra, onde os tories tinham uma vantagem de cerca de 20 mil votos, mas perderam contra um candidato trabalhista de apenas 25 anos. Isso mostra, diz o Guardian, que mesmo os círculos onde o partido podia esperar uma vitória certa estão agora vulneráveis.

E as by-elections são, sublinha a Reuters, consideradas das poucas oportunidades para medir o pulso dos eleitores antes das legislativas, que deverão decorrer no próximo ano.

Na carta de demissão, que foi publicada no jornal Daily Sunday, Dorries atacou Sunak, dizendo que desde a sua tomada de posse que “o país está a ser gerido por um Parlamento zombie onde não aconteceu nada de significativo”.

A deputada acusou Sunak de “não ter mandato do povo” e de chefiar “um governo à deriva”, tendo “desperdiçado a boa vontade do país”.

As acções do primeiro-ministro, continuou, “deixaram alguns 200 ou mais dos meus colegas deputados a enfrentar um tsunami eleitoral" e em riscos de perder "os seus meios de subsistência”, já que, na sua “impaciência para se tornar primeiro-ministro”, Sunak pôs a sua “ambição pessoal acima da estabilidade do país e da economia”.

“Perplexos, procuramos em vão a grande visão política a que as pessoas deste grande país se possam agarrar, que faça valer a pena toda esta perturbação e subsequente inércia, e não encontramos absolutamente nada”, escreveu Nadine Dorries.

A deputada demissionária acusou ainda o primeiro-ministro de não ter trabalhado com as empresas britânicas e lançou uma farpa em relação ao “sorriso resplandecente" e aos "sapatos Prada” do chefe do Governo.

Sunak, que foi ministro das Finanças depois de uma carreira na banca de investimento, assumiu a chefia do Governo britânico em Outubro, tentando, sublinha a Reuters, usar as suas credenciais tecnocráticas para trazer de volta a credibilidade do partido. Esta foi abalada por um mandato tempestuoso de Boris Johnson, marcado pelos escândalos das festas que contrariaram as regras da covid impostas pelo seu próprio Governo (e de ter mentido ao Parlamento) e por uma instabilidade económica que levou à demissão da sucessora de Johnson, Liz Truss, após apenas seis semanas no cargo.

Com os problemas a avolumarem-se, da inflação ao estado do Serviço Nacional de Saúde (NHS), os conservadores foram ultrapassados pelos trabalhistas nas sondagens e há meses um discurso da ministra do Interior, Suella Braverman, foi visto como um desafio à liderança de Sunak.

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