Trump evocou potencial violência política em conversa com Tucker Carlson
Antes de se entregar na prisão da Geórgia, Donald Trump desdenhou do debate entre candidatos republicanos e foi falar da possibilidade de violência política nos Estados Unidos.
Horas antes de se entregar na prisão de Atlanta onde ouvirá formalmente a acusação de tentar reverter, de modo ilegal, a sua derrota nas eleições presidenciais de 2020 na Georgia, Donald Trump esteve numa conversa com Tucker Carlson em que ambos evocaram teorias de conspiração, repetiram afirmações falsas e afloraram a possibilidade de violência política nos Estados Unidos – mais Carlson do que Trump.
A conversa na rede social X (antigo Twitter), descrita como uma entrevista, do ex-Presidente acusado, entre outros motivos, por tentar reverter ilegalmente o resultado eleitoral, com o pivot, afastado da Fox News por mentir sobre quem tinha vencido as eleições, foi difundida à hora em que os outros candidatos à nomeação republicana debatiam questões políticas (incluindo o apoio ou potencial perdão ao próprio Trump),
Foi marcada por apartes sobre as pernas de Joe Biden (“pernas magras”, comentário de Carlson sobre o Presidente não ser “suficientemente atlético”; “fica horrível na praia”, disse Trump), a morte de Jeffrey Epstein (“não sou de teorias da conspiração, mas…”, disse Carlson, perguntando duas vezes a Trump se acreditava que este se tivesse suicidado na prisão), e o ataque ao Capitólio, em que morreram cinco pessoas, mas que o ex-Presidente apresentou como “a maior demonstração de amor e unidade”.
Alguns dos momentos mais relevantes aconteceram quando Carlson tentou que Trump fizesse declarações sobre o potencial de violência no país, incluindo sobre se o ex-Presidente considerava que podia ser alvo de uma tentativa de assassínio. “Começou com protestos organizados pela esquerda, depois o impeachment, duas vezes, e agora as acusações. O próximo passo é a violência”, disse Carlson, citado pela Bloomberg. “Está preocupado que o tentem matar? Porque não tentariam matá-lo?” Trump não respondeu, mas Carlson não desistiu, falando dos quatro processos em que Trump é acusado. “O que se segue? Estão a tentar pô-lo na prisão para o resto da sua vida, e isso não está a resultar. Os seus números nas sondagens estão a subir. Não vão ter de o matar?” Trump voltou a não responder.
Mas ao ser questionado sobre se a América está a caminhar para um conflito aberto, Trump disse: “Não sei. O que posso dizer é que há um nível de paixão como nunca vi. Há um nível de ódio como nunca vi. E isso é provavelmente uma má combinação.”
Sobre ter preferido estar numa plataforma na Internet e não no debate televisionado dos concorrentes à nomeação republicana, Trump disse: “Estou à frente por 50 ou 60 pontos. E alguns deles têm um, zero, dois… O que vou lá fazer, uma hora ou duas e ainda ser hostilizado por pessoas que nem sequer deviam concorrer à presidência?”
Trump também revelou o que mudaria num segundo mandato presidencial com base no que correu mal no primeiro: não voltaria a escolher um tipo de republicanos, a que se referiu de modo pejorativo, como ‘Bushies’ para cargos de topo, destacando por exemplo o procurador-geral William Barr. “Desta vez, vamos ter pessoas ainda melhores, porque agora eu conheço Washington.”
Tudo isto causa apreensão, como escreveu o jornalista Zack Beauchamp no site Vox. “Devemos acreditar que ele está a falar a sério. O New York Times e outros já revelaram preparativos para assegurar que, desta vez, toda a gente lhe seja leal, incluindo através de tomadas descaradas do poder como o despedimento em massa de funcionários públicos ou o controlo presidencial directo sobre agências federais historicamente independentes.”
Ou seja: “Um Trump sem limites não quer apenas dizer que falte a debates para ir atiçar teorias da conspiração com Tucker Carlson”, concluiu Beauchamp. “Quer dizer que, se ganhar as eleições, vai ser ainda mais perigoso do que o que era da última vez. E se perder, vai atacar a legitimidade do resultado de qualquer modo, e com o peso de um partido republicano refém dos seus eleitores, a apoiá-lo”.