As memórias das mesas de camilha que aquecem Portugal
À volta destas mesas rezava-se o terço, cosia-se, aquecia-se. Por baixo da camilha morava uma braseira. Quando a electricidade chegou, as mesas foram chutadas para canto e ficaram altares domésticos.
Sexta-feira à noite, 1982, televisor sintonizado na RTP1. Ruy de Carvalho e Simone de Oliveira montam uma das suas artimanhas para que a arruinada família aristocrática no centro da série Gente Fina É Outra Coisa continue à tona da água financeira. No canto do quarto, está uma mesa de camilha com toalha dourada, sustento para um candeeiro e retratos emoldurados e mais uns bibelôs. Era apenas o segundo episódio da série em que a grande dama do teatro Amélia Rey Colaço se estreava em televisão, aos 84 anos, mas os seus cenários indiciavam uma espécie de epílogo para uma peça de mobiliário que começou por ser um aquecedor, depois um apoio para as memórias da família e, por fim, um vestígio de uma era.
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