Eleições num Equador devastado pelo crime

Violência crescente no Equador ganhou novos contornos durante a campanha eleitoral, com o assassínio de um dos candidatos à presidência.

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Militares preparam urnas e boletins de voto numa escola em Quito Reuters/HENRY ROMERO
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Os primeiros receios não se concretizaram: quando o Presidente Guillermo Lasso, acusado de peculato pela oposição e ameaçado por um processo de destituição, dissolveu a Assembleia Nacional, determinando a realização de legislativas e presidenciais antecipadas, a polícia e o Exército foram colocados de prevenção em Quito, mas não houve protestos violentos. O pior veio a seguir, com o assassínio de Fernando Villavicencio, de 59 anos, um dos oito candidatos à presidência nas eleições deste domingo no Equador, morto a 9 de Agosto, à saída de um comício.

Uma semana depois de Villavicencio, era assassinado outro político, da província de Esmeraldas. A campanha mostrou a dimensão da violência dos cartéis da droga e da insegurança em que o vive o país, com ataques em locais públicos e massacres em prisões, uma crise que estará na mente de muitos dos 13,5 milhões de equatorianos chamados a votar.

O nome do candidato e ex-jornalista permanece nos boletins, mas no seu lugar concorre um amigo, o também jornalista Christian Zurita, que estava presente quando Villavicencio foi morto.

Zurita considera que o país se tornou um “narco-estado”: “É um processo de total deterioração das condições sociais em lugares que não conheciam a violência”, disse num encontro com a imprensa estrangeira, citado pelo jornal The Guardian. O agora candidato acredita que Villavicencio foi assassinado por querer militarizar os portos que desempenham um papel fundamental no tráfico de cocaína. A polícia deteve seis suspeitos, todos colombianos, descritos como membros de facções criminosas.

Segundo dados oficiais reunidos pelo diário El País, as mortes violentas no Equador quadruplicaram desde 2019 e só em 2022 o país passou 165 dias sob quatro estados de excepção, “a única fórmula aplicada pelo Governo para combater o aumento do crime” face a “uma onda de violência de dimensões incontroláveis”. O ano passado terminou com a maior taxa de homicídios de sempre, com 26 crimes por cada 100 mil habitantes, e este ano já houve 4200 mortes violentas, números que ameaçam fazer do país um dos mais violentos do mundo.

As últimas sondagens são de 10 de Agosto e não é possível saber que peso terá o assassínio de Villavicencio nas urnas. Quando as eleições foram anunciadas, o movimento Revolução Cidadã, que Rafael Correa controla, tinha acabado de vencer as eleições regionais e locais e partia bem posicionado. Os últimos inquéritos divulgados confirmavam o possível regresso do “correísmo” ao poder, apontando a sua candidata, Luisa González, como favorita.

Mas as sondagens também mostravam que González deverá ter de disputar uma segunda volta e não é certo quem será o seu rival. Tendo em conta as suas “apostas de mão dura face à insegurança”, a campanha poderá beneficiar Otto Sonnenholzner, ex-vice-presidente de Lenín Moreno (2017-2021), e Jan Topic, o economista conhecido como Bukele equatoriano, em referência ao Presidente de El Salvador, Nayib Bukele, escreve o El País. Quem quer que seja eleito só ficará no cargo durante 18 meses, terminando o mandato de Lasso.

Comparando a situação no Equador à da Colômbia, quando “os cartéis de Medellín e de Cali estavam a devastar o país”, o general Paco Moncayo, que foi conselheiro de segurança nacional de Lasso, defende que uma solução militar não basta. “A arma suprema dos traficantes de droga é a corrupção; eles precisam de juízes, procuradores, polícias e políticos corruptos”, afirmou, em declarações ao Guardian. É a corrupção que permite “aos traficantes capturar a soberania do Estado e cercá-lo” e, até que essa crise seja enfrentada, disse, a segurança não vai melhorar.

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