Morreu Ron Cephas Jones, o pai e avô William Hill de This is Us

Actor sofria de doença pulmonar obstrutiva crónica e fora submetido a duplo transplante de pulmão em 2020. “Ron era um dos melhores — no ecrã, no palco e na vida real.”

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Ron Cephas Jones tinha 66 anos MIKE BLAKE/Reuters
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O actor norte-americano Ron Cephas Jones, mais conhecido por interpretar o pai e avô William Hill na série This is Us, morreu aos 66 anos. A causa da morte foi um “problema respiratório de longa data”, disse no sábado um seu representante em comunicado. Jones recebeu dois Emmys pela sua interpretação do pai biológico, problemático mas empenhado, da personagem de Sterling K. Brown, Randall Pearson.

“Ao longo da sua carreira era caloroso e a sua beleza, generosidade, gentileza e coração eram sentidos por todos que tivessem a sorte de o conhecer”, diz ainda o comunicado assinado por Dan Spilo, o seu manager, que aproveita para lembrar que Jones começou no Nuyorican Poets Cafe, um espaço nova-iorquino que durante 40 anos deu palco a poetas, músicos, actores ou artistas visuais e que serviu de rampa de lançamento a muitos nomes.

É uma forma de recordar que, apesar de a televisão ter tornado Ron Cephas Jones um nome mais caseiro, ele começou e nunca deixou o teatro, tendo sido nomeado para um Tony recentemente pelo seu papel em Clyde’s na Broadway. Nascido em Nova Jérsia, mais precisamente em Patterson, frequentou a universidade começando por estudar jazz mas mudou para teatro e não mais o deixou. Viajou pelos seus Estados Unidos como camionista, mudou-se para Nova Iorque nos anos 1980 e depois de muito burilar a sua técnica no Nuyorican Poets Cafe, o seu primeiro grande papel foi na peça Holiday Heart, de Cheryl West.

É, aliás, como um “actor de teatro veterano” que a agência de notícias Associated Press o descreve, como prelúdio para a inevitável constatação de que foi o seu papel como pai ausente e depois redimido que o tornou reconhecível pelo grande público. Na televisão, teve papéis em séries como Mr. Robot, Luke Cage ou Lisey’s Story — ou seja, passou de um dos últimos grandes dramas familiares televisivos de um canal generalista como a ABC (em Portugal era exibida no canal temático Fox Life), agregador de públicos e bem-sucedido entre os amantes de uma série sequencial e os fãs de televisão “de prestígio”, para títulos dos incumbentes do mercado, os novatos da Netflix e da Apple TV+, respectivamente. Antes disso, fez o que muitos actores residentes em Nova Iorque fazem: apareceu em episódios soltos do franchise policial Lei & Ordem ou A Balada de Nova Iorque.

Além do teatro, que o levou a trabalhar com a Steppenwolf Theatre Company de Chicago, por exemplo, também molhou o pé no cinema. Teve pequenos papéis em filmes como Half Nelson — Encurralados (2006), Titus (2013) ou Chamem-me Dolemite (2019).

Mas This Is Us foi o seu cartão-de-visita para a casa de milhões de pessoas. Quando o PÚBLICO visitou as filmagens da série em 2017, o actor destacou o que tornava a série especial. Antes, uma personagem como a sua não teria lugar na televisão: “Ele é bissexual, músico de jazz, intelectual, ex-presidiário, ex-toxicodependente, artista, poeta. Não vês homens assim. Eu conheço homens assim. Cresci com homens assim. Mas nunca os vejo no ecrã”. A série foi assim tão transversal.

Os seus problemas de saúde agudizaram-se em 2020, quando teve de recorrer a um duplo transplante pulmonar para tentar debelar a sua doença pulmonar obstrutiva crónica. Tornaram-se públicos em 2021, quando disse ao New York Times que teve de reaprender a respirar e até a andar. “Sou um milagre ambulante”, disse aos seus colegas de This is Us durante o final da série, quando sofria com a doença. Ainda assim, não só voltou a fazer teatro como foi premiado por isso, com um Drama Desk Award pela sua última peça na Broadway.

Agora, os seus colegas lamentam a sua morte nas redes sociais, começando por Sterling K. Brown, que recorreu ao Instagram para declarar que “o mundo está um pouco menos luminoso” devido à sua perda. Dan Fogelman, criador de This Is Us, disse no antigo Twitter (agora conhecido como X) que “Ron era um dos melhores — no ecrã, no palco e na vida real”, acrescentando: “que actor. Acho que nunca mudei um único take dele porque tudo o que fazia era perfeito”.

Octavia Spencer, com quem partilhou plateau na série Truth Be Told, da Apple TV+, partilhou também no Instagram como “Ron era um actor incrivelmente talentoso e, mais importante, um ser humano maravilhosamente bondoso. Todos os dias com o Ron no plateau eram bons dias”.

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