Por favor, cresçam depressa

Mais do que nunca, este é o momento de a política forçar as respostas absolutamente imperiosas para salvarmos a Terra.

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À volta dos títulos para a primeira página desta edição especial do PÚBLICO em papel, fomos pondo na mesa vários que terminavam em “aviso final”, “último aviso”, “abismo”, “extinção”... Olhando para os acontecimentos deste Verão, no seu desfilar de fenómenos meteorológicos extremos, recordes de temperatura, inundações, incêndios, o tom terminal era mais do que justificado.

Nunca, como nos últimos meses, foram tão claras as consequências das alterações climáticas, traduzidas num rasto de sofrimento e destruição que irá crescer exponencialmente nos próximos tempos. Não sabemos (ou tememos saber?) se em alguns casos já ultrapassámos o ponto de não retorno, mas é certo que estamos a ter um vislumbre do fim. “Arriscamo-nos a perder tudo", como afirma o cientista do clima da NASA Peter Kalmus.

Mas duas razões afastaram-nos de escrever um título em tom de epílogo. A primeira é que, certamente, este não será o último aviso. Estamos cansados de ser alertados e de alertar e sabemos que, num mundo em que as forças se parecem reunir para continuar a contrariar a mais básica necessidade de respostas urgentes, amanhã vamos ter de o fazer outra vez. O planeta está pior, mas os humanos também. Os negacionistas, as forças populistas, a contínua persistência nos combustíveis fósseis, mesmo de quem se diz empenhado nas metas ambientais, mostram que um consenso salvador é ainda uma miragem. O que está mau vai ficar pior, e o papel do PÚBLICO, nomeadamente através da sua secção Azul, é continuar a dizer "presente". É isso que fazemos, mais uma vez, hoje.

A segunda razão é que é nossa obrigação manter a porta aberta à esperança. Nem que seja, como nos diz Denis Hayes, o organizador do primeiro Dia da Terra, em 1970, para que a humanidade invoque o “seu instinto biológico de sobrevivência”. Fazemo-lo com a amarga constatação de que a geração que neste momento ocupa os postos de responsabilidade falhou redondamente. Mas é preciso deixar espaço para os próximos, para os jovens como os 16 de Montana ou os seis de Portugal, que processaram os responsáveis políticos pela sua negligência criminosa.

Mais do que nunca, este é o momento de a política forçar as respostas absolutamente imperiosas para salvarmos a Terra. Temos de transformar o voto na alavanca de mudança, mas precisamos urgentemente de o poder entregar a uma nova geração de políticos que represente a esperança que a actual já não oferece. E daí, o mais desesperado e injusto apelo: por favor, cresçam depressa.

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