Jogadoras trans de xadrez banidas de competições femininas até género ser “confirmado”
O novo regulamento da Federação Internacional de Xadrez diz que mulheres trans podem ser impedidas de competir em eventos femininos durante dois anos. As novas regras já motivaram várias críticas.
Mulheres trans não vão poder participar em competições de xadrez femininas até a Federação Internacional de Xadrez (FIDE) confirmar que existiu “mudança de género”. A decisão da FIDE foi publicada esta segunda-feira, segundo a Associated Press (AP), e já motivou críticas de grupos de activistas e defensores dos direitos trans.
No novo regulamento, define-se que as mulheres trans ficarão impedidas de participar em eventos exclusivos ao género feminino por períodos que podem chegar aos dois anos. Durante este tempo, no entanto, podem continuar a participar nas competições abertas, como é o caso do Campeonato Mundial de Xadrez, que não impõem barreiras de género.
“A FIDE e as associações membro têm recebido mais pedidos de reconhecimento de indivíduos que se identificam como transgénero. A FIDE reconhece uma identidade de género de um indivíduo que seja consistente com a identidade que mantém fora do xadrez e que tenha sido confirmada pelas autoridades nacionais, com base num processo de mudança legal e formal”, lê-se no manual da federação.
O Centro Nacional para a Igualdade Transgénero, dos Estados Unidos, não tardou a demonstrar a indignação com as novas regras na rede social X (antigo Twitter): “A sério? Xadrez? Isto é insultuoso para mulheres cis, para mulheres trans e para o jogo em si. Assume-se que as mulheres cis não seriam competitivas contra homens cis e [as regras] baseiam-se em ideias ignorantes anti-trans.”
A discussão sobre a participação de pessoas trans em modalidades desportivas ao lado de pessoas cis do mesmo género não é nova. No entanto, normalmente, o argumento usado por aqueles que se opõem é a questão da suposta vantagem física biológica. O xadrez é um desporto estratégico e cognitivo, notam os críticos da medida.
“[A decisão] sugere que o sexo masculino é melhor do ponto de vista estratégico”, disse Richard Pringle, professor de Sociologia e Educação da Universidade de Monash, na Austrália, ao The Washington Post. “Não é só transfóbica, também é anti-feminista”, comentou.
Ao longo do novo regulamento existem outras regras com contornos peculiares. Por exemplo: se um homem trans tiver títulos da altura em que competia na categoria feminina, estes são retirados assim que a FIDE confirmar que o jogador se identifica com o género que não lhe foi atribuído à nascença. Já mulheres trans que tenham títulos masculinos podem mantê-los.
No documento, a FIDE esclarece ainda que, apesar de “não discutir publicamente a mudança de género do jogador”, “tem o direito de informar organizadores e outras entidades relevantes sobre a mudança, para permitir que se acompanhe o historial do jogador”. Na base de dados individual, a federação também poderá colocar informação sobre o facto de o jogador se tratar de uma pessoa trans para “evitar participações ilegais em torneios”.
A ausência de menção a restrições à participação de homens trans prende-se com o facto de a maioria das competições de xadrez não fazerem divisões por género, existindo apenas um Campeonato Mundial Feminino de Xadrez, mas não um campeonato exclusivamente masculino.