Tragédia na rota do tráfico migrante entre o Senegal e as Canárias

Depois de mais de um mês à deriva, uma piroga foi resgatada e levada para Cabo Verde. Das 101 pessoas a bordo, só 38 sobreviveram. Outra piroga foi resgatada esta quinta-feira ao largo de Marrocos.

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Embarcações num porto senegalês Daniel Rocha
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No dia em que o líder da oposição senegalesa, Ousmane Sonko, deu entrada nos serviços de reanimação devido à greve de fome que iniciou na prisão, condenado por “corromper a juventude”, de Cabo Verde chegava a notícia de uma piroga carregada de senegaleses, na sua maioria jovens, ter sido encontrada à deriva por um barco pesqueiro de bandeira espanhola.

Segundo um relatório da Cruz Vermelha a que a agência Lusa teve acesso, a frágil embarcação andou à deriva durante 41 dias e dos 101 passageiros que iniciaram a viagem, apenas 38 (todos senegaleses com excepção de um guineense) chegaram vivos ao porto de Palmeira, na ilha do Sal, na terça-feira. Eram 39 quando o navio espanhol os encontrou, mas um deles estava tão fraco que faleceu a caminho de terra. Dos que chegaram, 16 tiveram de ser enviados para o hospital devido à desidratação.

"Até serem encontrados, estiveram 41 dias à deriva e a partir do sétimo dia esgotaram os mantimentos, o que custou a vida a mais de 50% dos ocupantes, que foram lançados ao mar devido à decomposição dos corpos", diz o documento, citando o comandante do barco que socorreu e ouviu os sobreviventes.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Senegal confirmou a notícia em comunicado, embora haja uma divergência em relação à data e ao ponto de partida da piroga que, como tantas outras que se lançam mar adentro para tentar alcançar as ilhas Canárias, a mais ou menos 1700 km, devia ter demorado entre quatro a sete dias a percorrer a distância.

Enquanto a Cruz Vermelha refere que a embarcação saiu a 7 de Julho de Saint Louis, junto à fronteira com a Mauritânia, o Governo senegalês, em comunicado, refere que a mesma partiu a 10 de Julho de Fass Boye, a meio caminho entre Dakar e Saint Louis, informação que a Organização Internacional de Migrações confirma.

Aliás, o anúncio da tragédia desatou uma onda de protestos violentos em Fass Boye, de acordo com o jornal Le Quotidien. Jovens em fúria saquearam edifícios públicos e vandalizaram outras estruturas, em protesto pela falta de iniciativa do governo para encontrar a embarcação.

De acordo com o site Infomigrants, nas últimas semanas aumentou o tráfico na rota migrante das Canárias desde o Senegal e a Gâmbia. De acordo com Ahmadou Babmba Fall, coordenador da ONG senegalesa Village du Migrant, em declarações ao El País, 17 embarcações partiram da costa senegalesa (desde Saint-Louis, Rufisque, Mbour, Kayar, Kafountine e Fass Boye) nestes últimos três meses.

Esta quinta-feira, outra piroga com 75 senegaleses a bordo foi socorrida pela marinha marroquina ao largo da sua costa. Uma dezena de pessoas teve de ser enviada para o hospital para receber assistência médica.

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