Um manto negro cobriu as vidas dos ilhéus de La Palma

Quando os habitantes regressaram às suas casas, em La Palma, após a extinção do vulcão, tudo estava como tinham deixado. Ou quase. Um manto negro cobria tudo o que conheciam. Kinga Wrona mostra como foi.

Imagem do projecto "85" ©Kinga Wrona
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Imagem do projecto "85" ©Kinga Wrona

Foram 85 dias de erupção vulcânica do Cumbre Vieja, na ilha espanhola de La Palma, nas Canárias. Entre os dias 19 de Setembro e 13 de Dezembro, fumo, lava e cinzas foram expelidos do interior do vulcão, fazendo tremer a terra e temer pelas suas vidas os habitantes da ilha.

Após acalmia, a fotógrafa polaca Kinga Wrona visitou La Palma duas vezes, em Janeiro e Março de 2022 e trouxe consigo um retrato de fragilidade humana, que diante da força da natureza sucumbe. "[Quando visitei a ilha,] vivia-se, aparentemente, um período mais calmo", contou ao P3, em entrevista. Na verdade, do ponto de vista humano, "este era o período mais difícil para os habitantes que regressavam a casa, meses após a evacuação, em busca de uma vida normal". 

É notório, nas imagens captadas por Kinga, que os habitantes abandonaram as suas casas abruptamente. "Ao mesmo tempo que me contavam como tinham sido esses momentos, entendi que a maioria nem sequer pensou em levar consigo dinheiro ou bens preciosos", observa. Numa das viagens, a polaca conheceu Ana, uma das habitantes da ilha. "Ela contou-me que a primeira coisa que retirou de casa antes da fuga foi uma pintura feita pela irmã, que faleceu há muitos anos, com apenas 21 anos. Esse quadro é uma das poucas lembranças que guarda dela."

Na ilha, o cenário que encontrou foi, no mínimo, invulgar. Cinza negra cobria os edifícios, invadindo o seu interior. Os carros, as estradas, os campos de futebol, tudo se encontrava coberto de um extraordinário manto negro. "O que me atraiu nesse cenário foi o facto de ele revelar quão próxima é a relação entre o ser humano e a natureza e, ao mesmo tempo, nos lembrar quão frágil é o ambiente criado por humanos", considera. "Para mim, é uma metáfora da fragilidade da existência humana."

Essa fragilidade está bem gravada na mente dos ilhéus com quem Kinga se cruzou. "Foi especial compreender como encaram a sua vida naquela ilha vulcânica e testemunhar a grande humildade que sentem diante do vulcão", comenta a autora do projecto que intitulou 85, em referência à duração da erupção. "Ouvi vários habitantes dizerem que têm noção de que o vulcão lhes deu a terra que pisam e que, sendo assim, esse tem todo o direito de regressar. Gostava que essa consciência e humildade diante da força da natureza existisse em mim e em todos nós."

Imagem do projecto "85"
Imagem do projecto "85" ©Kinga Wrona
Imagem do projecto "85"
Imagem do projecto "85" ©Kinga Wrona
Imagem do projecto "85"
Imagem do projecto "85" ©Kinga Wrona
Imagem do projecto "85"
Imagem do projecto "85" ©Kinga Wrona
Imagem do projecto "85"
Imagem do projecto "85" ©Kinga Wrona
Imagem do projecto "85"
Imagem do projecto "85" ©Kinga Wrona
Imagem do projecto "85"
Imagem do projecto "85" ©Kinga Wrona
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Imagem do projecto "85" ©Kinga Wrona
Imagem do projecto "85"
Imagem do projecto "85" ©Kinga Wrona