Moçambique: polícia trava marcha da Renamo em Vilanculos
Partido da oposição preparou uma manifestação para apresentar o seu candidato à autarquia da cidade de Inhambane, mas os agentes travaram a festa. Em 2019, secretário local do partido foi assassinado.
A polícia moçambicana impediu no domingo a marcha de apresentação do candidato autárquico da Renamo, o principal partido da oposição em Moçambique, em Vilanculos, cidade costeira da província de Inhambane, 715 quilómetros a norte de Maputo.
De acordo com o boletim do Centro de Integridade Pública, a polícia bloqueou a passagem da marcha onde seguia Joaquim Quinito Vilanculo, o candidato do partido à autarquia da cidade, com agentes e um veículo atravessado na estrada que, no entanto, não foi incapaz de conter as inúmeras motorizadas que seguiam no cortejo político. Nem mesmo uma carrinha de caixa aberta que transportava militantes e simpatizantes do partido liderado por Ossufo Momade.
Um vídeo dos acontecimentos mostra que os agentes acabaram por se ver assoberbados pela multidão que forçou a passagem e tiveram de chamar reforços.
Nas eleições autárquicas de 2018, a Renamo obteve 28,33% dos votos, contra 67,70% da Frelimo, o partido no poder em Moçambique desde a independência. Os moçambicanos são chamados às urnas novamente a 11 de Outubro, para escolherem os seus 65 líderes autárquicos (há 12 novas autarquias em relação às 53 de há cinco anos), naquelas que são as sextas eleições autárquicas da história do país.
“Aqui em Vilanculos, a Frelimo tem a mania”, gritava um manifestante para a câmara, ao lado de outro que afirmava que “estão a vir-nos provocar quando estamos a apresentar o nosso presidente que vai ser eleito”, enquanto segurava um cartaz com a cara de Ossufo Momade.
Na semana passada, ao apresentar os seus 65 candidatos, a Renamo, através da mandatária Glória Salvador, garantiu, citada pela Lusa, que “nessa guerra, nós vamos recuar, ficaremos aqui, levaremos todos os nossos compromissos até ao fim”. Há cinco anos a Renamo venceu em oito autarquias.
A atitude da polícia em Vilanculos, impedindo uma manifestação política da oposição, contraria as palavras da mandatária da Frelimo para este acto eleitoral, Verónica Macamo. Na semana passada, referindo-se ao encerramento pacífico da última base da Renamo, no dia 15 de Junho, a política do partido no poder, referiu que os moçambicanos tiveram “uma oportunidade soberana de mostrar ao mundo que não queremos agressão, seja ela verbal, seja de outra índole, queremos que haja festa”.
"Cada um vai explicar o que é que leva na manga para desenvolver o município, o que leva na manga para melhorar a qualidade de vida dos munícipes e isso não se compadece com violência", explicou a mandatária, em palavras aos jornalistas recolhidas pela Lusa.
A violência eleitoral em Moçambique é uma prática comum em todo o país e Vilanculos não é excepção. Em 2019, Moisés Pedro Muabsa, secretário do partido da oposição na cidade, foi esfaqueado por um agente da polícia comunitária e acabou por morrer dos ferimentos, de acordo com a redacção de Moçambique da emissora alemã DW.
José Manteigas, porta-voz nacional, disse na altura que o político de 33 anos tinha recebido ameaças dois dias antes de pessoas que o tinham intimado a retirar a bandeira da Renamo da sua casa e filiar-se na Frelimo. “Muabsa sofreu várias ameaças porque estava a fazer trabalho para a RENAMO e passados dois dias ele foi assassinado.”