Na Universidade de Gante, na Bélgica, estudam-se clássicos da literatura em inglês, de Charlotte Brontë a William Shakespeare. Agora há uma nova inclusão no programa académico da professora Elly McCausland que está a dar que falar: um curso só centrado na cantora norte-americana Taylor Swift.
“Nunca recebi tantos e-mails de estudantes entusiasmados a perguntar se podem inscrever-se”, conta a professora belga. Além de estudantes de Gante, também há exteriores à universidade que querem participar “de qualquer forma”, acrescenta, em entrevista ao The Guardian.
A ideia para o curso ─ que, diz o mesmo jornal, se acredita ser o primeiro deste género na Europa ─ foi proposta pela docente. Elly McCausland diz que sempre encontrou paralelos entre as letras da cantora e a literatura inglesa que estuda há muito. Por exemplo, a música Great War faz eco de como Sylvia Plath (1932-1963) falava da dor da guerra no poema Daddy, enquanto Mad Woman se debruça sobre o patriarcado e a saúde mental de forma semelhante à da romancista norte-americana Charlotte Perkins Gilman (1860-1935).
Intitulado Literatura: Taylor’s Version, o curso deve começar no Outono e vai partir das letras da artista para explorar outros nomes de literatura, do século XIV até à contemporânea Margaret Atwood (1939-). “O que queria mostrar aos estudantes é que, por mais que estes textos pareçam inacessíveis, podem ser acessíveis se os olharmos de um ângulo diferente”, explica. E assevera: “Shakespeare, de certa forma, está a abordar as mesmas questões que Taylor Swift, o que parece de loucos.”
Há quem se mostre céptico sobre a abordagem da professora, mas Elly McCausland lembra que há muito que a música provou ser uma forma de literatura ─ Bob Dylan venceu o Nobel da Literatura em 2016. “Isto põe as pessoas a falar sobre o que é literatura, o que é o cânone. Qualquer texto pode ser literatura?”, questiona.
Apesar de McCausland estar a gerar controvérsia, não é a primeira a levar Taylor Swift para o ensino. Em 2022, o Instituto Clive Davis, da Universidade de Nova Iorque, estreou um curso sobre “os apelos e as aversões” da obra de Swift. Desde então surgiram vários cursos semelhantes nos Estados Unidos, para estudar o fenómeno da primeira mulher a ter quatro álbuns, em simultâneo, no Top 10 daquele país. Já um professor de Cambridge, no Reino Unido, também ensinou latim com recurso às letras da cantora.
A literatura, reforça a professora, pode estar em qualquer lado, “quer seja na música, na Netflix, nos podcasts, no TikTok”. Por isso pede aos estudantes que pensem nestas coisas de forma crítica, “como todos os tópicos que estudam”. Começar esta revolução académica com Taylor Swift pareceu-lhe o ideal, uma vez que a artista mistura vários estilos, entre temas estruturantes como o feminismo ou a saúde mental, e a sua experiência pessoal. E, claro, Elly McCausland é uma “Swiftie” assumida.
Taylor Swift estará, pela primeira vez, em Portugal no próximo ano. A artista tem dois concertos da Eras Tour agendados para o Estádio da Luz, em Lisboa, a 24 e 25 de Maio. O sucesso da digressão tem sido tal que os fãs da artista fizeram tremer a terra em Seattle. A cantora ofereceu, ainda, a cada membro da equipa, 100 mil dólares (90.755 euros) para agradecer todo esforço feito em prol destes concertos.