Num mês marcado pelo regresso de emigrantes portugueses para férias é importante garantir que as migrações são geridas de forma justa e humana. Isso implica garantir o acesso das pessoas migrantes a direitos básicos (em Portugal e no país onde vivem) – como trabalho digno, habitação, educação e cuidados de saúde. Não esquecendo, ainda, a urgência da inclusão social e combate a discriminação para construir sociedades mais equitativas.
Reflectir nestes temas é, inevitavelmente, desenvolver conceitos de sustentabilidade. De modo simplista, podemos definir a sustentabilidade (social) como a capacidade de uma sociedade satisfazer as necessidades que surgem no imediato, mas sem comprometer a capacidade de futuras gerações fazerem o mesmo. Ter esta definição presente ao longo da vida é cada vez mais importante, na medida em que as necessidades sociais são cada vez mais diversas e transformam-se a um ritmo frenético (por exemplo, podemos considerar as alterações climáticas).
As pessoas (e/i)migrantes são agentes centrais na busca de melhores condições de vida, seja por motivos económicos, políticos, sociais ou ambientais. Todavia, é importante considerar que os movimentos migratórios não englobam só quem emigra, mas a família e amigos “cá e lá”.
Talvez as festas dos emigrantes sejam um bom momento de convívio, mas não resolvem (de todo) a falta de condições a uma vida digna em Portugal. Desde os emigrantes dos anos 70 para França ao brain drain que começou na década passada – jovens adultos que têm de emigrar por não haver condições à sua autonomia, dignidade e bem-estar laboral – permanece a questão: o que temos feito por estas pessoas? O que temos feito individual e colectivamente?
Colectivamente, os mais variados organismos sociais devem resolver a precariedade dos empregos, a cristalização de comportamentos para adaptar as suas acções à incerteza actual e regular a especulação imobiliária. Em suma, devem desenvolver práticas e políticas que prestem suporte a todos – os que partem, bem como a todos os que ficam sem a presença e suporte de quem vai – e não somente os interesses financeiros macroestruturais.
Individualmente, é urgente estabelecermos acções ou comportamentos com empatia para explorar, sem medo, a vida e necessidades que a outra pessoa nos apresenta. A empatia faz-nos ver com o outro, permitindo-nos agir com solidariedade e com sustentabilidade perante todas estas vidas que foram multidesafiadas.
Um bom exemplo de solidariedade e empatia para com emigrantes são as suas figuras parentais, que ficaram. Durante este último ano conduzi uma serie de entrevistas que tinha como objectivo perguntar a mães, pais ou figuras cuidadoras de jovens emigrantes “como participa na vida do seu filho”. Todos, sem excepção, participam afectivamente. Podem, quando assim possível, ajudar em questões mais materiais, mas a questão central está em "estar e ajudar como é possível". Curiosamente, em estudos prévios pude verificar que quem emigra, genericamente, faz o mesmo com as suas figuras parentais.
Estas dinâmicas que podem parecer mais inócuas são um exemplo de sustentabilidade: nas relações, na gestão da insegurança que é estar emigrado versus ser-se familiar a envelhecer sem suporte digno. O desafio que deixo a todos nós é: como podemos fazer a diferença na construção de vidas e comunidades mais coesas, resilientes e tolerantes?