Morreu Jamie Reid, o designer gráfico do punk, um “anarquista, rebelde e romântico”

Artista e designer foi o autor das capas dos discos e dos posters dos Sex Pistols, de Never Mind the Bollocks a God Save The Queen.

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Jamie Reid (de frente, à direita) com os Sex Pistols no Tamisa, em 1977 Brian Cooke/Redferns/getty images
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Poster do single "God Save the Queen", dos Sex Pistols. Jamie Reid ficou conhecido pelas colagens icónicas que inscreveram os Sex Pistols na cultura popular e visual cortesia sotheby's
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Foi ele que definiu a estética do movimento punk da década de 1970, a partir de Londres e a partir das capas dos discos dos Sex Pistols. Jamie Reid morreu aos 76 anos, anunciou esta quarta-feira a família e o seu galerista, John Marchant, gestores do arquivo dedicado ao trabalho e ao legado deste artista e designer gráfico inglês.

Descrito como um “iconoclasta, anarquista, punk, hippie, rebelde e romântico”, Reid é sobretudo conhecido pelas colagens icónicas que inscreveram os Sex Pistols na cultura popular e visual. À época uma contracultura, o punk britânico dos anos 70 estava umbilicalmente associado à capa amarela e ao lettering de Never Mind the Bollocks (1977), o único álbum dos Sex Pistols; ao retrato sarcasticamente sabotado da rainha Isabel II do single God Save The Queen; à moldura vazia e quebrada de Pretty Vacant; e, claro, ao poster com a bandeira do Reino Unido rasgada de Anarchy in the UK.

O lettering de Jamie Reid era inspirado no corta e cola das letras das cartas anónimas, uma estética que o designer começou a desenvolver na revista de política radical Suburban Press, nos anos 70, ao lado de Jeremy Brook e Nigel Edwards.

O seu trabalho ia beber a movimentos políticos e artísticos revolucionários da década de 1960, como a Internacional Situacionista, encabeçada por Guy Debord. Em 1974, Reid desenhou o livro Leaving the 20th Century: The Incomplete Work of the Situationist International, que compilava textos traduzidos dos autores situacionistas franceses. Croydon, na altura um dos viveiros da contracultura britânica, era o seu poiso e o seu berço.

“A nossa cultura é voltada para a escravidão – para que as pessoas desempenhem funções pré-determinadas, principalmente no local de trabalho. Sempre tentei encorajar as pessoas a pensar sobre isso e fazer algo a esse respeito”, disse o designer em 2015, como que a tentar resumir a sua ética e prática.

O trabalho de Jamie Reid foi exposto em instituições como a Tate Britain, em Londres, o MoMa, em Nova Iorque ou o Museu de Belas-Artes de Houston, no Texas. A par das colagens, o artista fazia também pinturas abstractas.

Mais recentemente, Reid colaborou com o movimento Occupy e com as Pussy Riot, juntamente com o artista Shepard Fairey, o autor do poster de Barack Obama com a palavra “Hope”. Em 2017, criou uma versão de uma das imagens de God Save the Queen, com Donald Trump a fazer as vezes de Isabel II, com suásticas nos lugares dos olhos. O título também mudou: passou a God Save us All (Deus nos Salve a Todos).

Parte da obra e da vida de Jamie Reid está resumida, e contextualizada pelo próprio, no livro Up They Rise: The Incomplete Works of Jamie Reid (1987), feito em colaboração com o jornalista de música Jon Savage.

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