Cantinas universitárias: a evolução necessária para alimentar o conhecimento

Os estudantes universitários passam toda a semana a aprender, mas quem precisa de umas aulas é quem nos governa. Priorizar a ação social é crucial para a igualdade de oportunidades no ensino superior.

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Megafone P3: Cantinas universitárias: a evolução necessária para alimentar o conhecimento Daniel Rocha
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São características de todas as células: metabolismo, crescimento e evolução. A desvalorização da alimentação no ensino superior acaba por ir contra um princípio fundamental das ciências da vida.

É-nos ensinado desde pequenos que as nossas refeições devem ser completas e equilibradas e, como tal, saudáveis. Se a alimentação saudável nos é ensinada desde pequenos, porque chegamos ao ensino superior, que nos nutre com conhecimento de alto nível, e somos nutridos com alimentação de baixo nível?

A comida não é mal confeccionada, mas a realidade é que teríamos de vender órgãos vitais para pagar uma refeição completa na maioria dos sítios. Não é aceitável que a maioria dos espaços seja concessionada a empresas que vendem refeições a seis e sete euros, que em nada são superiores às refeições servidas pelas cantinas sociais. Normalmente são asseguradas pelos Serviços de Acção Social das universidades ou por entidades em contrato com estes. Na Universidade de Lisboa são os SASUL (Serviços de Acção Social da Universidade de Lisboa).

A refeição completa a preço social é de 2,80 euros, actualmente. É assegurada pelos SASUL na cantina da universidade, conhecida como "cantina velha", ou por concessão a empresas nas unidades orgânicas. A refeição é composta por prato, sopa, pão, bebida e sobremesa.

Se é possível servir refeições deste calibre com um custo simbólico, como é possível conceber a existência de espaços dentro das unidades orgânicas que pratiquem preços astronómicos e, muitas vezes, sem ser realmente uma refeição completa?

Na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), houve em tempos uma cantina social no segundo piso do edifício da nossa associação de estudantes. Entretanto fechou, forçando os estudantes que não querem um desequilíbrio alimentar a deslocar-se até à "cantina velha", a cerca de um quilómetro de distância.

Se o problema fosse a preguiça ou os banhos de radiação solar no Verão, estávamos bem. O problema é que temos muitas vezes períodos de almoço com duração de uma hora. Dez minutos de ida e outros 10 de vinda, sobram 40 minutos. Mais 10 minutos na fila e outros 10 a comer, sobram 20 minutos. Depois de uma manhã de aulas, sobram apenas 20 minutos para espairecer a nossa cabeça e prepará-la para a tarde, graças à sobrecarga horária. Mas é mentira, porque fui muito benevolente nos tempos... A verdade é que o tempo não chega para lá irmos, comermos e voltarmos.

Esta ramificação de um problema tão abrangente faz com que nos contentemos com opções menos saudáveis e relativamente mais caras, tendo em conta a relação custo-benefício. É necessária uma cantina social em Ciências. Toda a comunidade académica da Faculdade de Ciências reconhece esta necessidade. E justamente, todas as escolas da Universidade de Lisboa deveriam beneficiar da sua cantina social; o mínimo é que se ergam nas unidades orgânicas que se encontram mais distantes da "cantina velha".

É um facto que já houve uma cantina social no passado da FCUL, por isso é totalmente possível reerguê-la. Existe a estrutura e existem os meios. Depende apenas da "boa vontade" (como se se tratasse de beneficência e não de algo fundamental) de quem pode alocar verbas e investir nos Serviços de Acção Social.

É importante mostrar ao mundo a realidade dos estudantes do ensino superior. E nem queiramos falar de o preço da refeição social ter vindo a aumentar ao longo do tempo. É relativamente barato? Sim, mas pequenas quantias, para famílias mais pobres, podem fazer toda a diferença quando multiplicadas pelos dias úteis do mês.

É imperativo que se reveja o investimento em matérias de Acção Social: alimentação, habitação, saúde mental; que se fixe o preço da refeição social e se ergam mais unidades alimentares que o pratiquem. Que se subtraia no preço e se some no investimento e construção.

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