Rahul Gandhi, líder da oposição na Índia, regressa ao Parlamento

Deputados começam a discutir moção de censura na terça-feira. Está votada ao insucesso, mas o regresso de Gandhi pode dar novo fôlego a uma oposição que procura unificar-se para as eleições de 2024.

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Rahul Gandhi tinha sido condenado em Março num processo por difamação STRINGER/Reuters
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Foi rodeado e aclamado por uma multidão de apoiantes que o líder da oposição indiana, Rahul Gandhi, regressou esta segunda-feira ao Parlamento da Índia, em Nova Deli, para retomar o seu lugar de deputado.

Gandhi foi condenado em Março a dois anos de prisão num caso de difamação e, de seguida, foi “desqualificado” do Parlamento. Mas na sexta-feira o Supremo Tribunal indiano suspendeu a condenação, considerando que a primeira instância não apresentou “suficientes motivos” para aplicar uma pena tão pesada.

A frase que levou Gandhi ao banco dos réus foi: “Porque é que todos os ladrões têm o apelido Modi? Nirav Modi, Lalit Modi, Narendra Modi.” Foi proferida em 2019 e abarcou um empresário ligado ao sector dos diamantes que está foragido das autoridades, um antigo presidente da liga de críquete que também enfrenta processos judiciais e o actual primeiro-ministro.

Foi outro político com o apelido Modi, Purnesh Modi, que apresentou queixa de Rahul Gandhi, alegando que a sua frase era ofensiva para todas as pessoas com aquele apelido. O tribunal de primeira instância do estado de Gujarat, de onde Narendra Modi é natural, aceitou esse argumento e condenou o líder do Congresso Nacional Indiano, o maior partido da oposição, a dois anos de prisão – o que impediria Gandhi de concorrer às eleições legislativas previstas para o próximo ano.

Apesar de considerar que a frase de Gandhi “não foi de bom gosto” e que este “devia ser mais cuidadoso quando profere discursos públicos”, o Supremo Tribunal concluiu que a condenação foi excessiva e prejudicou os cidadãos que votaram nele, que deixaram de ter quem representasse a sua circunscrição eleitoral no Parlamento.

Rahul Gandhi retoma o lugar de deputado um dia antes de começar a ser discutida uma moção de censura ao Governo de Narendra Modi, cujo partido (BJP) tem uma larga maioria na câmara e vai inviabilizar o sucesso da iniciativa. Ainda assim, o regresso de Gandhi pode dar um renovado fôlego à oposição, sobretudo agora que 26 partidos, incluindo o Congresso, se juntaram numa aliança de acrónimo INDIA – ou, em português, Aliança Inclusiva para o Desenvolvimento Nacional Indiano.

A coligação vai reunir-se no fim de Agosto para nomear um painel coordenador e, possivelmente, uma figura de proa capaz de liderar um processo eleitoral. “Um Congresso forte com a crescente estatura [política] de Rahul Gandhi e a liderança determinada de [Mallikarjun] Kharge [presidente do partido] vai fazer da aliança a principal força em todos os estados”, disse à Reuters o líder de um partido da INDIA, Ghanshyam Tiwari.

Mas entre os 26 partidos da aliança há interesses muito diferentes e até conflituantes, o que pode dificultar a escolha de um candidato único a primeiro-ministro. O analista político Asim Ali escreveu no The Times of India que “é muito provável” que, se o Congresso forçar a nomeação de Gandhi, isso “arruíne o objectivo de uma ampla unidade de oposição”.

Bisneto de Nehru, neto de Indira Gandhi e filho de Rajiv Gandhi – todos eles antigos primeiros-ministros da Índia –, Rahul Gandhi, de 53 anos, tem passado os últimos meses em negociações com vista à formação da aliança e em campanha para eleições estaduais pelo seu partido. O Congresso, que dominou a cena política indiana durante mais de cinco décadas, está na oposição desde 2014, quando o partido de Modi varreu as eleições e fez com que a formação de Gandhi perdesse 162 deputados.

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