Preços elevados e menor poder de compra: há menos 7,4% de turistas portugueses no Algarve

Há mais gente a chegar ao aeroporto de Faro, mas de passagem para Espanha. Há quartos de hotel vagos e mesas de restaurantes vazias.

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Hoteleiros elevaram a fasquia, mas o número de turistas portugueses no Algarve baixou em relação ao ano passado Rui Gaudêncio/Arquivo
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Há uns meses, os hoteleiros algarvios esperavam o melhor Verão turístico de sempre. Só que as contas saíram ao lado. Subiram os preços em toda linha, desde o alojamento à restauração, e o mês de Julho ficou aquém das expectativas. Os potenciais clientes, sobretudo os portugueses, pouparam nos gastos – terão ficado em casa ou terão procurado destinos alternativos, mais acessíveis. Contra a expectativa de quem está à frente dos hotéis do Algarve, o mercado português sofreu uma quebra de 7,4%.

Estes dados foram adiantados ao PÚBLICO, esta segunda-feira, pela Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), que também refere, por outro lado, ter existido um aumento, em Julho, de cerca de 7% (dados provisórios) no movimento de passageiros no aeroporto de Faro, em relação ao período homólogo do ano passado. Porém, muitos dos que ali aterraram estiveram só de passagem.

“Muitos turistas, não se sabe quantos, terão ido para o sul de Espanha”, arrisca como explicação, ao PÚBLICO, o presidente da Agência de Promoção de Albufeira, Desidério Silva, admitindo que, há cerca de quatro meses, os empresários “puseram a fasquia muito alta”, embalados pelos bons resultados do ano passado, no período pós-pandemia.

A subida dos preços será um dos motivos para a existência de quartos de hotel vagos e mesas de restaurantes vazias. Segundo a AHETA, o mercado português (o principal cliente do mês de Agosto) sofreu uma quebra de 7,4%.

À noite, as ruas dos bares de Albufeira continuam apinhadas de jovens. Mas durante o dia, adianta Desidério Silva, é “claro e notório” a quebra de movimento. Ao nível da restauração, sublinha, “as boas casas, com nome feito, continuam a trabalhar muito bem, mas isso são meia dúzia”. À maioria dos estabelecimentos falta clientela.

Embora o Algarve continue a ser procurado como “destino de qualidade”, o responsável pela promoção de Albufeira considera ser necessário “repensar a estratégia e posicionamento face aos destinos concorrentes, nomeadamente Espanha, Marrocos e Tunísia”.

O presidente da AHETA, Hélder Martins, também acha que o que fez desequilibrar a balança dos mercados está relacionado com a falta de capacidade financeira: “Foram os portugueses que perderam poder de compra”. Só que aponta como principal causa a quebra de rendimentos da classe média e média/baixa, por força do custo dos empréstimos bancários da habitação.

“O preço subiu no restaurante e no alojamento”, diz Desidério Silva. E a redução do valor do IVA não se reflectiu no preço ao consumidor. O resultado, sublinha Hélder Martins, é haver “cada vez mais clientes a levarem sacos de comida para os quartos”.

Menos alemães, mais irlandeses

A maior descida percentual de turistas, logo a seguir aos portugueses, verificou-se no mercado alemão, que caiu 3,3%. “Não é novidade”, refere a mesma fonte, lembrando que essa descida já era uma tendência nos últimos anos. Em contrapartida, enfatiza, o mercado irlandês cresceu 5,4%.

A evolução dos preços não terá sido acompanhada pela qualidade do serviço prestado, sobretudo na área da restauração e bebidas. E a falta de trabalhadores sazonais tem sido um problema constante para os empresários. Já os sindicatos têm vindo a atirar as culpas para os patrões.

“Mão-de-obra especializada precisa-se”, diz Hélder Martins, salientando que os empresários, atempadamente, iniciaram o processo de recrutamento em Fevereiro, “oferecendo salários acima das tabelas”.

Sobre o desvio de turistas do Algarve para o sul de Espanha, desvaloriza-o e considera não ser nada de estranho. “Desde sempre, cerca de 10% dos passageiros do aeroporto de Faro atravessam a fronteira”, comenta. A zona mais procurada situa-se entre Ayamonte e Huelva, onde cada vez mais portugueses passam férias. “Nós também temos turistas que vêm de Sevilha. O movimento é global”, afirma o presidente da AHETA.

Porém, não será por acaso que a zona fronteiriça da praia de Monte Gordo (Vila Real de Stº António foi a mais castigada pelo mercado nacional. Sofreu uma quebra de 10,7% em relação a 2019 (ano de referência, por ter sido o melhor). Do lado do barlavento, a zona de Lagos/ Sagres vem logo a seguir, com menos 4,9 % de turistas.

Desidério Silva, da Agência de Promoção de Albufeira, numa perspectiva promocional do mercado interno alargado, defende uma maior aposta no mercado espanhol. “Tem potencialidades, que o no meu entender o Algarve não está a saber aproveitar”, afirma. Logo no início de Julho, os espanhóis fizeram campanhas de redução de 30% nos hotéis.

“Sempre se fizeram promoções. Cada empresa sabe como gerir o seu negócio”, desvaloriza o presidente da AHETA, salientando haver “unidades hoteleiras que não baixaram os preços e estão cheias” A taxa de ocupação por quarto no mês passado foi de 82,3%, 1,1 pontos percentuais abaixo do verificado em 2019 e 4,2 pontos percentuais abaixo do mesmo período, em 2022.

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