Na Zambujeira, em segurança, a ver o fumo da praia

Com as chamas a poucos quilómetros, uma imensa área de São Teotónio a Odeceixe, na Zambujeira, apesar do “pavor”, do fumo e das cinzas, a vida segue na praia e na esplanada. Um dia “surreal” de praia.

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Nesta segunda-feira à tarde na Zambujeira Luís J. Santos
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Na praia da Zambujeira à tarde havia centenas de banhistas, muitos jovens para o festival Sudoeste Luís J. Santos
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Céu de fogo, mas o jogo continua (segunda-feira à tarde na Zambujeira) Luís J. Santos
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Em estrada de acesso à Zambujeira (segunda-feira de manhã na Zambujeira) Luís J. Santos
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Em estrada de acesso à Zambujeira (segunda-feira de manhã na Zambujeira) Luís J. Santos
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A manhã trouxe um “céu apocalíptico”, “aterrorizador”, como me dizia uma jovem festivaleira que aguarda o início do Festival Sudoeste, em recinto a meia dúzia de quilómetros da minha aldeia, a costeira Zambujeira, e de São Teotónio, a sede da freguesia onde​ deflagrou no sábado um devastador e gigantesco incêndio. Sente-se o cheiro do fumo no ar e ao longo do dia uma omnipresente coluna de fumo prolongava-se em barreira conforme os ventos. Sentem-se receios, mas também “segurança” na aldeia, enquanto se teme por familiares e amigos nas vizinhanças.

O fogo, que continuava ser combatido por​ mais de 800 bombeiros, uma dezena de aeronaves e que avançou para a ciclicamente ardida serra de Monchique e lambia a vila de São Teotónio e Odeceixe, assusta todos os que vêem a muitos quilómetros os céus vermelhos e as colunas de fumo, os aviões e helicópteros, e já levou a evacuar o parque de campismo de São Miguel, área onde​ tudo começou, quase duas dezenas de pequenas localidades e lugares, casas e turismos rurais.

Mas na praia da Zambujeira a vida segue quase normal, apesar do “pavor da situação”, como diz Hugo Alexandre, do restaurante Martinho, no largo da aldeia, e do “apagão” de umas quatro horas sem electricidade, que levou nesta segunda-feira alguns restaurantes e lojas a fechar, outros a funcionar a meio gás, a intermitências de rede e Internet, corte do Multibanco e paragem de maquinaria.

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Vista da praia da Zambujeira (na segunda-feira) Luís J. Santos

Entre os céus com fumo, rasgados a laranjas e vermelhos de fogo, chegava-se ao muro e, pela praia central, centenas de banhistas aproveitavam os 35ºC de um dia de Verão que seria quase normal não fosse o cenário surreal. Enquanto saltitam notícias de que o fogo se aproxima de aldeias e as vias de acesso se tornam caóticas e controladas pelos agentes, pelo areal espalham-se banhistas, famílias, centenas de jovens que estão à espera do festival, a jogar vólei e futebol, em grupos de dezenas. “Somos 27!”, diz-me um grupo de Santarém com uma média etária de 16, 17 anos. Entre mergulhos no mar, “sem medos”, diz um, “com receio”, diz outra, que “o céu é assustador”.

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O festival Sudoeste chama milhares e organização e Protecção Civil garantem segurança do recinto Luis J. Santos

Mas a vida segue igual, basta aguardarem o autocarro que os levará ao final do dia ao recinto do festival, sendo que tanto a organização como o Serviço Municipal de Protecção Civil já confirmaram que “não há qualquer risco para a realização do festival”, porque “o recinto e a zona de campismo não se encontram na linha de evolução do fogo”. “Vai correr tudo bem”, diz Ana, outra jovem festivaleira. Já Rita Brancas, nadadora-salvadora de pés na água e olhos nos banhistas, confirma que os visitantes foram enchendo a praia ao longo do dia, com algumas perguntas sobre o fumo mas sem grandes medos por estarem na praia, “mais preocupados com os acessos”. Sentado na areia com os amigos, o indiano Sourev, com barbearia na aldeia, manifesta o seu “receio”, mas não pela Zambujeira, que acha segura, lamenta é “muito pelo ambiente de Portugal por haver tantos fogos”. Ao seu lado, um companheiro que trabalha nas estufas mostra-me fotos do fogo que parece aproximar-se destas agriculturas intensivas. Mas “as estufas não ardem”, garante-se, porque têm “muito espaço vazio à volta”. Fica a dúvida.

À saída da praia, Pedro Esteves e a família, de Coruche, preparam-se para dar por finalizado o dia de praia na sua semana de férias. “A manhã estava esquisita”, diz, por causa do tal céu “apocalíptico”, “mas à tarde compôs-se”, já que quase parecia uma normal nuvem cinzenta a ameaçar tempestade. Vão-se já embora “porque começaram a cair cinzas”, como uma pequena chuva de carvões por todo o lado, na areia, na água. No bar da praia, a Cabanita de Graça Silva, vai-se limpando o espaço daquele negro, num dia “surreal” de Agosto mas que ia tendo a “normalidade” possível, só marcada pelas dúvidas e algumas partidas dos turistas.

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No largo da Zambujeira, com um avião de combate aos fogos a passar Luís J. Santos

Os mesmos sentimentos, com o toque do “caos” do apagão, são sentidos na esplanada ícone do largo, o Café Rita, onde Nuno Rita sublinha a “sensação de segurança” sentida na Zambujeira, ao contrário de muitas aldeias vizinhas, com a geografia costeira, áreas vazias e quase deserto, pouca arborização (e muitas estufas). Na loja de souvenirs do largo, onde se sente o cheiro a fumo no espaço fechado, Irina comenta que muitos turistas ficavam mais apreensivos com a “falta de Multibanco ou tabaco” neste “dia de loucos”, como refere Pedro Léria, do restaurante Brisa Mar segundos depois de a electricidade voltar e tudo parecer quase normal. A segurança sentida também é comentada por Hugo Alexandre, do restaurante Martinho, que despertou a ver “labaredas do inferno” desde o seu monte às portas da Zambujeira. Hugo teme que o fogo e a sua mediatização sejam mais um golpe no turismo local, ressentido do impacto de notícias sobre os fenómenos de estufas e migrantes e da falta de alojamentos.

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Na praia da Zambujeira, segunda à tarde luís j. santos

Mas na praia, enquanto o sol cai, o fumo e as cinzas se espalham, ainda se mergulha, brinca e joga. Pela avenida e pelo largo, passeiam crianças e cães, tiram-se fotos, brinda-se com imperiais e rosés, vendem-se souvenirs e artesanatos, toca um blues no espaço de um artista do spray. Por esta altura, o fogo, mais além, cria uma área de operações na ordem dos 6700 hectares, confirmará a Protecção Civil do Alentejo, com frentes activas direcção noroeste e outra sul-sudoeste rumo Aljezur e Monchique, anúncio de reforço de meios de combate. “Situação crítica e complexa”, diz o presidente da Câmara de Odemira, Helder Guerreiro.​ Evacuam-se lugares, firmam-se centros de acolhimento e prevenção, há acessos cortados. Chegam-me aos ouvidos sinais, outros sítios onde o fogo rondará, amigos e conhecidos com terrenos ou casas em perigo.

Chegam mais notícias aos clientes da esplanada do Café Rita. “Há fumo no monte?”, pergunta uma cliente ao telemóvel. Está hospedada perto de São Teotónio e ela, pelo menos, sente-se “ansiosa”. Chegam notícias de que o fogo assusta o Brejão, logo ali com o parque de campismo e a praia do Carvalhal perto.

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A situação deverá melhorar já esta terça-feira luís j. santos

E aqui também este jornalista treme com as hipóteses, é por ali que está boa parte da família, os montes dos primos. Onde está o meu monte. Caem cinzas na minha mesa da esplanada.

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