JMJ na Coreia do Sul: “Vou ter a oportunidade de mostrar um pouco da cultura do meu país”

Num país com 50 milhões de pessoas, seis milhões serão católicas — e têm especial devoção a Nossa Senhora de Fátima. Com a próxima JMJ em Seul, o clero sul-coreano espera ganhar mais fiéis.

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Seoyun Lim vai arrumando mochilas e colchões para sair do Parque Tejo e ainda não se habitou a tantas interpelações. Muitos parabéns!, dizem-lhe, em várias línguas, peregrinos de outras nacionalidades que por ali passam. Há uma bandeira da Coreia do Sul que denuncia os próximos anfitriões da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2027.

Como é tradição, o anúncio foi feito pelo Papa no final da missa do envio, no Parque Tejo, neste domingo. A próxima JMJ terá lugar na Ásia, será na Coreia do Sul, em Seul. E assim, em 2027, desde a fronteira ocidental da Europa passa para o extremo oriente, um bonito símbolo da universalidade da Igreja, o sonho de unidade de que vocês são testemunho, anunciou, enquanto subiam ao altar-palco um grupo de jovens sul-coreanos com as bandeiras do seu país. Na plateia, uma centena de rapazes e raparigas acenavam efusivamente com as suas bandeiras. Gritavam Coreia, Coreia!

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Seoyun é um dos cerca de mil jovens deste país que estiveram presentes nesta JMJ, numa primeira experiência a contactar com tantas pessoas ao mesmo tempo. Isso, confidencia, é o que de melhor guardará de toda esta experiência. E que espera poder repetir daqui a quatro anos, quando a capital sul-coreana for o palco desta festa que mobiliza milhares de jovens. Desta vez, será ele mesmo um dos anfitriões. “Estou muito feliz por ter a oportunidade de dar a conhecer o meu país, de mostrar um pouco da sua cultura”, diz o jovem de 20 anos.

Durante estes dias, tinham sido várias as apostas dos jovens peregrinos quanto ao próximo local da JMJ. Havia quem já apostasse na Coreia do Sul ou quem falasse em Buenos Aires, na Argentina, onde o Papa Francisco foi cardeal, e por onde também já passou uma JMJ, em 1987.

Mas a escolha recaiu na Ásia, num país a 10.500 quilómetros de Lisboa, com um pouco mais de 50 milhões de habitantes. Destes, perto de seis milhões serão católicos. Talvez em 2024 sejam mais, se se confirmarem as perspectivas do voluntário sul-coreano Joohyun Lee, que aponta um crescimento da Igreja Católica neste país asiático, assim como em todo o continente.

Na Coreia do Sul, a Igreja Católica é muito jovem, mas cada vez mais jovens sul-coreanos partilham a fé católica; por isso, é muito importante para nós receber [a JMJ], disse aos jornalistas no centro de imprensa do Parque Tejo, em Lisboa, depois de receber um aplauso. Há muito tempo, recebíamos missionários da Europa e do Norte da América, mas agora nós próprios enviamos missionários coreanos para o mundo e muitos jovens vieram a Portugal para participar, sublinhou.

Com a preparação e a realização da próxima JMJ, também o arcebispo de Seul, Peter Chung Soon-taek, espera que o número de católicos no país possa crescer. Será o segundo evento internacional dedicado aos jovens na Ásia, depois de Manila, nas Filipinas, em 1995, o único país católico na região, reconhece o arcebispo.

Faltam ainda quatro anos, mas Peter Chung Soon-taek está confiante quanto aos futuros números de peregrinos, uma vez que há grande curiosidade internacional sobre a música e a cultura sul-coreana, faz notar. Mas não espera uma enchente semelhante à de Lisboa. Se os valores chegarem aos 300 mil, o arcebispo dar-se -á por satisfeito. Não prevemos milhões de jovens, admitiu.

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Na JMJ em solo nacional marcaram presença cerca de mil jovens sul coreanos

Devoção a Nossa Senhora de Fátima

A JMJ não é só um evento católico, mas inter-religioso que convida todos os jovens de boa vontade a juntar-se. É um acontecimento que beneficia todos, que promove a coesão social e prosperidade económica, continuou o arcebispo de Seul, que conta com a experiência da organização de Lisboa como exemplo, mas também com o apoio da Santa Sé, do Governo do seu país e das autoridades locais.

Com a pandemia, a Igreja sul-coreana perdeu fiéis, revela o religioso pertencente à Ordem dos Carmelitas Descalços, observando que depois das jornadas em Cracóvia, em 2016, e no Panamá, em 2019, os jovens estão cada vez mais animados com a presença de Deus nas suas vidas”. Por isso, espera que com a organização da JMJ no seu país regressem à prática religiosa.

Entre os católicos sul-coreanos, há especial devoção a Nossa Senhora de Fátima. O dia 15 de Agosto, a Festa da Assunção, é também o dia em que a República da Coreia foi libertada da colonização japonesa, [em 1945], contava na semana passada Jiyoon Kim, uma jovem sul-coreana de 27 anos, que encontrámos em Fátima.

Segundo o padre Peter Yang, o culto católico chegou à Coreia do Sul há 230 anos, não pela mão dos evangelizadores, mas dos leigos. O que o cristianismo defende, como a igualdade entre as pessoas, o chamarem-se “irmãos” entre eles, fez com que os cristãos fossem perseguidos pelas autoridades, tendo esta Igreja muitos mártires, reconhecidos pela Santa Sé. “Esperamos que os conheçam”, convida o sacerdote, fazendo referência à próxima JMJ, que decorrerá no seu país.

O jovem Seoyun Lim comenta que gostava de ajudar na preparação da jornada. Imagina, por exemplo, que apresentem algumas performances musicais e de dança tradicionais do país, uma missa final com muita gente, como a que acaba de viver no Parque Tejo.

Joohyun Lee faz questão de marcar presença como voluntário desde a JMJ de Cracóvia, na Polónia, em 2016. Deixará agora Portugal com a satisfação de saber que, para a próxima, será ele a receber milhares de jovens no seu país. “Agora convido todos os jovens do mundo a irem a Seul. Vemo-nos lá!”

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