Em Ílhavo, não vieram só mais cinco. Vieram 50 e vão cantar Zeca Afonso

Membros da comunidade, com ou sem experiência de canto, responderam ao desafio do 23 Milhas. Este sábado, sobem ao palco para interpretar vários temas de José Afonso.

NEG - 2 AGOSTO 2023 - ensaio do coro da madrugada que reintrepreta cancoes do zeca afonsa - no centro cultural e recreativo de ilhavo
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Ensaio do Coro da Madrugada, que reintrepreta canções de Zeca Afonso Nelson Garrido
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Ensaio do Coro da Madrugada, que reintrepreta canções de Zeca Afonso Nelson Garrido
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A cada ensaio, um misto de emoções. Por um lado, o prazer de estar a fazer algo de que tanto gosta – cantar. Por outro, o reviver desses tempos idos em que teve o privilégio de privar com Zeca Afonso. “Ele era um contador de histórias. Bem-humorado”, recorda Fátima Madaíl, a propósito do homem que lhe foi apresentado por uns amigos em comum. Apesar de serem ambos naturais de Aveiro, conheceram-se em Lisboa, nessa época da resistência democrática. Já lá vão cerca de 50 anos, mas as canções de José Afonso (1929-1987) permanecem e, ao final da tarde deste sábado, irão ouvir-se ainda mais alto, com 50 vozes a cantarem em uníssono. Fátima Madaíl é uma delas.

Minutos antes de entrar para o ensaio, esta médica, de 69 anos, mostrava-se convicta de que, se fosse vivo, Zeca Afonso iria ficar muito orgulhoso dos músicos e cantores que este sábado irão subir ao palco do Cais Criativo da Costa Nova. Apresentam-se como o Coro da Madrugada e têm a particularidade de reunir membros da comunidade local, com ou sem experiência de canto. O repto foi lançado a 25 de Abril deste ano pelo 23 Milhas, projecto cultural do município de Ílhavo, e não tardou a ganhar interessados.

Vieram mais de 50, com idades que vão dos 6 aos 81 anos, e têm estado a ensaiar desde Maio sob a direcção artística do pianista Pedro Almeida, que criou novos arranjos, a maestrina Aoife Hiney, que fez a direcção coral, e o professor de Canto Luís Freitas, que coordena a preparação vocal.

“São nove temas, alguns mais conhecidos, outros menos, mas com novos arranjos”, revela Pedro Almeida, a propósito do repertório que será interpretado pelo Coro da Madrugada. “Quisemos criar uma linha temporal e não tocar só temas de uma época, mostrar mais facetas do Zeca Afonso”, acrescenta, fazendo notar que o autor de Grândola, Vila Morena não se ficou pelas letras de resistência e de luta contra o fascismo.

Ainda que já contem com alguma experiência em projectos comunitários – Pedro Almeida e Aoife Hiney fizeram parte d’ As Sete Vidas da Argila, de Jorge Louraço Figueira –, os coordenadores do Coro da Madrugada não escondem que é sempre um “grande desafio” juntar pessoas com e sem experiência musical em palco. “É desafiante falar de técnica, transmitir de forma descodificada o que eles podem melhorar, quando estão a cantar”, admite Luís Freitas. Contudo, não deixa de frisar que “o canto coral é das formas mais acessíveis de fazer música”.

Benditos os que vierem por bem

Naquele final de tarde em que se assinalavam exactamente 94 anos do nascimento de Zeca Afonso (2 de Agosto de 1929), o grupo cumpria um dos últimos ensaios antes da grande estreia. Afinava-se a interpretação vocal, sem descurar outros pormenores, como a expressão facial e o vestuário a apresentar em palco. “O chão não bate palmas. Quem bate é o público”, alertava a maestrina Aoife Hiney, sensibilizando os elementos do Coro da Madrugada para a importância de olharem para a assistência.

Este sábado, a sala vai estar cheia – os bilhetes já estão esgotados. Entre a assistência estarão várias familiares e amigos de Susana Senos, professora de Inglês e Alemão, que está a cumprir a sua primeira experiência num coro. Até aqui, não tinha ido além das actuações “em casa, para os amigos” e no apoio ao “coro das crianças, na paróquia de São Salvador”. Aos 47 anos, e impulsionada pelo marido, que também gosta de cantar e frequentou o conservatório, lança-se numa nova aventura.

A cada ensaio, ainda mais admiração pela música de Zeca Afonso. “Descobri músicas que não conhecia e estou particularmente apaixonada por uma delas, chama-se Benditos”, testemunhou Susana Senos, antes de confessar que começava a sentir “o peso da responsabilidade”. “Para com o 23 Milhas, que investiu neste projecto, e também para com os profissionais que estão a trabalhar connosco. E ainda para com os restantes elementos do coro e para com todos aqueles que nos vêm ver”, declarava. Para quem não conseguiu bilhete para a estreia resta a esperança de que o espectáculo venha a ter outras apresentações.

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