Via-sacra da JMJ vai reflectir as inquietações dos jovens e as fragilidades da Igreja

Não serão esquecidos os abusos sexuais, promete o padre João Goulão, que aponta essa como uma das “feridas” da Igreja. O Papa Francisco está presente como peregrino para assistir à cerimónia.

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A multidão na Colina do Encontro, na quinta-feira MATILDE FIESCHI
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Depois da cerimónia de acolhimento ter levado 500 mil jovens ao Parque Eduardo VII, nesta sexta-feira será a via-sacra a encher a Colina do Encontro, ao quarto dia de Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Junto do Papa Francisco, os jovens são convidados a meditar sobre a fragilidade e vulnerabilidade não só da sociedade, como da própria Igreja, explica o padre jesuíta responsável pelo encontro, João Goulão. “Vamos rezar e tentar iluminar a partir da fé”, detalha, assegurando que temas como os abusos sexuais e a guerra estarão explícitos.

Para serem decididos os temas de reflexão a explorar nas 14 estações da via-sacra ─ uma cerimónia que percorre “as últimas horas de vida de Jesus, da condenação à morte até à sepultura” ─ a equipa da JMJ fez uma auscultação mundial a 20 jovens dos cinco continentes. Foram eles a escolher quais consideram ser as “fragilidades da juventude”, não só as comuns “preocupações europeias”, garante o padre.

E João Goulão detalha: “A saúde mental que tanto preocupa e dilacera a juventude, o drama que vivemos na Igreja actualmente, a solidão, guerra, digitalização, precariedade laboral, luta pelo futuro, o desemprego.” Insiste que “não ficou nada de fora das inquietações levantadas”, ao longo de três anos de trabalho. A cerimónia será também uma metáfora para como, “a partir da ferida e da fragilidade, se pode abrir uma janela de recomeço”.

Em cada uma das 14 estações ou “fragilidades” acontecerá “um diálogo com Jesus em que a ideia de recomeço se vai tornando mais visível”. O percurso de 90 minutos será feito na vertical, como que uma subida, através dos blocos disformes com que o palco está construído, “uma experiência estética” coreografada pela encenadora Matilde Torcato. Cada estação tem painéis pintados pelo artista Nuno Branco, num traço quase abstracto que também evoca a confusão.

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O palco MATILDE FIESCHI

É uma analogia para a própria vida, reflecte o jesuíta: “Estamos habituados a que as coisas se resolvam com tabelas de Excel. Não funcionamos assim, precisamos do processo.” A via-sacra, assevera, permite “apresentar-nos frágeis e vulneráveis” e partir daí para encontrar a fé que ilumina a vida, lado a lado com o Papa Francisco.

O líder da Igreja estará novamente na Colina do Encontro e vai acompanhar a cerimónia como qualquer peregrino, a partir do centro do palco. Francisco também terá inspirado a via-sacra com os temas do seu pontificado, nomeadamente o medo. “É sempre o maior factor de bloqueio, o que nos impede de nos assumirmos vulneráveis. O Papa tem sido implacável em rachar o medo ao meio com gestos de força. É uma aprendizagem importante, olharmos para o fracasso de outra maneira”, analisa João Goulão.

A cerimónia está agendada para as 18h e, se o Papa Francisco, repetir o gesto de ontem, chegará cedo no papamóvel para percorrer o caminho entre a Nunciatura Apostólica e o Parque Eduardo VII, onde cumprimentou os milhares de jovens que o aguardavam para o primeiro encontro. Na Avenida da Liberdade, ficam os fiéis que não se inscreveram como peregrinos.

Antes da via-sacra, Francisco ainda almoça com jovens da JMJ na Nunciatura Apostólica, a embaixada do Vaticano em Lisboa. No sábado, desloca-se a Fátima, para rezar com os jovens doentes na Capelinha das Aparições, no Santuário. Depois regressa a Lisboa para se encontrar com os membros da Companhia de Jesus, a que também pertence. Por fim, vai presidir a vigília com os jovens, no Campo da Graça, como é chamado por estes dias o Parque Tejo.

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