Trump declarou-se “inocente” das quatro acusações

O ex-Presidente ouviu as acusações da boca da juíza e as penas a que está sujeito se for condenado e foi ele que declarou com a sua voz que não é culpado de nada do que o acusam.

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Donald Trump, esta quinta-feira, a caminho do tribunal em Washington Jonathan Ernst/REUTERS
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O ex-Presidente dos Estados Unidos Donald Trump compareceu, esta quinta-feira, num tribunal federal em Washington para ser acusado de liderar uma conspiração baseada em mentiras para alterar os resultados das eleições presidenciais de Novembro de 2020, o que culminou na invasão do Capitólio, símbolo da democracia americana.

Segundo os jornalistas que estão dentro da sala do tribunal em Washington, onde não é permitido entrar com câmaras, a todas as acusações, Trump declarou-se "inocente", olhando directamente para a juíza e sem recorrer sequer ao microfone. A juíza, Moxila A. Upadhyaya, proibiu então o ex-chefe de Estado de qualquer contacto com os seis co-conspiradores identificados no processo. E marcou a próxima audiência para o dia 28 de Agosto.

Trump entrou antes das 16 horas (21h em Portugal continental) no edifício do tribunal, depois de ter viajado desde o seu campo de golfe em Nova Jérsia até ao aeroporto Reagan, na capital dos EUA, para ser formalmente acusado de conspiração para defraudar os Estados Unidos, conspiração para obstruir um procedimento oficial, obstrução ou tentativa de obstrução de um procedimento oficial e conspiração contra direitos.

Na leitura da acusação, a juíza indicou quais são as penas a que estará sujeito se for condenado: a conspiração para defraudar os Estados Unidos tem uma pena máxima de cinco anos; a moldura penal da conspiração para obstruir um procedimento oficial e a obstrução ou tentativa de obstrução de um procedimento oficial é de 20 anos de cadeia no máximo para cada; finalmente, a pena para a conspiração contra direitos pode chegar aos dez anos. Somadas as penas máximas, dão 55 anos de prisão.

Antes de comparecer perante a juíza, o ex-Presidente utilizou a rede social Truth Social para escrever em letras maiúsculas que estava a ir para Washington “para ser preso por ter desafiado a eleição roubada, manipulada & corrupta”. Numa mensagem destinada a galvanizar os seus apoiantes, insistindo na tese da manipulação eleitoral, Trump acrescentou: “É uma grande honra estar a ser preso por si”. Terminando com a sua frase habitual de campanha desde 2016, “make america great again”, finalizando com três pontos de exclamação.

Neste seu regresso a Washington, Trump esteve longe da entrada triunfal na Casa Branca em que ainda acredita, apesar de todos os processos judiciais, mas para ouvir as acusações em mais um dos muitos processos de que tem sido nos últimos tempos, criminais e cíveis. E entrando de automóvel pela garagem e não a pé para se mostrar aos seus apoiantes e se mostrar na televisão.

Já no aeroporto, depois de ter comparecido em tribunal, Trump repetiu a narrativa. "Isto é perseguição política. Isto não devia acontecer na América", disse. "Se não podes vencê-lo, processa-lo judicialmente", ironizou, aludindo a sondagens que lhe atribuem a liderança no campo republicano e, segundo o próprio, que o colocam à frente do Presidente democrata Joe Biden, embora os inquéritos mais recentes dêem vantagem ao actual chefe de Estado num cenário de confronto directo.

Foi a terceira vez em quatro meses que se apresentou perante um juiz acusado de crimes, desta vez, no mesmo tribunal que tem julgado uma série dos seus apoiantes pela invasão do Capitólio no dia 6 de Janeiro de 2021. E num tribunal federal que fica a curta distância do local onde o ex-Presidente disse aos seus fanáticos seguidores para “lutarem com todas as forças” para evitar que o afastassem do poder.

E, lembra o New York Times, uma quarta acusação num processo criminal poderá chegar até ao final do mês. O procurador distrital de Fulton County, Georgia, também está a investigar as acções do ex-Presidente para alterar o resultado da eleição que perdeu em 2020.

Muito poucas vezes (para não dizer nenhuma) a solidez da democracia dos EUA e a separação entre o poder político e o poder judicial passaram por um teste desta dimensão. Ter um ex-Presidente no banco dos réus por acusações criminais é um momento definidor. Mais ainda porque Trump é o favorito para ser novamente candidato à presidência pelo Partido Republicano em 2024 e, mesmo condenado, poderá continuar a sê-lo.

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