Pavia, uma vila-poema no Alentejo

Terra de poetas e pintores, a vila de Pavia, no concelho de Mora, é uma ode ao Alentejo. Casario branco de risca amarela, com uma anta-capela e uma igreja-fortaleza, Pavia é vila de muitas histórias.

Ruas de Pavia, vila e freguesia portuguesa do munic’pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023.
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Ruas de Pavia, vila e freguesia do município de Mora, Alentejo Mário Cruz / Público
O fot—grafo, Bruno RŽquillart, acompanhado pela presidente da junta de freguesia de Pavia, Cust—dia Maria Casanova, junto a magens que fazem parte da exposi‹o que se encontra nas ruas de Pavia, vila e freguesia portuguesa do municÕpio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023. O autor vive na vila e fotografou o seu quotidiano durante duas dŽcadas.
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Bruno Requillart e Custódia Casanova junto às chaminés tradicionais e "monumentais" onde estão expostas imagens do fotógrafo Mário Cruz / Público
A presidente da junta de freguesia de Pavia, Cust—dia Maria Casanova, conversa com moradores da vila e freguesia portuguesa do munic’pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023.
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Custódia Casanova regressou a Pavia em 2006 e é presidente da junta de freguesia desde 2021 Mário Cruz / Público
Casa onde residiu o mŽdico e escritor, Fernando Namora, em Pavia, vila e freguesia portuguesa do munic’pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023.
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Casa onde residiu o médico e escritor, Fernando Namora Mário Cruz / Público
Ruas de Pavia, vila e freguesia portuguesa do munic’pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023.
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Pavia recebeu foral de D. Dinis em 1287 e foi sede de concelho até 1838 Mário Cruz / Público
Ruas de Pavia, vila e freguesia portuguesa do munic’pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023.
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A maioria do casario tem ainda as paredes caiadas de branco com risca amarela Mário Cruz / Público
Uma das imagens do fot—grafo, Bruno R÷?quillart, da exposiâ€po que se encontra nas ruas de Pavia, vila e freguesia portuguesa do municv•pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023. O autor vive na vila e fotografou o seu quotidiano durante duas d÷?cadas.
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A exposição "Pavia, meu amor", do fotógrafo francês Bruno Requillart, está em exibição nas ruas da vila Mário Cruz / Público
Uma das imagens do fot—grafo, Bruno RŽquillart, da exposi‹o que se encontra nas ruas de Pavia, vila e freguesia portuguesa do municÕpio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023. O autor vive na vila e fotografou o seu quotidiano durante duas dŽcadas.
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A exposição "Pavia, meu amor", do fotógrafo francês Bruno Requillart, está em exibição nas ruas da vila Mário Cruz / Público
Uma das imagens do fot—grafo, Bruno RŽquillart, da exposi‹o que se encontra nas ruas de Pavia, vila e freguesia portuguesa do municÕpio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023. O autor vive na vila e fotografou o seu quotidiano durante duas dŽcadas.
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A exposição "Pavia, meu amor", do fotógrafo francês Bruno Requillart, está em exibição nas ruas da vila Mário Cruz / Público
Uma das imagens do fot—grafo, Bruno RŽquillart, da exposi‹o que se encontra nas ruas de Pavia, vila e freguesia portuguesa do municÕpio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023. O autor vive na vila e fotografou o seu quotidiano durante duas dŽcadas.
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A exposição "Pavia, meu amor", do fotógrafo francês Bruno Requillart, está em exibição nas ruas da vila Mário Cruz / Público
Igreja Matriz de S‹o Paulo em Pavia, vila e freguesia portuguesa do munic’pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023.
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Igreja Matriz de São Paulo Mário Cruz / Público
Igreja Matriz de S‹o Paulo em Pavia, vila e freguesia portuguesa do munic’pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023.
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Igreja Matriz de São Paulo Mário Cruz / Público
Igreja Matriz de S‹o Paulo em Pavia, vila e freguesia portuguesa do munic’pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023.
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Igreja Matriz de São Paulo Mário Cruz / Público
Anta-Capela de S‹o Dinis em Pavia, vila e freguesia portuguesa do munic’pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023.
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Anta-Capela de São Dinis Mário Cruz / Público
Anta-Capela de S‹o Dinis em Pavia, vila e freguesia portuguesa do munic’pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023.
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Anta-Capela de São Dinis Mário Cruz / Público
Anta-Capela de S‹o Dinis em Pavia, vila e freguesia portuguesa do munic’pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023.
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Anta-Capela de São Dinis Mário Cruz / Público
Anta-Capela de S‹o Dinis em Pavia, vila e freguesia portuguesa do munic’pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023.
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Anta-Capela de São Dinis Mário Cruz / Público
Casa-Museu Manuel Ribeiro de Pavia, vila e freguesia portuguesa do munic’pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023.
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Casa-Museu Manuel Ribeiro de Pavia Mário Cruz / Público
Casa-Museu Manuel Ribeiro de Pavia, vila e freguesia portuguesa do munic’pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023.
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Casa-Museu Manuel Ribeiro de Pavia Mário Cruz / Público
Casa-Museu Manuel Ribeiro de Pavia, vila e freguesia portuguesa do munic’pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023.
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Casa-Museu Manuel Ribeiro de Pavia Mário Cruz / Público
Casa-Museu Manuel Ribeiro de Pavia, vila e freguesia portuguesa do munic’pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023.
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Casa-Museu Manuel Ribeiro de Pavia Mário Cruz / Público
"Comadres e compadres" usados no "Enterro do Entrudo", uma tradi‹o de Pavia, vila e freguesia portuguesa do munic’pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023.
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"Comadres e compadres" usados no "Enterro do Entrudo", uma tradição de Pavia Mário Cruz / Público
Olival em Pavia, vila e freguesia portuguesa do munic’pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023.
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Os campos em redor da vila estão cobertos de oliveiras, muitas delas milenares Mário Cruz / Público
Olival em Pavia, vila e freguesia portuguesa do munic’pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023.
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Com extenso olival, sobretudo de azeitona galega, Pavia chegou a ter quatro lagares de azeite Mário Cruz / Público
Miradouro de Pavia, vila e freguesia portuguesa do munic’pio de Mora, Alentejo, 25 de julho de 2023.
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Miradouro de Pavia Mário Cruz / Público
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“O livro de Fernando Namora começa assim: 'A vila é uma rua. Vem do alto dos eucaliptos pedindo licença à planície para lhe interromper o sono, atravessa uma encruzilhada de estradas de onde lhe vem o aceno do mar ou de Espanha e, bruscamente, num ímpeto de ousadia, trepa o planalto em busca de uma igreja que foi coito de mouros e abades.'”

A vila de que fala o escritor é Pavia, no concelho de Mora. E a voz que ouvimos parafrasear de memória o arranque d'O trigo e o joio é de Custódia Casanova, presidente da Junta de Freguesia desde 2021 mas, sobretudo, contadora das histórias da terra. Foi aqui que nasceu, em 1955, e ainda que a família se tenha mudado para Évora quando tinha 11 anos para que ela e os irmãos pudessem continuar os estudos, nunca esqueceu a vila onde passou muitos Verões depois, onde chorou quando aqui deixou de ter família e casa, e onde não descansou enquanto não regressou definitivamente, em 2006.

Para Custódia, Pavia continua a ser aquela rua, na verdade uma sucessão de ruas (Conselheiro Fernando de Sousa, Velha, de São Paulo) que sobem tão aprumadas que só com esmero ou conhecimento se descobre onde começa uma e termina outra. O caminho de paralelos que rasga a vila, no entanto, já não lhe parece “tão grande como quando usava um bibe branco, com folhos no peitilho e barra bordada” pela mãe, descreve no livro Pavia Meu Encanto, publicado em 2016. “Era tudo ali”, recorda agora. As tabernas, as mercearias, o “clube dos caixotes” onde se reuniam “os grandes latifundiários” da terra, ou a pensão da dona Umbelina, “realmente muito beata” como a personagem Quitéria, a que terá servido de inspiração na obra de Fernando Namora.

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Custódia Casanova bordou as janelas da sua casa em Pavia com versos para dar inspiração às quadras do São Martinho Mário Cruz / Público

O escritor e médico viveu em Pavia entre 1946 e 1951, assinala uma placa na casa onde morou na Rua Nova, entretanto em “degradação porque os herdeiros não se entendem”. Aqui exerceu medicina, aqui nasceram alguns dos Retalhos da Vida de um Médico e boa parte d'O trigo e o joio. E da janela do antigo Paço dos Condes do Redondo, “donatários da vila lá muito para trás”, entretanto pertencente à casa agrícola de Joaquim Arnaud, Namora pintou ainda o casario bucólico de Pavia, com as suas “grandes e monumentais chaminés”.

Hoje em dia, muitas já se encontram alteradas para acomodar as necessidades dos tempos modernos, mas outrora era assim a maioria das habitações da vila: um rectângulo baixo de puro branco e risca amarela, uma chaminé onde cabia uma família inteira nas noites de Inverno e uma porta para a rua. Nada mais. Lá dentro, “a sala de fora”, com “a cozinha ali logo à entrada”, e “a casa de dentro”, onde “dormiam montes de filhos juntos e pais e tudo”.

Era tudo uma escuridão muito bonita”

Passear com Custódia por Pavia é como abrir janelas sobre as memórias de uma vila histórica, que recebeu foral de D. Dinis em 1287 e foi sede de concelho até 1838. As ruas voltam a encher-se de vida e cada casa acolhe personagens de um tempo tão recente e já tão longínquo, de quando “havia muita gente” e “isto era tudo cheio de meninos e pessoas”. Na Travessa do Arco, quase conseguimos ver o mestre Jorge, “alfaiate de grande gabarito”, ainda sentado num dos bancos a ler à sombra das tardes de Verão. Ou a casa do padre, hoje um cabeleireiro, onde as mães levavam os miúdos ao sábado para verem um bocadinho de televisão. “Depois passava com uma bandeja para pormos um cruzado para ajudar a [pagar a] luz”, recorda. Ou a dona Custódia, que vivia numa casa de esquina, entre a igreja matriz e o miradouro, e ali ficava a contar histórias à criançada nas noites quentes. “Como não havia luz na rua, isto era tudo uma escuridão muito bonita”, recorda. “Via-se a Via Láctea, havia pirilampos.”

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Igreja da Misericórdia vista a partir do coreto de Pavia Mário Cruz / Público

Agora “quase não se vê ninguém”, lamenta. Concentram-se alguns homens na única esplanada, frente ao coreto. Cruzamo-nos com um casal de turistas de Barcelona no museu dedicado a Manuel Ribeiro de Pavia. E pouco mais. A escola primária “já acolheu 150 e muitas” crianças mas este ano terminaram 14, contando com o pré-escolar. Segundo os Censos de 2021, moram na freguesia pouco mais de 700 pessoas. Muitas das casas são de quem vem passar as férias ou os fins-de-semana.

Margarida Nunes foi durante dois anos uma dessas pessoas, mas há nove que se mudou definitivamente de Lisboa, onde foi fotojornalista e produtora no Centro Cultural Malaposta. Foi em Pavia que, “de repente”, encontrou “o tempo, o espaço, a maneira de as pessoas se organizarem socialmente” e o “sentido humano do próximo, do falar” que tinha vivido na sua infância no Lobito, em Angola. Lamenta, no entanto, a falta de atenção sobre o interior. “Estamos sempre aqui a lutar pela igualdade”, aponta, ao lembrar a falta de rede telefónica em algumas casas ou de Internet que permita trabalhar remotamente.

Igreja-fortaleza

A igreja matriz, devota a São Paulo, é uma das “pérolas” de Pavia, classificada como Monumento Nacional desde 1939. “Já existia em 1320”, quando D. Dinis “doa as igrejas da vila à Ordem de Avis”, mas terá sido reconstruída no século XVI e novamente “no tempo de D. Manuel”, depois de o terramoto de 1755 ter danificado a galilé, tendo sido substituída pela “aberração” da fachada actual, que “não tem nada a ver” com as laterais e os seus merlões e colunatas “muito ao estilo árabe” a lembrar uma fortaleza, aponta Custódia. Nada que tenha impedido José Saramago de a descrever como “muito bela” na sua Viagem a Portugal.

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As laterais da Igreja Matriz de São Paulo, com os seus merlões e colunatas “muito ao estilo árabe”, lembram uma fortaleza Mário Cruz / Público
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Isabel e Eugénia no interior da Igreja Matriz de São Paulo Mário Cruz / Público

É no interior da igreja que encontramos Isabel e Eugénia. Vieram molhar as plantas, sacudir o pó. No pico do Verão, o calor é tanto que o carrasco de subir e descer a rua não compensa o fresco que aqui se sente, conta Isabel. O termómetro anda quase sempre acima dos 40.º C. Ao sairmos, a olaia “velha, velha” devolve-as à infância. “Quando era criança vinha aqui à cola”, recorda Eugénia, regressada à terra há 27 anos, depois de 25 em Lisboa. “Tinha assim uns bocadinhos adentrados para fora, a gente partia, metia dentro de um frasco com água e depois era a nossa cola.” Hoje o que vemos no canteiro entre a igreja e o cemitério é sobretudo o rebento da árvore anciã, mas outrora era ver quem a trepava mais alto.

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Eugénia, regressada de Lisboa há 27 anos, aproveita sombra de uma oliveira no terreno onde dá alimento a gatos e galinhas Mário Cruz / Público

O miradouro de Pavia fica a dois passos e dali o horizonte é vasto sobre um manto de oliveiras. Pavia chegou a ter quatro lagares, mas hoje nenhum funciona. Muitas das árvores são milenares, e dezenas foram fotografadas ao longo das últimas décadas pelo fotógrafo Bruno Requillart. “Eu sou do Norte de França e a primeira vez que cheguei a Pavia foi a primeira vez que vi oliveiras tão grandes”, recorda. “Toda a minha vida tirei fotografias de árvores, mas estas são tão extraordinárias.” Algumas fazem parte da exposição patente nas ruas da vila (ver caixa), mas o plano passa por dedicar-lhes um livro inteiro, com quase uma centena de imagens.

Príncipe sem vintém

Talvez inspirado por Roberto de Pavia, Itália, que dá nome à terra, também Manuel Ribeiro, uma vez chegado a Lisboa, dá ao nome a terra que o viu nascer, Pavia, Alentejo. Desenhador compulsivo, Manuel Ribeiro de Pavia ilustrou “os livros dos grandes [escritores] do seu tempo”, incluindo Alves Redol, Fernando Namora e edições portuguesas de obras de Tolstoi e Dostoiévski. No entanto, o 'príncipe sem vintém', como o apelidaria José Gomes Ferreira, acabaria por morrer na miséria, no dia em que fazia 50 anos, em 1957.

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Turistas visitam a anta-capela de São Dinis Mário Cruz / Público
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Casa-Museu Manuel Ribeiro de Pavia Mário Cruz / Público

Na casa-museu, inaugurada em 1984 e com nova exposição e design desde 2021, encontramos algumas obras, livros que ilustrou e pormenores da biografia, nomeadamente os muitos desenhos dedicados ao Alentejo e suas gentes. Ao lado, outro dos ex-líbris de Pavia, classificado como Monumento Nacional desde 1910: uma anta megalítica de generosas dimensões, que o homem decidiu transformar em capela, dedicada a São Dinis, “pensa-se que no final do século XVI”, com altar lá dentro e sino e cruz no topo.

Despedimo-nos de Pavia no largo que é a “sala de visitas” da vila, como apelida Custódia, com a junta de freguesia, capela, mercearia, taberna e, ao centro, um grande coreto, onde estacionava a Biblioteca Itinerante da Gulbenkian e, anos mais tarde, dona Margarida doaria versos do marido, o poeta da terra Manuel Luís Caeiro, tirados de um saquinho como rifas de papel. No primeiro fim-de-semana de Setembro, o largo encher-se-á de música e danças nas festas de Pavia e, pela noite de São Martinho, acender-se-á a fogueira, com castanhas, água-pé e porco assado, “distribuídos gratuitamente a toda a gente que venha”. É então que, “pela calada da noite”, aqueles que tiverem maior inspiração pegarão num pedaço de carvão para seguir pelas casas escrevendo quadras dedicadas a “quem vive lá dentro”. Muitas rimas ainda se lêem sobre as paredes alvas ao longo do passeio. Pavia é um poema.

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